quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Beethoven - Sinfonia nº 3 - Segunda Parte

A primeira parte do texto sobre esta Sinfonia: Sinfonia Heróica (Primeira Parte)

O Segundo Andamento (Marcia funebre: Adagio assai) como o nome indica é uma marcha fúnebre. Trata-se de uma composição que é das mais pungentes de toda a história da música. Alterna entre a mais profunda expressão da dor com momentos de luz e esperança. Grove diz no seu livro "Beethoven and his Nine Symphonies" que em certos momentos a música parece-nos dizer "se formos fortes iremos conseguir vencer a dor para depois cair numa tristeza ainda mais profunda". É sem duvida uma obra prima de uma perfeição absoluta e de expressão de sentimentos fortíssimos. É impossível ouvir esta música sem ficar emocionalmente abalado. Oiçam aqui e aqui uma interpretação deste andamento dividido em duas partes, dirigido em duas partes. A direcção da orquestra sinfónica de Nova Iorque é de Bruno Walter. Notem que o video faz publicidade a uma rádio online que sinceramente não posso recomendar ou deixar de recomendar porque ainda não experimentei. Como implica a instalação de uma toolbar utilizem muita cautela se o resolverem fazer.

O Terceiro Andamento (Scherzo: Allegro vivace), tal como aliás e sobretudo o quarto, são por vezes considerados menores, ao ponto de um dos maiores críticos ingleses do século XIX ter afirmado uma vez "a interpretação da terceira sinfonia terminou e muito correctamente no fim da marcha fúnebre tendo as restantes partes sido omitidas". Pessoalmente discordo por várias razões. Primeiro porque retomando o que dizia o segundo andamento tem de ser equilibrado pela solução da angústia e da dor e desse ponto de vista não há nada melhor do que o terceiro andamento. Depois porque musicalmente este terceiro andamento não deixa de ser brilhante. Continuamos com Bruno Walter para este andamento aqui.

Se o terceiro andamento já divide opiniões o Quarto Andamento (Finale: Allegro molto) ainda recolhe mais dúvidas. Construído inteiramente a partir de um tema e variações em fuga bastantes simples não deixa de ser uma composição extraordinaria. Berlioz na sua análise das sinfonias de Beethoven, onde não deixa nunca palavras pelo meio diz a respeito deste andamento que aqui Beethoven conseguiu construir a diferença de cores que existe entre o azul e o violeta. Diz ainda Berlioz que essa diferença era antes de Beethoven completamente desconhecida. Ainda Bruno Walter para este andamento aqui.

Como nota final e em resumo retomando de novo Berlioz ele refere que Beethoven terá provavelmente escrito sinfonias e obras que emocionam mais o público do que esta sinfonia, no entanto diz ele "la Symphonie héroïque est tellement forte de pensée et d’exécution, le style en est si nerveux, si constamment élevé, et la forme si poétique, que son rang est égal à celui des plus hautes conceptions de son auteur". Nesse texto, que um dia destes hei-de reproduzir aqui devidamente traduzido e anotado na sua integra (fica a promessa), Berlioz parte nesse instante e a propósito desta sinfonia, para uma discussão filosófica sobre a percepção do que é belo e das diferenças que essa percepção tem entre as pessoas, mesmo quando partilham um código cultural comum. É um texto muito interessante que sem dúvida irei partilhar convosco um dia destes, até porque parece-me ser um texto bastante contemporâneo face a alguns acontecimentos recentes neste país à beira-mar plantado.

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