Na sequência do post de ontem hoje iremos falar da obra de Debussy "Prélude à l´aprés-midi d´un faune" uma obra inspirada do poema do mesmo nome de Stephane Mallarmé
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Tant pis ! vers le bonheur d’autres m’entraîneront
Par leur tresse nouée aux cornes de mon front :
Tu sais, ma passion, que, pourpre et déjà mûre,
Chaque grenade éclate et d’abeilles murmure ;
Et notre sang, épris de qui le va saisir,
Coule pour tout l’essaim éternel du désir.
A l’heure où ce bois d’or et de cendres se teinte.
Une fête s’exalte en la feuillée éteinte :
Etna ! c’est parmi toi visité de Vénus
Sur ta lave posant ses talons ingénus,
Quand tonne un somme triste ou s’épuise la flamme.
Je tiens la reine !
O sûr châtiment..
Non, mais l’âme
De paroles vacante et ce corps alourdi
Tard succombent au fier silence de midi :
Sans plus il faut dormir en l’oubli du blasphème,
Sur le sable altéré gisant et comme j’aime
Ouvrir ma bouche à l’astre efficace des vins !
Couple, adieu ; je vais voir l’ombre que tu devins.
Além de ser uma das obras mais conhecidas de Debussy esta peça marca o inicio de uma nova forma de compor por levar ao limite a noção de tonalidade. É uma obra que mantém o carácter impressionista de Debussy mas não é programática ou seja não pretende imitar ou descrever antes procura criar um ambiente emocional semelhante ao poema o que sem dúvida consegue. Aliás nesse aspecto nada melhor do que ouvir o que o próprio Debussy tem a dizer do assunto:
"A música deste prelúdio é uma ilustração muito livre do maravilhoso poema de Mallarmé. Não pretende de forma nenhum ser uma sintese do mesmo. Antes é uma sucessão de cenas pelas quais passam os desejos e os sonhos de um fauno no calor da tarde. Depois cansado de perseguir as ninfas e as naíades socumbe a um sono intoxicante no qual pode finalmente realizar os seus sonhos de possessão na natureza Universal".
Do ponto de vista da estrutura esta parece ser numa primeira aproximação uma espécie de composição livre mas uma inspecção mais cuidada revela células e motivos que se repetem. Esta forma de composição é também um prenuncio, um prelúdio ao que há de vir em termos estruturais. A melodia inicial tocada na flauta representa o instrumento que o Fauno toca sendo aos poucos submergido pela orquestra representando dessa forma o seu progressivo adormecimento e absorção no sonho. As ténues linhas de desenvolvimento, a imprecisão dos contornos musicais são uma deliciosa interpretação dessas mesmas características que ecoam no poema e na pintura de Turner ou de Whistler de que Debussy era especialmente admirador.
Este poema sinfónico foi composto durante o ano de 1894 sendo estreado em Paris a 22 de Dezembro desse ano dirigido por Gustave Doret.
A obra intitula-se "prelúdio" dado que embora seja na verdade a única peça que chegou a ser composta Debussy tinha intenção de escrever uma trilogia (sim já na época era moda :-)). Mais tarde (1912) esta obra foi adaptada para bailado tendo sido interpretado pelo famoso Nijisnky. Uma interpretação polémica na altura aliás ...
Começando pela peça em orquestra proponho-vos uma interpretação pela LSO dirigida por Leopold Stokovski pela celebração do seu nonagésimo aniversário, em duas partes desculpem o corte.
De seguida se desejarem proponho que apreciem também o bailado interpretado por Rudolf Nureyev.