Este post é o quarto numa sequência de posts que temos vindo a fazer sobre o grande pianista canadiano. No anterior tínhamos falado da sua vertente de artista multimédia
aqui.
Tendo deixado de fazer concertos no auge da sua carreira enquanto pianista Glenn Gould dedicou uma parte substancial da sua vida artística gravando obras, tendo algumas interpretações ficado para a história da música.
As variações Goldberg de que já falamos (e uma das poucas que Gould repetiu) são uma dessas gravações indispensáveis, ainda que por vezes polémicas.
Além das gravações em Audio muitos programas de televisão (alguns dos quais tinham um conceito do próprio Glenn Gould) são também absolutamente históricos. Por exemplo em 1966 em 18 de Maio de 1966 com Yehudi Menuhin em que toca obras de Bach, Schoenberg e Beethoven de que felizmente podemos ter no You Tube uma amostra
aqui (Bach) ou
aqui (Schoenberg com um interessantíssimo diálogo entre Menuhin e Gould)
Em 1970 também na CBC-TV concebe o programa "O Ouvinte Bem-Temperado" ou em 1974 a série de quatro programas para a ORTF - "Os caminhos da música".
Das suas gravações obviamente as de Bach assumem especial relevância embora as suas interpretações de Schoenberg, Beethoven e Mozart por exemplo também sejam relevantes pela sua originalidade. Embora por vezes possa parecer que quando Gould toca se ouve sempre Bach pessoalmente penso que isso está mais na nossa cabeça do que na interpretação propriamente dita.
Gould dizia aliás que se um dia fosse para uma ilha deserta e lhe deixassem levar as obras de um uníco compositor este seria Bach sem dúvida. Curiosamente e como já referimos uma das suas interpretações de Bach está neste momento numa das naves Voyager em pleno espaço sideral como uma das representantes do génio humano ... Creio que é uma homenagem adequada.
Mas ainda a este propósito dizia Bernstein que naquele seu famoso episódio que já recordamos neste blog (o concerto de Brahms) que Gould era um interprete que "pensava", interpretava de forma pessoal. É claro que isto nos leva também à definição que fizemos da própria música clássica como sendo uma música exacta em que o compositor explicita exactamente o que pretende. E como essa definição (a de precisão) é do próprio Bernstein torna-se fácil perceber a razão pela qual ambos não podiam concordar. Mas fica também claro que em Gould, em todas as suas gravações não é Bach que ouvimos, é Gould é a sua visão pessoal sobre cada um dos compositores que interpretou.