domingo, 1 de março de 2009

Sérgio Varella-Cid (1937-1981*)

Escrevo esta curta nota biográfica respondendo a uma sugestão do nosso atento leitor pianoman. Na verdade em boa hora o fiz porque fiquei a conhecer, e a desejar conhecer melhor a vida daquele que poderia ter sido o melhor pianista português de sempre, e que o terá sido segundo alguns claro.

O que aqui vos conto resulta em grande parte deste artigo que por sua vez faz referência a um artigo da revista Atlantico que infelizmente já não se encontra online (pelo menos não encontrei). Esse excelente artigo da Atlantico (Outubro de 2005) da autoria de Pedro Dordio está felizmente transcrito na sua totalidade na primeira fonte que citei, pelo que não o transcrevo aqui. Fiquem aqui com um breve "resumo" porque muito mais haveria para dizer ...

Sérgio Varella-Cid nasceu em Lisboa a 5 de Outubro de 1937. Era filho de Lourenço Varela Cid pianista e professor do conservatório , também lisboeta e de Dora Soares Varela Cid violinista natural do Pará (Brasil).

O Jovem Sérgio deste muito novo revelou possuír um talento indiscutível para as teclas dando aos oito anos o seu primeiro concerto no ginásio do Liceu Camões e aos dez o primeiro recital público no Tivoli. O sucesso destas apresentações eleva-o desde logo a categoria de menino prodigio com concertos em várias cidades da Europa: Paris, Madrid, Escandinávia.

Porém o pai possivelmente já se apercebeu também que o talento de Sérgio tem de ser disciplinado pelo estudo e é assim que em 1955 Sérgio vai para Londres estudar com Benno Moiseiwitsch (1890-1963) de origem Ucraniana e aluno de Rubinstein. A escolha pese a sua excelência não terá sido a melhor no sentido da disciplina dado que Moiseiwitsch se caracterizava sobretudo pela sua enorme "liberdade" o que aliás se ajustava perfeitamente às características de Varella-Cid.

O facto é que entre 1955 e 1962, Varela Cid acumula prémios dos quais o maior (ainda antes de 1955) terá sido a famosa frase de Rubinstein "Este poderá ser o meu sucessor". Vence 1955 o 1º Prémio do Conservatório, em 1957 o 1º Prémio Concurso Internacional Magda Tagliaferro ainda em 1957 o 4º Prémio do Concurso Internacional de Música Vianna da Motta e em 1962 o 6º lugar no primeiro concurso Internacional Van Cliburn.

Em 1972 no auge das suas capacidades, imediatamente após ter dado uma série de concertos com sucesso no Canergie Hall e dois anos depois de ter ganho o prémio da Imprensa com a sua gravação integral dos concerto de Beethoven abandona a carreira de pianista.

Desapareceu em São Paulo a 26 de Junho de 1981 onde tinha fixado residência a partir de 1979. Diz Vitorino de Almeida que Varella-Cid tinha alma de aventureiro ao jeito de Arséne Lupin, ao jeito de Rimbaud diria eu, um gosto inexplicável pelo marginal.

Suspeita-se que tenha sido assassinado por Hosmany Ramos que numa recente entrevista ao Expresso que pode ouvir aqui explica a natureza da sua relação com o pianista português e nega a autoria do crime. Porém deve-se dar a credibilidade que tem um homem acusado de múltiplos crimes, foragido e mentiroso compulsivo ...

Certo é que Sérgio Varella-Cid tinha tudo para ser um pianista de eleição e que pese ter rivalizado com Sequeira Costa nos anos 50-60 esteve muito longe de realizar todo o seu potencial, pelo menos se acreditarmos na validade da profecia de Rubinstein.

3 comentários:

  1. Tenho que confessar que enquanto musicólogo muitas coisas do século XX me passam ao lado (é o que dá querermos especializarmo-nos apenas na música até ao séc. XVII), contudo é com grande orgulho que, regularmente, venho descobrir grandes músicos.Digo "grandes" porque são grandes músicos que contudo permanecem desconhecidos para o resto do mundo. É pena...

    Cumprimentos,
    Luís Henriques

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  2. por falares em pianistas...............
    esta noite, ao jantar, através do Mezzo, voei até ao mundo da Clara Schumannn e do seu romance adúltero com Brahms, enquanto ouvia a sensualidade encantatória das mãos da Martha Argerich a tocarem o concerto para piano.

    Como já o disse , ela é para mim a melhor interprete de Schumann....

    lindo, lindo



    (gosto de ler os teus artigos...)

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  3. Luís: Pois sabe que a especialização que é uma característica da nossa sociedade tem esse problema. Eu confesso-me mais renascentista e universal, menos especializado ... :-)
    Frioleiras: Hum, então acha que as coisas entre Brahms e Clara não eram apenas platónicas? Eu sei que é dificil de acreditar ... Ora aqui está um pouco de "salero" para este blog. Um pouco de argumento de novela das sete. Brinco claro. A sério, até agora eu estava convencido desse amor platónico. Vou investigar.

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