Alfredo Keil nasceu em Lisboa a 3 de Julho de 1850 filho de dois cidadãos alemães radicados em Portugal. O pai alfaiate da corte rapidamente adquire fortuna graças ao seu talento quer na costura quer na condução de negócios imobiliários permitindo assim que Alfredo Keil beneficie de uma educação esmerada primeiro em Portugal onde estudou com António Soller e com o pianista Húngaro Oscar de la Cinna.
Alfredo Keil foi um artista verdadeiramente multi-facetado. Foi um pintor prolifico tendo deixado mais de 2000 obras. Muitas vezes (demasiadas em meu entender) acusado de ser um diletante e um simples amador muito possivelmente pela diversidade dos seus interesses, acreditamos que é demasiado simplista e injusta semelhante afirmação. Não só porque a sua educação superior na Academia de Belas Artes de Nuremberga e depois com Luppi quando volta a Lisboa não o deixa supor mas sobretudo porque a sua obra embora parecendo um pouco deslocada no tempo na verdade tanto na pintura como na música mais do que simplesmente romântica é precursora do nacionalismo, facto que seria de todo injusto não reconhecer.
Enquanto compositor as suas obras mais conhecidas são as três óperas D. Branca (1883), Irene (1893) e Serrana (1899) a primeira ópera escrita em Português e considerada então a melhor ópera portuguesa. esta ultima ópera além do mais incluindo elementos estilizados de folclore português é, apesar da sua aparente configuração romântica, uma verdadeira obra "nacionalista" no sentido que marca o inicio de uma escrita clássica portuguesa. Também nesta dimensão seria completamente injusto não reconhecer este facto.
Tal como também é profundamente injusto reduzir este compositor ao hino e a estas três óperas. Alfredo Keil escreveu várias belíssimas obras para piano, na mais profunda tradição romântica é verdade. Proponho-vos que ouçam a nossa ministra da cultura Gabriela Canavilhas numa interpretação do Op. 9 Murmúrios nº 2. Nas obras para piano e voz proponho o Op. 101 Canção do Cego (também com Gabriela Canavilhas ao piano e com a Soprano Ana Ferraz). Aliás o disco da Numérica Keil - Canções e Obras para Piano recomenda-se. Isto claro além da conhecida Marcha Fúnebre ou da Marcha de Gualdim Pais que seria o argumento final para fixar definitivamente Alfredo Keil como o precursor do nacionalismo musical português como aliás é referido no dicionário de música Grove Music Online que creio dispensa apresentações (aqui falando da ópera Serrana - a propósito libretto de Henrique Lopes de Mendonça baseado em obra de Camilo Castelo Branco "Como ela Amava"):
"Serrana was also seen by critics as the most successful of his attempts, and the most successful attempt of any composer up to that time, to create a Portuguese musical idiom, and for these reasons he is usually granted the position of founder of Portuguese national opera."
Menos conhecida mas não menos notável e precisamente reveladora do espírito de recolha musical e da envergadura da sua visão foi a sua coleção de instrumentos antigos que infelizmente foi parcialmente dispersa após a sua morte. Uma parte desta coleção encontra-se em exibição no Museu da Música (para quem não sabe fica na Estação de Metro do Alto dos Moinhos em Lisboa) de que obviamente se recomenda a visita.
D. Branca uma das óperas que mencionamos depois de mais de um século voltará ao S. Carlos. A ultima recita será hoje 5 de Outubro às 16h. Será possivelmente tarde demais para a maioria de vós mas se puderem não deixem de ir ...
Alfredo Keil faleceu em Hamburgo a 4 de Outubro de 1907. Curiosamente antes da implantação da República e antes de ver a sua composição ser escolhida para Hino Nacional. Não sabemos se aprovaria a escolha ...