domingo, 1 de novembro de 2009

Castrato - Dicionário de termos musicais


Este termo vem a propósito de um disco que estive a ouvir nos últimos dias, Sacrificium de Cecília Bartoli. Os Castrati (plural de Castrato) são cantores masculinos que por via de uma operação cirúrgica que consiste no corte do canal proveniente dos testículos (ou mesmo a sua remoção), operação essa efectuada quando as crianças tinham entre 7 a 12 anos, desenvolviam uma voz correspondente aos registos femininos.

Na verdade a operação sendo efectuada antes da puberdade o corpo do castrato continuava a desenvolver-se e como consequência indirecta da operação não só o registo se tornava mais agudo mas também a capacidade vocal aumentava em função do aumento da caixa respiratória.

Embora possivelmente houvesse outras razões posteriores o aparecimento dos Castrati deve-se fundamentalmente à proibição de haver mulheres a cantar nas igrejas sendo dessa forma necessário encontrar-se quem fosse capaz de cantar com qualidade (o canto em falsetto não produzia os resultados desejados no que diz respeito à qualidade do som) as vozes mais agudas.

Os castrati apareceram no século XVI tendo persistido até ao final do século XIX. No apogeu deste tipo de operação Nápoles era uma autêntica fábrica destes cantores recrutados tantas vezes fruto da simples miséria ou da ganância das suas famílias. Infelizmente a operação não era sinónimo de sucesso financeiro garantido sendo que a maioria dos rapazes assim exportados para as várias cortes da Europa não conheciam o sucesso. Na verdade apesar do intensivo treino a que eram submetidos e que lhes assegurava uma capacidade toráxica fora do comum (ajudados pela própria alteração fisiológica como já explicamos) isso não era garantia de talento.

Os castrati mais famosos terão sido Farinelli  e Cafarelli aliás ambos recordados no album de Cecila Bartoli já foi a escola que os formou que serviu de exemplo à cantora. Uma das árias presentes no segundo disco é precisamente "Ombra mai fu" da ópera Xerxes escrita por Handel para Cafarelli.

Pode parecer inacreditável mas existe uma gravação do ultimo castrato a dirigir o coro da capela Sistina que embora não sendo de grande qualidade técnica é um documento que acreditamos possam gostar de ouvir. Podem ouvir Alessandro Moreschi (1858-1922) aqui. Podem também ouvir o Avé Maria de Gounod pelo mesmo artista. Notem que esta gravação tem 100 anos, há óbvias falhas no inicio da gravação que não sei se serão do cantor ou da gravação, inclino-me para serem do cantor que nesta altura já não estava no pico das suas capacidades.

Quanto ao disco que de certa forma deu origem a este post, Sacrificium de Cecilia Bartoli oiçam aqui a própria a explicar a concepção do seu disco. Recomendo também o site oficial onde poderão ficar a saber muito mais sobre os castrati. Quanto ao trabalho da Cecila Bartoli mais uma vez é de uma notável seriedade artistica que nestes tempos de consumo imediato e rápido só se pode saudar. Excelente trabalho desenvolvido com pesquisa e talento. Podem ouvir aqui uma das arias do seu trabalho .A capa do disco é igualmente fabulosa em termos de conceito.

Oportunidades na Amazon