Se na décima quarta canção continuávamos no domínio dos sonhos nesta décima quinta e penúltima canção do ciclo Robert Schumann não os abandona totalmente muito embora agora sejam expressos na expressão do paraíso que não se entende completamente se será real ou uma expressão do desejo de deixar o mundo físico. A canção na partitura está marcada como devendo ser cantada de forma muito viva (com as duas ultimas estrofes - de forma muito expressiva). É nessas ultimas duas estrofes que o poeta marca o desejo de partir ....
Para poderem ouvir esta canção mantenho hoje a escolha de Fischer-Dieskau em Salzburgo (1956) que podem ouvir aqui.
O poema em alemão:
Aus alten Märchen winkt es
hervor mit weißer Hand,
da singt es und da klingt es
von einem Zauberland;
wo bunte Blumen blühen
im gold'nen Abendlicht,
und lieblich duftend glühen
mit bräutlichem Gesicht;
Und grüne Bäume singen
uralte Melodei'n,
die Lüfte heimlich klingen,
und Vögel schmettern drein;
Und Nebelbilder steigen
wohl aus der Erd' hervor,
und tanzen luft'gen Reigen
im wunderlichen Chor;
Und blaue Funken brennen
an jedem Blatt und Reis,
und rote Lichter rennen
im irren, wirren Kreis;
Und laute Quellen brechen
aus wildem Marmorstein,
und seltsam in den Bächen
strahlt fort der Widerschein.
Ach! könnt' ich dorthin kommen,
und dort mein Herz erfreu'n,
und aller Qual entnommen,
und frei und selig sein!
Ach! jenes Land der Wonne,
das seh' ich oft im Traum,
doch kommt die Morgensonne,
zerfließt's wie eitel Schaum.
A tradução em português a partir de uma versão inglesa:
Velhos contos de fada acenam-me
com uma mão branca
Cantos e ecos
de uma terra mágica
Onde desabrocham flores coloridas
num crepúsculo de ouro
que brilham docemente
como faces de noivas
E verdes árvores cantam
antigas melodias
e a brisa secretamente as transporta
e os passaros nelas gorjeiam
E o nevoeiro se levanta
brotando da terra
dançando aereamente
numa coreografia fantástica
E faíscas azuis queimam
cada folha e cada galho
e luzes vermelhas correm
em loucos aneis nebulosos
E fontes nascem ruídosas
de selvagem mármore branco
e em estranhos corregos
fazem brilhar ao longe os reflexos
Ah! Se eu pudesse lá entrar
o meu coração seria feliz
toda a angústia desapareceria
e poderia ser livre e abençoado!
Oh, essa terra de felicidade,
vejo-a muitas vezes nos meus sonhos
Mas no sol da manhã
derrete como simples neve.