Sibelius é um daqueles compositores que me provocam uma grande dose de tristeza por terem sido tão maltratados durante o seu período de vida. No caso de Sibelius porque insistia, graças a Deus :-), em escrever música neo-romântica quando a linguagem do século já era outra ...
Jean Sibelius nasceu em Hämeenlinna no Grão Ducado da Finlândia no dia 8 de Dezembro de 1865 no que era então uma dependência do Império Russo numa família de língua sueca. Porém apesar de toda esta mistura (ou se calhar por causa dela) foi o primeiro dos grandes expoentes (e de certa forma consolidadores) da identidade nacional finlandesa.
No seu livro "The Rest is Noise" Alex Ross dedica um dos seus capítulos intitulando-o Apparition from the Woods: The loneliness of Jean Sibelius. Neste capítulo além da análise das princiipais obras do compositor Finlandês Alex Ross explica-nos uma parte do drama de Sibelius citando um trabalho de Kundera em que ele fala das "Pequenas nações da europa" e do sentimento de isolamento que os heróis nacionais dessas pequenas nações podem sentir. todos sabem de tudo dos seus heróis, não há espaço para o erro. Isto pode ser uma pressão insuportável. Para Sibelius atormentado que estava pela recepção do seu trabalho nos meios intelectuais europeus, recepção altamente negativa ao ponto de terem apelidado Sibelius "o pior compositor de sempre" pode ter sido um pouco demais ...
Claro que a solidão não provém apenas do facto anterior. ser considerado um elemento "fora de tempo", um compositor sem nada de novo a dizer foi certamente a outra parte do problema de Sibelius. Problema amenizado (ou talvez não, paradoxo resultante do facto anterior) da enorme popularidade de que gozava na Finlândia e nos Estados Unidos onde era considerado nem mais nem menos que o novo Beethoven. Na verdade terá sido necessário chegarmos ao fim do século XX para que alguns musicólogos tenham por fim entendido que estar "a la page" nem sempre é sinónimo de inovação e que por vezes trabalhar em modelos aparentemente do passado pode ser precisamente a expressão de uma voz interior que não liga a épocas ou modas. No que me diz respeito já sabem para onde vão as minhas simpatias. Um dia destes ainda me v~em com calças de sino de novo ...
Há dois tipos de composição onde Sibelius focou o seu talento: O poema sinfónico e a sinfonia. Existem para além destas formas duas outras obras de que estão de certa forma isoladas na obra do compositor mas de que teremos de falar pela sua enorme relevância no trabalho do compositor e sobretudo - pelo menos em um dos casos - na sua relevância no reportório actual. Estamos a falar claro da Valse Triste (Op. 44) composta em 1903 e o famoso concerto para violino e orquestra Op. 47 (1903-1905).
No que diz respeito ao Poema Sinfónico foi neste tipo de composição que podemos dizer sem exagerar em demasia que uma boa parte da identidade finlandesa se fixou. Não só porque Sibelius soube capturar musicalmente a alma finlandesa (por exemplo indo buscar elementos ao folclore, técnica em que aliás precedeu tanto Bartok como Stranvinsky) como também soube encontrar a poética adequada de base tradicional finlandesa que o fixou definitivamente como um representante nacional ao ponto de hoje se perguntarem a um finlandês o que é próprio à Finlandia possivelmente para além da famosa marca de telemóveis a referência mais frequente será "o nosso Sibelius". Dessas composições a primeira Kullervo (Op. 7) é baseada no poema épico Kalevala tendo sido o primeiro grande sucesso do compositor. Seguiram-se vários outros dos quais En Saga (Op. 9), Karelia Suite (Op. 10) e Finlandia (Op. 26).
No que diz respeito às sinfonias Sibelius tal como Beethoven procurou em cada uma das sinfonias basear-se na anterior melhorando-a ou complementando-a na busca da perfeição. Essa procura foi uma das causas adicionais para que Sibelius tenha muito cedo terminado a sua produção enquanto compositor. É conhecido hoje o facto de Sibelius ter destruído a sua oitava sinfonia - aquela que deveria sumarizar tudo o anterior - depois de anos e anos de tentativas (e de ter por várias vezes prometido-a aos seus fãs americanos). Simplesmente Sibelius não se sentia capaz de tal tarefa quer pela tarefa em si quer pela pressão auto-induzida ou induzida pelo exterior. Facto é que essa oitava ficará para sempre apenas como memória do que poderia ter sido.
Das várias sinfonias a ultima (a sétima) composta em 1926 marca o fim do período de produtividade de Sibelius. Depois disso ainda compôs mais algumas obras de música para teatro (para a peça de Shakespeare - A Tempestade) e o poema sinfónico Tapiola mas na realidade nada que tenha o relevo da sua produção passada e sobretudo nada de comparável quanto à quantidade do período anterior.
Sibelius faleceu a 20 de Setembro 1957 no meio da natureza de que tanto gostava.