quinta-feira, 12 de julho de 2012

Rhapsody in Blue - George Gershwin

O debate se esta obra se deve classificar com Jazz ou como música clássica nunca estará verdadeiramente terminado. A bem dizer isso não me interessa muito já que os títulos ou as classificações apenas são úteis enquanto taxonomia quando nos ajudam a entender a forma como as coisas se organizam. Se nas ciências essa forma deve obedecer a critérios rigorosos,  já nas artes há uma certa liberdade poética e de sentimento que nos pode permitir - a nosso belo prazer - definir algumas coisas como nos manda o coração. No meu caso esta obra é tanto uma peça de Jazz como uma música clássica.

Foi composta nos primeiros dias do ano de 1924 reza a lenda em apenas algumas semanas sobre a pressão da ideia ser "roubada" por um outro produtor. Na verdade a obra foi uma encomenda de Paul Whiteman o maestro de uma banda de Jazz e que tinha uns meses antes discutido com Gerswin a possibilidade de se fazer um concerto de raíz profundamente americana e que provasse que o Jazz era digno de uma sala de concerto. Ironia suplementar Paul Whiteman até tinha formação clássica, violinista que fora da Orquestra Sinfónica de Denver.

A orquestração da obra não é de Gershwin (pelo menos a da estreia não foi) mas sim de Ferde Grofé sendo também tema de debate se naquela altura Gershwin teria ou não capacidade técnica para ele próprio escrever a orquestração. É preciso enquadrar este facto na realidade de um compositor da Broadway que Gershwin também era. Normalmente o trabalho de orquestração não era feito pelos compositores das "canções" - Berlin, Kern ou Rodgers raramente orquestravam - mas sim por técnicos especialistas. O tempo dos compositores era demasiado precioso para algo que era essencialmente visto não como um trabalho criativo mas antes como um trabalho técnico. É assim razoável admitir que este modelo fosse aplicado nesta encomenda sobretudo dado o escasso tempo existente para a completar.

A obra está dividida em três partes embora não estejam identificadas como tal. A primeira parte é uma parte  rápida e alegre, a parte mais extensa, a segunda é uma parte lenta normalmente chamada o tema do amor pelo seu carácter doce para depois terminar de novo num final épico. Os leitores mais fieis deste blog não deixarão de notar nesta estrutura a forma normal de um concerto clássico com os andamentos rápido-lento-rápido. Podemos identificar claramente cinco temas que são apresentados logo nos primeiros compassos da obra.


A estreia a 12 de Fevereiro de 1924 recebeu um acolhimento fantástico por parte do público menos fantástico por parte da critica que nitidamente não conseguiu ultrapassar a barreira do género. Aliás nem de um lado nem do outro da barricada já que os especialistas do Jazz também não foram propriamente entusiasta da obra. Na estreia da obra estava presente uma plateia que hoje seria considerada impossível com alguns dos grandes vultos musicais da época: Heifetz, Kreisler, John Sousa e Rachmaninoff por exemplo. Na estreia com Gershwin ao piano a cadencia final foi verdadeiramente improvisada pelo que é impossível saber hoje como foi exactamente interpretada embora se admita que as versões que se seguiram interpretadas por Gershwin possam ser semelhantes.

Mas chega de palavras fiquem com a primeira parte da obra interpretada por Bernstein e a Filarmónica de Nova Iorque.





Deixo-vos também a titulo de comparação uma das versões interpretadas pelo compositor.

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