Num post no Facebook hoje o violinista João Andrade deu-nos conta de um procedimento que vamos qualificar como artístico pelos seguranças do aeroporto. Nota de rodapé prévia: Não na fotografia não é o João é outro violinista em outro aeroporto noutro continente. Neste caso pedia casamento à namorada (a rapariga de costas em amarelo) ... enfim um caso diferente de segurança a avaliar em outro post.
Em resumo ao passar pelos seguranças que fazem a verificação da bagagem que se leva na cabine pediram ao João que tocasse alguma coisa. Este procedimento leva-nos de imediato a uma série de conjunturas que talvez fosse prudente averiguar para nos precavermos quanto à segurança nos aeroportos.
Primeira conjuntura: O João escolheu tocar Bach e apesar de (segundo confissão própria) ter apenas interpretado três compassos seguidos de notas aleatórias o processo foi dado por terminado e o João pode seguir com o seu instrumento. Terá sido a escolha do compositor relevante? Vamos supor que em vez de Bach o João tivesse escolhido. sei lá Ysaÿe ou ainda "pior" um compositor claramente revolucionário e não germânico ? Teria sido o resultado idêntico? Existirá nos seguranças uma competência estética ou uma lista do tipo : Bach ou Vivaldi (com excepção do concerto em Lá Menor :-)) sim mas por exemplo Beethoven (perigoso revolucionário) não? E se o João tivesse tocado como lhe sugeriram num dos comentários "Grandola" ? Teria recebido um convite imediato por telefone para ser o próximo ministro da cultura em Portugal?
Segunda conjuntura: Será que os seguranças têm noção que um violino mal tocado é efectivamente uma arma perigosa? Estou a ver o terror dos passageiros a receberem a noticia de um dos passageiros já em pleno voo : "Bem aproveitando este longo voo de três horas vou dar-vos o prazer de poderem ouvir a minha primeira tentativa de interpretação consecutiva do Moto Perpetuo que acabei de aprender. Vão ver como é bom". Palpita-me que após 15 minutos contrariando todas as normas internacionais o "instrumentista" conseguiria provavelmente desviar o avião para onde lhe aprouvesse. Enfim não tão letal como a famosa anedota mortal dos Monty Phyton mas fica lá perto,
Terceira Conjectura: Será que após este incidente as aulas de violino em territórios potencialmente perigosos estão a ser devidamente monitorizadas? É que estão a ver os narcotraficantes e terroristas a aprenderem este truque? Eu bem que achei esquisito alguns anúncios que tenho visto recentemente oferecendo palácios a professores de violino. Achei que eram obras beneméritas agora está tudo explicado. Será que os satélites espiões têm agora na sua lista de alvos as escolas de violino? Será que a NSA agora também ouve os posts colocados no You Tube por supostos alunos de violino?
Quarta Conjectura: Três compassos João? A tua sorte é que em três compassos de Bach pode estar o mundo inteiro.
E pronto com esta conversa toda - que vos escrevi ao som de Bach claro - só vos posso deixar com o dito cujo. Fosse este um post de culinária e diria algo do tipo: Bach com Arroz do mesmo, não sendo ficará ainda assim numa pequena liberdade poética: Posta de Bach com Partita do mesmo!
A única música que precisa de embalagem é a música de plástico.
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Shinichi Suzuki - Verdade ou mentira ? A única certeza é o mau jornalismo
Em Janeiro de 2009 contava-vos a história do homem que democratizou o ensino de um instrumento e provavelmente inspirou dezenas de outros a fazerem o mesmo, neste artigo sobre Shinichi Suzuki (1898-1998).
Esta semana leio no dia 25 de Outubro este artigo do teoricamente insuspeito Telegraph. O meu primeiro comentário relativamente a esta noticia é que fica provado que o problema do mau jornalismo não se encontra limitado a Portugal. E explico a razão deste meu comentário que me perdoem os meus amigos jornalistas (e são alguns).
O problema com este artigo é que se coloca ao serviço dos que sempre atacaram o método desta vez colocando em causa o passado do Suzuki como se isso justificasse de alguma forma o mérito ou demérito do método quando nada no que é ensinado hoje em dia depende efectivamente desse passado. Ou seja nem sequer quero por em causa a veracidade ou falsidade da fonte citada, o facto é que se se utiliza esse argumento para colocar em causa a validade do método então diria eu que já que o infeliz japonês já não se pode defender caberia ao jornalista tentar perceber se realmente o facto relatado influi ou não no que é ensinado. Não o fazendo está a prestar um péssimo serviço.
Deixem-me assim resolver o problema por ele (Telegraph desde já fica concedida a autorização para utilizarem este texto se assim desejarem).
Como dizia em 2009 a polémica relativamente ao método sempre existiu. Sempre os puristas acusaram o mesmo de produzir autómatos sem sensibilidade musical nenhuma e sempre existiram várias teorias sobre os danos futuros do mesmo - ou seja quem por ele aprendesse seria incapaz de mais tarde interpretar correctamente e seguir profissionalmente uma qualquer carreira enquanto violinista.
O método baseia-se na repetição mas não é verdade que seja necessário começar aos 5 anos ou menos. Pode-se começar mais tarde e até pode ser utilizado em adultos. É um método que se foi aperfeiçoando e que nas suas versões mais recentes incorpora muitas das técnicas clássicas sobretudo a partir de um nível em que efectivamente isso faz sentido. É um método que essencialmente elimina as dificuldades dos primeiros passos tornando a aprendizagem menos solitária (através de aulas de grupo regulares) e menos competitiva (incentivando a colaboração entre alunos). É um método que procura resolver no caso do Violino a relação com o instrumento numa posição pouco natural. Não é a única forma de começar? Não, não é. Será a melhor? Não sei. Mas sei que, por ter experimentado a forma clássica, pelo menos pior não será.
Sei também que todas as afirmações quanto aos vícios introduzidos são falsas. E sei-o por vários exemplos que conheço. E note-se que o método não tem por pretensão criar profissionais e que muitas vezes as crianças ou adolescentes que o querem fazer após a fase de iniciação passam a utilizar métodos mais clássicos - sem qualquer problema.
Em resumo a história de vida de Shinichi Suzuki pode até ter sido diferente da que ele contou. Não é por isso que não deixou de verdadeiramente ter inventado uma forma diferente e eficaz de democratizar o ensino do violino. Colocar num titulo de um artigo "Violin teacher Suzuki is the biggest fraud in music history, says expert" é simplesmente péssimo jornalismo.
Esta semana leio no dia 25 de Outubro este artigo do teoricamente insuspeito Telegraph. O meu primeiro comentário relativamente a esta noticia é que fica provado que o problema do mau jornalismo não se encontra limitado a Portugal. E explico a razão deste meu comentário que me perdoem os meus amigos jornalistas (e são alguns).
O problema com este artigo é que se coloca ao serviço dos que sempre atacaram o método desta vez colocando em causa o passado do Suzuki como se isso justificasse de alguma forma o mérito ou demérito do método quando nada no que é ensinado hoje em dia depende efectivamente desse passado. Ou seja nem sequer quero por em causa a veracidade ou falsidade da fonte citada, o facto é que se se utiliza esse argumento para colocar em causa a validade do método então diria eu que já que o infeliz japonês já não se pode defender caberia ao jornalista tentar perceber se realmente o facto relatado influi ou não no que é ensinado. Não o fazendo está a prestar um péssimo serviço.
Deixem-me assim resolver o problema por ele (Telegraph desde já fica concedida a autorização para utilizarem este texto se assim desejarem).
Como dizia em 2009 a polémica relativamente ao método sempre existiu. Sempre os puristas acusaram o mesmo de produzir autómatos sem sensibilidade musical nenhuma e sempre existiram várias teorias sobre os danos futuros do mesmo - ou seja quem por ele aprendesse seria incapaz de mais tarde interpretar correctamente e seguir profissionalmente uma qualquer carreira enquanto violinista.
O método baseia-se na repetição mas não é verdade que seja necessário começar aos 5 anos ou menos. Pode-se começar mais tarde e até pode ser utilizado em adultos. É um método que se foi aperfeiçoando e que nas suas versões mais recentes incorpora muitas das técnicas clássicas sobretudo a partir de um nível em que efectivamente isso faz sentido. É um método que essencialmente elimina as dificuldades dos primeiros passos tornando a aprendizagem menos solitária (através de aulas de grupo regulares) e menos competitiva (incentivando a colaboração entre alunos). É um método que procura resolver no caso do Violino a relação com o instrumento numa posição pouco natural. Não é a única forma de começar? Não, não é. Será a melhor? Não sei. Mas sei que, por ter experimentado a forma clássica, pelo menos pior não será.
Sei também que todas as afirmações quanto aos vícios introduzidos são falsas. E sei-o por vários exemplos que conheço. E note-se que o método não tem por pretensão criar profissionais e que muitas vezes as crianças ou adolescentes que o querem fazer após a fase de iniciação passam a utilizar métodos mais clássicos - sem qualquer problema.
Em resumo a história de vida de Shinichi Suzuki pode até ter sido diferente da que ele contou. Não é por isso que não deixou de verdadeiramente ter inventado uma forma diferente e eficaz de democratizar o ensino do violino. Colocar num titulo de um artigo "Violin teacher Suzuki is the biggest fraud in music history, says expert" é simplesmente péssimo jornalismo.
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