sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Concerto de Aranjuez de Rodrigo e Spain de Chick Corea

O post de hoje é dedicado ao meu colega Alexandre que um pouco antes da hora de almoço nos presenteou com uma versão de Spain (Chick Corea). Retorqui eu - mas isso é o Concerto de Aranjuez do Rodrigo, talvez não o primeiro andamento murmurei. Mas de repente estava o adagio a tocar e as recordações  da casa da minha avó na distante Monbahus no espaço e no tempo - e na energia a tal outra dimensão Alex, a tal outra dimensão, Sim neste caso existe uma verdadeira dimensão na diferença de energia.

Algures no Lot-et-Garonne a curta distância de uma tempestade de Verão e o cheiro da terra molhada que entrava pela janela quando tocava o disco de vinil na aparelhagem, tantas vezes repetido . Um pingo de modernidade numa casa e numa farmácia do século XIX com bidons de vidro de perfume e umas torneiras em vidro que me fascinavam. O perfume a lavanda, uma campainha na porta e as notas de um teclado de um piano afagado pela minha avó, que as vezes saíam tal como Aranjuez pelas janelas. Ainda hoje a lavanda e a terra molhada me lembram a pureza do ar e do coração daquela aldeia.

Não me é verdadeiramente possível falar do Concerto de Aranjuez sobretudo deste segundo andamento de forma que não seja puramente emocional. Foi ao som dele que namorei horas sem fim - real ou imaginariamente, Foi com o seu fundo sonoro que escrevi os textos mais melosos que alguma vez foram produzidos (sim incluindo este) . Três andamentos do qual o segundo é o mais conhecido e o que foi retomado por Chick Corea na sua composição Spain onde desenvolve o tema  à sua maneira e com a sua linguagem única.

O concerto - o original perdoa-me a precisão, o que ouvia em casa da minha avó nas tardes de verão - a despropósito muitas vezes depois de um pouco de Django Reinhardt ou Chopin - foi composto por Joaquin Rodrigo em 1939 inspirado ao que se diz nos jardins do palácio Real de Aranjuez . Talvez por isso aquele segundo andamento cheire tanto a melancolia. Por isso ou por ter sido completado logo após a devastadora Guerra Civil , uma procura de unidade que talvez pudesse hoje servir de inspiração para tantos. Certamente por isso, quase poeticamente, oito anos antes de morrer, Rodrigo foi nomeado pelo Rei D. Juan Carlos - Marqués de los Jardines de Aranjuez.

O concerto foi estreado uns meses depois a 9 de Novembro de 1940 em Barcelona e uns dias depois em Madrid. Desde aí para além da retoma de Corea com que começamos este texto as versões, aliterações e outras citações várias são difíceis de listar ou de citar tal a sua quantidade. O Adagio tem a qualidade da música que nos entra pelo coração, sem pedir licença e desperta em cada um de nós o desejo ardente da nossa poesia, seja ela qual for,

Porque nisso tens toda a razão Alexandre. Se a energia pode até nem ser uma dimensão  a música essa tem de o ser e nessa dimensão apenas existe uma razão: a nossa emoção, o nosso sentimento. Tudo o resto reduz-se a à técnica da expressão e é de somenos importância.

E por isso para ilustrar este fabuloso concerto na forma neo-clássica de andamento rápido-lento-rápido resolvi escolher um músico andaluz que até ter tocado esta obra não tinha qualquer treino clássico. E esta interpretação digam o que disserem os puristas, para mim está perfeita ! Está aqui a dimensão da alma, 21 gramas ou 21 toneladas tudo dependerá do momento. Paco de Lucia na Guitarra solo.




E sim Alexandre não podia deixar de mostrar aqui para todos a composição Spain baseada no tema do Adágio deste concerto. Apreciem as duas porque ambas poderiam estar na lista ... Mas se me permites Alexandre vou apresentar-te este tema de Chick Corea numa versão que talvez não conheças com outro dos meus génios preferidos ... Bobby McFerrin, Um dueto absolutamente fantástico !

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