Obviamente não vos vou (até por questões de direitos de autor) traduzir o livro todo ... vou apenas capitulo a capitulo dar-vos uma ideia da linha principal de raciocínio seguida. Vou neste momento já no capitulo 3 da leitura (escrever estes posts exige um pouco de distanciamento temporal) e pelo que li digo-vos desde já que é absolutamente um livro a ler. Notem ainda que ainda que este post seja inspirado no livro as palavras e interpretação são minhas e podem ser sujeitas a outras leituras.
Como vos referi o autor começa o capitulo com uma frase que imediatamente capta a nossa atenção:"Eu odeio a música clássica: Não a música em si, mas o nome. Congela uma forma de arte viva num parque temático do passado". Na verdade o autor começa por referir que a forma elitista e pretensamente superior como é tratada a música clássica leva-a a ser considerada como uma forma de arte imutável (porque perfeita) e logo morta, quando deverá ser tudo menos isso.
Considera em seguida que em boa verdade este é já um caso de uma morte anunciada de forma permanente porque já há 20, 30, 40, 50 ou mesmo mais tempo se anunciava o seu declínio citando a esse respeito Charles Rosen que afirma: "A morte da música clássica é talvez a sua mais antiga tradição".
De seguida Alex Ross descreve a sua infância e a forma como apenas ouvia música clássica, pelo discos dos seus pais. Fala em particular de uma interpretação da 3ª de Beethoven dirigida por Bernstein e que continha um guia de audição. Nesse guia Bernstein falava de uma nota especifica um Dó Sustenido como sendo uma autentica "punhalada" (stab). Diz o autor que não se pode pensar na terceira com um suspiro dizendo "ah isto é civilização". Não as músicas devem ser ouvidas independentemente do seu género pelo que nos inspiram e nesse particular a terceira é tão revolucionária como um rap.
Alex Ross diz-nos que descobriu o "pop" bastante tarde, no liceu onde se apercebeu que mais ninguém gostava de música clássica. Explica-nos então que talvez por isso vê esse tipo de música com uma maturidade diferente, ao passo que para ele a música clássica é sempre uma remanescência da força da adolescência. Em todo o caso recusa-se a aceitar que um qualquer tipo seja superior a um outro ou que um seja uma música para a alma enquanto outra é para a mente. Depende da alma e da mente do destinatário.
Explica-nos então que o gosto por música do passado é relativamente recente - como sabem os leitores deste blog começou talvez no fim do barroco com Bach tendo atingido padrões mais ou menos semelhantes aos actuais no inicio do século XX (embora nessa altura ainda estivessem vivos e logo a produzir muitos dos músicos que hoje englobamos na categoria "clássicos"). Como se lembram compositores como Mendelssohn e Mahler por exemplo tiveram nesse particular especial relevância ao "descobrirem" obras de Bach por exemplo entre muitas outras. Não é que essas obras não fossem conhecidas antes. Eram-no, mas apenas nos ciclos "académicos". Considerava-se então que não interessariam os "gostos modernos". Lembra-vos alguma coisa? Alex ross identifica mesmo um livro em particular uma Biografia de Bach por Johann Nikolaus Forkel que pode representar na perfeição o incio desse movimento.
Em paralelo (e por consequência) com esse gosto pelo passado o autor refere que aos poucos os locais de concerto e os próprios concertos foram-se tornando uma espécie de locais de culto, cada vez mais formais sacralizando os compositores, banindo a improvisação e a espontaneidade. Contrariamente ao que acontecia os ouvintes foram gradualmente banindo o novo preferindo o antigo e formalizando a audição e criando um código de comportamento contido próprio à "grandeza" e à reverência devida "a grande música" e aos grandes compositores. Em consequência os próprios compositores no inicio apreciaram esta mudança de comportamento. Assim em vez de ruidoso o público poderia em silêncio apreciar as subtilezas escondidas nas suas composições. Claro que isto esconde um perigo ou um problema se quisermos. É que se escrevemos composições que requerem esse nível de atenção e de conhecimento estamos obviamente a tornar mais difícil a sua apreciação ao ponto em que a música de hoje é possivelmente um tratado formal de composição: Erudito mas pouco amável. Ou seja os compositores foram ganhando um público mais atento mas ao mesmo tempo foram deixando de ter a sua preferência porque a formalização da audiência os levava a preferir o passado e porque eles próprios se foram afastando tornando cada vez mais subtis e difíceis as suas composições começando literalmente a escrever para eles próprios e para um circulo de iluminados ...
Defende ainda Alex Ross que os vários tipos de música passam por vários estágios, vários ciclos, toda a música se tornando clássica no seu "fim". Não é por acaso que hoje falamos de Rock Clássico ou de Jazz Clássico. Imagina ainda um amante do Pop que por acaso se tenta converter à música clássica começando por comprar um disco e depois indo a um concerto onde esbarra com o convencionalismo do traje até às idiossincrasias da sala de concerto e sobretudo à falta de alma e de paixão que observa por todo o lado. Dos músicos ao publico que dorme ou se preocupa apenas com o respeito absoluto dos protocolos.
De certa forma este blog quando foi iniciado foi precisamente para tentar facilitar a "conversão". Não porque achemos que a música clássica é superior a qualquer outra forma mas porque achamos que merece ser ouvida. Mas como diz Alex Ross não o merece por ser passado. Merece-o por ser precisamente presente e poder ser reinventada a cada interpretação.
No segundo capitulo do livro iremos falar do significado intrínseco da melodia na música por isso mantenham-se atentos.