A vida normalmente tem destas coisas. Vem por ciclos. acontece que o meu ultimo post neste blog há já alguns dias - peço desculpa mas por razões pessoais tem me sido completamente impossível manter um ritmo mais estável - foi sobre o Maestro António Vitorino de Almeida sendo que este de hoje também vai ser: O tal ciclo de que falava.
Acabei de chegar do lançamento do seu novo livro "O Meu Livro de Música" que apesar da sua aparência infantil é um daqueles livros que se pode ler de várias formas. Não é um livro só para crianças - embora possa ser lido (e deva ser lido) por crianças, não é um livro para músicos embora possa ser lido (e deva ser lido) por músicos). É um livro que de certa forma, aliás em muitas formas, se enquadra perfeitamente no espírito deste blog. Também nós acreditamos que é possível dar a liberdade de escolha proporcionando a quem não conhece a "música clássica" (entre aspas porque sabemos que é um termo incorrecto) uma oportunidade de conhecer uma nova forma de arte. E acreditem que há nessa descoberta um valor espiritual e humano a recolher.
O livro descreve uma visita ficcionada de um compositor - o próprio autor - a uma escola. História ficcionada não porque não seja composta de elementos reais mas porque condensa uma série de acontecimentos que ocorreram nas visitas do Maestro às várias escolas deste país. Como em muitas obras do maestro o humor está sempre presente mas o livro sobre esta aparência ligeira é mesmo muito sério.
Disse o maestro na apresentação do livro que em Trás-os-Montes na bela cidade de Chaves há um petisco inigualável: Um bom presunto com um bom copo de verde. Disse ainda que no entanto seria um pouco limitativo passar toda a vida a comer apenas isso - que experiências culinárias mais elaboradas ou simplesmente diferentes deveriam fazer parte da nossa dieta cultural. Acrescentou então que a formação estética está profundamente ligada à formação ética.
Não poderia concordar mais. Em minha opinião - e estas já são minhas palavras não do maestro - simplesmente porque nessa formação estética aprendemos sempre a percepcionar a diferença como algo que temos de valorizar aprendemos também que existem regras que têm de ser cumpridas e que mesmo a sua violação - sim porque em arte também se violam regras ou não haveria evolução - mas mesmo essa violação dizia é feita de forma construtiva e num sentido de progressão e de beneficio para todos e não apenas para a auto-satisfação do seu autor. Aliás sustento que nas formas de arte em que esses princípios éticos de evolução estética se abandonaram (e penso que há casos desses) o resultado foi exactamente o mesmo que em outros domínios da actividade humana. Perdoem-me o longo parênteses mas vinha mesmo a propósito ... só espero que este blog contribua na medida das minhas parcas possibilidades para a vossa educação estética.
Pedi ao maestro que me autografasse o meu exemplar com um "direito ao silêncio" . Para entenderem totalmente o âmbito do pedido creio que terão de adquirir o livro ... Não pensem que se trata aqui de uma chantagem barata simplesmente creio mesmo que o livro merece uma leitura e na verdade não há música sem silêncio ou melhor o silêncio que antecede ou precede a música ainda faz parte dela. Sem esse silêncio temos simplesmente uma sequência sem significado de sons. E infelizmente no nosso mundo sobre constantemente bombardeados de sons que acabamos por confundir com música ... com a forma de Arte Maior de que vos falava.
O livro é simples de ler como vos disse tem vários níveis de leitura podendo ser lido por uma criança ou por um adulto com igual prazer. Ilustrações de Tiago Albuquerque que são também muito interessantes. Um excelente presente de Natal sem margem para dúvida.