domingo, 6 de março de 2011

Bedrich Smetana (1824-1884)

Depois de termos falado de Dvorak, amigo e de certa forma discípulo de Smetana achamos que fazia sentido continuarmos na escola checa.

Do ponto de vista cronológico estamos na verdade a recuar um pouco no tempo talvez a um dos primeiros exemplos da procura de uma identidade nacional na escrita musical. Talvez esta expressão não revele tudo o que Smetana pretendia. Mais do que uma identidade talvez procurasse que a música libertasse o espirito e a matéria de uma nação.

Este post é tanto mais adequado quanto Smetana nasceu a 2 de Março de 1824 teria feito portanto anos à uns dias apenas. Nasceu em Litomysl na Boémia no seio de uma família numerosa. O pai era cervejeiro podendo oferecer razoáveis meios de subsistência à vasta prole. Apesar do seu irmão mais velho tocar violino e de portanto existir alguma tradição musical na família o que explica que muito cedo Smetana revelou um enorme talento para o piano toda esta aplicação era essencialmente auto-didacta.

Só bastante mais tarde já em Praga e depois de ter rompido (e reconciliado) com o pai que não desejava que ele seguisse a carreira musical é que Smetana encontrou o seu primeiro professor Joseh Proksch (1844) que também lhe assegurou meios de subsistência ao encontrar-lhe um lugar enquanto professor na casa do Conde Thun.

Certamente inspirado pelo sucesso de Liszt Smetana tentando então uma carreira de virtuoso pianista com uma tournée na Boémia que por razões várias corre bastante mal. Nessas razões estaria certamente incluído o ambiente revolucionário que então se vivia por essas paragens, ambiente que contagiou Smetana que fez parte do Svornost (literalmente significa "unidade") - exercito de cidadãos cujo objectivo era defender Praga de eventuais ataques do Império Austríaco que então dominava a Republica Checa. Escreveu mesmo uma canção sobre poema de Jan Kollar "A canção da liberdade". A revolução durou pouco tendo nesse mesmo ano  (1848) as tropas austríacas ocupado Praga.

Entretanto do ponto de vista profissional Smetana decidiu voltar à composição tendo escrito a Liszt pedindo-lhe apoio financeiro e que editasse um conjunto de obras que lhe enviou e que lhe dedicou. Liszt era conhecido por auxiliar de forma generosa novos artistas tendo respondido-lhe com rasgados elogios mas sem dinheiro. Conseguiu no entanto que as obras de Smetana fossem publicadas na Alemanha.

Esse semi-fracasso foi no entanto muito importante para a auto-estima de Smetana que recebeu assim a confirmação que necessitava sobre o seu talento. Como precisava de meios de subsistência funda a sua própria escola de música tendo a escola obtido razoável sucesso atraindo mesmo Liszt que a visitava frequentemente. Graças a esse sucesso e à consequente estabilidade financeira Smetana pode casar com Katrina (1849). Na verdade este era um romance que já se prolongava à vários anos tendo a familia de Katrina sido fundamental em vários momentos da vida de Smetana. Por exemplo foi graças à mãe de Katrina que Smetana conheceu o seu primeiro professor de composição (de que já falamos) a escola de música que acabamos de referir conheceu o seu melhor período quando funcionou em casa da família de Katrina. Infelizmente este casamento feliz foi abalado por uma série de tragédias pessoais. Das 4 filhas do casal três morreram na tenra infância num espaço de 3 anos e mesmo Katrina faleceu relativamente nova vitima de Tubercolose. Do ponto de vista artístico neste período compôs o Trio para Piano em Sol Menor (a titulo de curiosidade o violinista deste trio é neto de Suk aluno de Dvorak, grande amigo e seu apoiante nas horas mais difíceis). Compôs igualmente a sua única sinfonia Triumf-Symphony dedicada ao casamento de Francisco José com a princesa Elisabete da Baviera.

Não conseguindo obter sucesso em Praga enquanto pianista ou compositor e talvez para esquecer as tragédias pessoais que Praga lhe recordava Smetana decide partir para Gotemburgo. Infelizmente apesar da cidade ser próspera do ponto de vista artístico tinha pouco a ver com Praga e cedo Smetana apercebe-se que o sucesso que não havia obtido em Praga também não o conseguiria em Gotemburgo. Smetana no entanto propoe-se trazer a Gotemburgo uma visão artística mais actual e a verdade é que nessa época consegue estabelecer-se enquanto maestro aproveitando para dar a conhecer ao público os grandes vultos da actualidade. Nesse período Smetana tinha já uma relação de profunda amizade com Liszt, numa relação muito próxima daquela que um professor teria com um aluno o que fez Smetana evoluir rapidamente enquanto compositor. No período de tempo que esteve na Suécia 1856-1861 a sua vida pessoal também mudou racialmente com a morte da sua primeira esposa 1859 e com o encontro com Bettina sua segunda esposa com quem casa em 1860.

Definitivamente de volta a Praga em 1862 compreende que deve aprender checo (na altura a sua língua natural era o alemão que era a língua de ensino na maioria das escolas) o que faz com afinco. Consegue assim aos poucos afirmar-se na sociedade não sem alguns falhanços. Não consegue por exemplo ser nomeado director do Conservatório após o abandono de Kittl mas por oposição é nomeado Director do Teatro Provincial de Praga em 1866 sucedendo no cargo a Nepomuk Mayr com quem mantinha desde 1862 acesa polémica. Aliás essa polémica viria a prolongar-se praticamente até ao fim da sua vida com a oposição que os apoiantes de Mayr sempre mantiveram à direcção que Smetana pretendia dar ao Teatro.

Smetana ficaria oito anos na direcção do teatro (entre 1866 e 1874) os últimos dois anos também como director artístico. Foi nessa altura que tinha na sua orquestra Dvorak (jovem violinista então) tentando conforme era sua intenção promover a música checa o que fez dando a conhecer jovens compositores. Faltava porém para a sua concepção a ópera para a qual não existia qualquer tradição de origem checa. Smetana encarregou-se então literalmente de criar uma ... A primeira das suas óperas "Os Brandenburgos na Boémia" foi estreada em 1866 logo seguida por "A Noiva Roubada" uma das suas obras mais conhecidas e interpretadas nos nossos dias. Em 1868 seguiu-se a terceira tentativa com "Dalibor". Não se pense no entanto que o sucesso destas obras foi imediato. As dificuldades provinham quer do seu antagonismo com Mayr numa luta entre o progresso que Smetana representava mas também numa dimensão musical no conflito pró-anti Wagner. Smetana possivelmente pela sua educação germânica era visto como um defensor da Ópera alemã e em particular de Wagner. Smetana bem se defendia dizendo que as óperas não eram o seguimento de nenhum outro compositor que não ele mesmo. Em 1872 teve mesmo de resistir a um abaixo assinado pedindo a sua demissão resistência que conseguiu muito graças ao apoio de grandes músicos e compositores checos como por exemplo Dvorak. Nesse período conturbado compôs mais duas grandes óperas Libuse (1869-72) e as Duas Viúvas (1873-74).

Porém o destino pregou-lhe mais uma partida e em 1874 foi perdendo gradualmente a audição tendo ficado completamente surdo ainda nesse ano. Era assim impossível manter o seu cargo no Teatro tendo-lhe sido estabelecida uma pensão como troca de se poderem interpretar as suas óperas sem pagamento. Apesar da infelicidade que o atingiu Smetana não perdeu a criatividade e imaginação tendo concluído aquele que é o seu trabalho sinfónico mais conhecido o poema Sinfónico "Ma Vlast" (O Meu País) tendo também nesse período composto dois quartetos de cordas o primeiro dos quais "Z mého života" , "A Minha Vida" é autobiográfico descrevendo a sua surdês progressiva. Ma Vlast é uma obra lindíssima, no extracto que vos propus o segundo andamento "Moldau" é interpretado pela NBC dirigida por Toscanini. Sobre esta obra farei um post especifico dentro de dias.

No fim da sua vida, especula-se que devido aos tratamentos contra a Sifilis de que Smetana padeceria (tema ainda envolto em alguma polémica) Smetana enlouqueceu (este facto é seguro) tendo a família sido forçada a interná-lo nos últimos meses de vida devido ao facto do compositor se ter tornado violento. Smetana faleceu em Praga a 12 de Maio de 1884.

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