sábado, 31 de janeiro de 2009

Haydn - Os concertos para violino

Estou a escrever este post literalmente ao mesmo tempo que estou a ouvir no quarto ao lado o meu filho a estudar precisamente um destes concertos de Haydn. Este post insere-se na série de posts que estou a escrever por ocasião do 200º aniversário do falecimento de Haydn.

Haydn escreveu 4 concertos para violino dos quais apenas 3 chegaram aos nossos dias e nenhum no documento original. Destes concertos há pelo menos 2 que são relativamente conhecidos dado que fazem parte dos métodos de ensino e do reportório para esse efeito de alguns métodos, entre os quais o método Suzuki de que falámos há uns dias.

O Concerto nº 1 em Dó Maior Hob VIIa/1, que é aquele que estou a ouvir em som de fundo enquanto escrevo, e que foi composto numa data que pode variar entre 1760 e 1765 e de que vos proponho ouvir o primeiro andamento por Joshua Bell (uma das grandes promessas de jovens violinistas da actualidade) aqui. Já agora proponho-vos que ouçam uma outra versão por Pinchas Zukermann aqui e me digam qual preferem. Temos aqui uma quesilia familiar dado que eu prefiro o segundo enquanto o meu filho (que entretanto veio ter comigo) prefere o primeiro ...

A propósito dos outros concertos de Haydn para violino gosto especialmente do Concerto nº4 em Sol Maior (Hob VIIa/4) composto em 1769 (?) de que vos proponho ouvir aqui uma versão do ano passado do segundo andamento, continuando em família com o meu filho ... Não foi propriamente perfeito mas numa audição às vezes os nervos levam a melhor. Este andamento para mim é lindíssimo e o meu preferido de todos os concertos de Haydn. Oiçam aqui uma outra versão de um violinista Hungaro. Neste caso não há dúvida e a familia prefere unanimente a primeira versão !

Tchaikovsky - Concerto para Violino (Op. 35) - Terceiro Andamento

O conjunto de posts sobre este concerto começa com este post em que descrevemos o concerto no seu conjunto. Neste outro post falamos sobre o primeiro andamento em maior detalhe e neste falamos do segundo andamento.

O terceiro andamento é tocado sem interrupção a seguir ao segundo partindo do decrescendo que caracteriza o fim desse andamento.

Como referimos este andamento tem a forma de um "rondo" o que simplificando significa que existe um estribilho repetido várias vezes na forma de vários desenvolvimentos temáticos. Porém contrariamente à prática comum em que esse tema era colocado logo no inicio neste caso Tchaikovsky optou por fazer uma breve introdução.

O andamento no seu conjunto é deve ser sempre interpretado com grande vivacidade como aliás o tempo indicado (Allegro Vivacissimo) reflecte na perfeição.

Como é usual nos concertos do período romântico o fim do concerto caracteriza-se por uma série de alternâncias entre o violino e a orquestra em que o solista demonstra em cada solo toda a sua técnica numa progressão feérica que conduz ao inebriamento do ouvinte, um pouco como em certas danças de salão ou mesmo, que Tchaikovsky me perdoe em danças tribais.

Oiçam aqui uma interpretação maravilhosa deste andamento por Oistrakh que nos tem acompanhado neste concerto.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Glenn Gould (1932-1982) - O compositor e maestro

Retomamos hoje o nosso conjunto de posts sobre Glenn Gould. Fazêmo-lo falando de outras duas facetas que são pouco conhecidas. Curiosamente estas duas facetas enquadram a vida de Gould.

Gould foi compositor no inicio da sua vida tendo publicado uma dúzia de peças originais e adaptado ou transcrito para piano algumas outras. De todas as suas composições o Quarteto para Cordas (Op. 1) é a mais significativa. Encontramos no You Tube não uma versão completa mas um extracto desta obra curiosamente interpretada por dois violinistas interessantes.

O primeiro violino Bruno Monsaingeon porque é o autor de uma série de videos sobre a vida de vários interpretes de música clássica, o segundo violino Giles Appap porque tive oportunidade de recentemente assistir enquanto ouvinte a uma master class dele aqui em Lisboa. É uma verdadeira figura ! Não conheço os dois outros executantes mas em relação a estes dois violinos não há mínima dúvida que são interpretes adequados para Gould ! Oiçam aqui o extracto de que vos estamos a falar.

A segunda faceta de Gould enquanto maestro em contrapartida apenas se revelou já no final da sua vida. Na verdade ao fazer 50 anos Gould considerava que tinha esgotado o reportório de piano que lhe interessava tocar e que por isso decidiu dedicar-se à direcção de orquestra. Infelizmente um pouco tempo de depois de ter tomado esta decisão Gould sofreu um ataque cardíaco tendo falecido poucos dias depois. Teve tempo para dirigir ainda uma peça de música de câmara de que não encontrei referências.

Recomendações de Música Clássica para o Fim de Semana

Este post também é publicado no blog Folhas Pautadas de que se recomenda a leitura para mais sugestões de música erudita.

Relembramos, como o fazemos de forma regular, que algumas destas sugestões não seriam possíveis sem o trabalho da Sercultur. No nosso blog temos um "widget" que passa outras sugestões e claro recomendamos como sempre a visita ao site cultura.sapo.pt.

Começamos como de costume pelo sul do país (um dia hei-de mudar esta ordem para ser mais democrático e começar pelo norte), no Convento de Santo António (Loulé) teremos o Centro de Expressão Artística de Loulé - Ensemble de Flautas e Coral Ideias do Levante num concerto no Sábado 31 de Janeiro pelas 21:30. Serão interpretadas obras de autores de vários períodos da história da música entre os quais Corelli e Quantz. Conjunto dirigido pelo professor Francisco Brazão.

Um pouco mais a norte em Portalegre teremos o "Projecto Haydn" pelo Ensemble Contrapunctus no Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre. Não é exactamente no fim de semana (o concerto é na Segunda-Feira 2 de Fevereiro às 21:30) mas fica já aqui a sugestão. O Ensemble Contrapunctus é constituído por José Pereira (violino I), Arthur Soulès (violino II), Alexandre Delgado (viola) e Guenrikh Elessine (violoncelo),

Ainda em Portalegre (demorou a chegar a estas recomendações mas nos ultimos tempos tem sido uma cidade com bastante oferta) teremos ainda no Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre mas no Sábado 31 de Janeiro às 21:30 o Grupo Coral de Lagos e Inês Simões (Soprano) dirigidos por Vera Batista. Será interpretado o Requiem de John Rutter.

Passando agora para Lisboa teremos o quarteto Capela neste caso acompanhados por Miguel Carvalhinho (Guitarra). Este concerto também não é no fim de semana mas sim na segunda-feira dia 2 de fevereiro às 19h. Serão interpretadas obras de Haydn, Boccherini e Schubert.

Continuando em Lisboa duas sugestões do nosso blog de visita obrigatória, Belogue de Notas. Uma no domingo 1 de fevereiro às 11h no CCB o Grupo Vocal Olisipo e na segunda-feira às 21:30 na Sé de Lisboa o Coro Gregoriano de Lisboa num concerto que marca o vigésimo aniversário do GCL.

Em Santarém recital de Órgão na Igreja de São Nicolau no Sábado pelas 17:30 por António Esteireiro inserido no "Ciclo de Concertos de Música de Órgão" organizado pela Câmara Municipal de Santarém, Diocese e Santa Casa da Misericórdia de Santarém.

Na invicta cidade do Porto teremos ainda um "Concerto de Ano Novo" na Fnac do GaiaShopping pela Academia de Música de Vale de Cambra no Sábado 31 de Janeiro pelas 15:30.

Em Braga no Museu Nogueira da Silva (Av. central) teremos um recital de Recital de Violino, Piano e Violoncelo por Luis Pacheco Cunha, Daniela Ignazzitto e Catherine Strynckx. Sábado 31 de Janeiro às 18h.

Em Guimarães teremos a ópera "Amor de Perdição" de João Arroyo no Centro Cultural Vila Flor no Sábado 31 de Janeiro às 22h.

Ainda em Guimarães no Paço dos Duques de Bragança teremos Emanuel Salvador e Ieuan Jones num recital de violino e Harpa. Será no dia 1, domingo pelas 16:30. Concerto por ocasião do 150º aniversário da morte do compositor L. Spohr.

Em Viana do Castelo no lindíssimo Teatro Municipal Sá de Miranda teremos no Sábado 31 de Janeiro pelas 21:30 um concerto pela Orquestra Sinfónica EPMVC num programa que inclui obras de Weber, Tchaikovsky e R. Bowden. Orquestra dirigida por Miguel del Castillo.

Finalmente em Vila real na Torre de Quintela teremos o Eire Trio pelas 16:00 de Sábado num recital de violino, contrabaixo e harpa. O Eire Trio é formado por Flávio Azevedo (violino), Rui Leal (contrabaixo) e Eleonor Picas (harpa).

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Tchaikovsky - Concerto para Violino (Op. 35) - Segundo Andamento

O conjunto de posts sobre este concerto começa com este post em que descrevemos o concerto no seu conjunto. Neste outro post falamos sobre o primeiro andamento em maior detalhe.

Quanto ao segundo andamento que é um Andante em Sol Menor na forma de uma Canzonetta (uma forma musical derivada da canzona proveniente de Itália no século XVI). Esta forma típica dos grandes concertos românticos é dividida em três partes.

Uma primeira parte que serve de introdução de que se encarregam os sopros, depois o tema principal que é interpretado e introduzido para depois a terceira parte retomar de novo o inicio fechando assim o segundo andamento num piano de que se passa sem interrupção para o terceiro andamento.

Oiçam aqui David Oistrack a interpretar este andamento.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

As Dez Melhores Pesquisas da Semana

Mais uma vez esta semana Portugal liderou o número de visitas com 410 contra 319 do Brasil e 23 da França que manteve o terceiro lugar com 23 visitas. Em termos de cidades Lisboa manteve a liderança com 184 visitas e 57 da invicta cidade do Porto. São Paulo ficou em terceiro com 42 visitas.

Quanto às 10 melhores pesquisas desta semana aqui vão sem nenhuma ordenação:

1. glenn gould frases : Uma das frases de Gould de que mais gosto tem a ver com a expressão do seu gosto por Bach. Dizia Gould "Se um dia tivesse que passar a minha vida numa ilha deserta e só pudesse tocar e ouvir obras de um único compositor então esse compositor seria Bach. Não consigo pensar noutra música tão auto-contida que me emocione tão completamente e que tenha um valor intrínseco para além

2. locatelli compositor : Compositor barroco italiano. Leiam uma curta biografia aqui.

3. quais os melhores compositores do período romântico : Se no período barroco é possível estabelecer um conjunto de três nomes incontornáveis (Bach, Vivaldi e Handel) e se no período clássico temos também um trio de igual peso (Haydn, Mozart e Beethoven) já no período romântico é muito mais difícil estabelecer um novo trio. Se tivesse mesmo de escolher três só para manter os período equilibrados escolheria Mendelssohn, Brahms e Tchaikovsky mas ao fazê-lo deixaria de fora muitos ...

4. william kapell, pianista biografia: William Kappel é um grande pianista americano (1922-1953) que morreu num trágico acidente de avião perto de São Francisco. No seu site oficial aqui têm uma história muito completa.

5. a primeira gravação de herbert von karajan : Segundo o site oficial de Herber von Karajan a primeira gravação de Herbert vo karajan foi em 1939 tendo gravado para a deutsche Gramophon um disco com a Terceira Sinfonia de Beethoven, a Nº 40 de Mozart e a Abertura dos cantores de Nuremberga de Wagner. Porém a wikipédia referencia em 1938 uma gravação com da abertura da Flauta Mágica. A Orquestra poderá ter sido a Staatskapelle Berlin ou a Orquestra da RAI de Turim (concerto de Mozart). Vou tentar clarificar, entretanto se algum leitor conhecer a verdade por favor não se acanhe e partilhe o conhecimento.

6. musica clássica do filme lagoa azul : Esta é uma questão recorrente, eu entendo. Na altura também fiquei apaixonado pela Brooke shields ao ponto de ainda hoje ser das poucas actrizes (desculpem-me o exagero no epíteto mas são efeitos da paixão) de que me lembro o nome. É tão recorrente que vou fazer um post só para isso ... Para já a resposta curta é: Segundo este site a composição em causa é o Nocturno Op.9 nº2 de Chopin que podem ouvir aqui.

7. morreu-me teresa stich-randall : este é o titulo de um excelente artigo que João Bénard da Costa publicou no jornal "O Público" e que eu tinha transcrito neste blog há já uns meses e que podem ler aqui.

8. concerto para violino e violoncelo : Há alguns. Eu gosto especialmente do de Brahms Op. 102 de que falamos aqui.

9. assai significado: Ora bem esta é uma polémica engraçada. Há quem pense que isto significa ligeiramente mais rápido do que "molto" , assai querendo então dizer "bastante mais". Porém "assai" também pode querer dizer suficientemente caso em que significaria "menos". Ou seja Allegro Assai tanto pode ser interpretado como mais rápido do que Allegro ou mesmo Allegro Molto como também pode ser interpretado como "bastante allegro", o suficiente se quiserem. Pessoalmente inclino-me mais para a ultima das interpretações.

10. that we here highly resolve that these dead shall not have died in vain : A principio intrigou-me a frase. depois lembrei-me que esta faz parte do "Gettysburg Address" de Abraham Lincoln e percebi a razão da visita. Eu falei aqui da composição de Copland que utiliza partes desse discurso.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Shinichi Suzuki (1898 - 1998)

Shinichi Suzuki faleceu a 26 de Janeiro de 1998 ou seja há exactamente 11 anos depois de uma vida cheia de amor, "nurtured by love" como diz um dos seus livros.

Shinichi Suzuki foi um dos mais brilhantes pedagogos do século XX. Não deixou claro de ser polémico quanto baste para alguém que procurou mudar todos os préconcebidos acerca do ensino da arte, ou mesmo simplesmente do ensino.

Filho do dono da maior fábrica de violinos do Japão no período anterior à guerra Suzuki apenas começou a tocar violino aos 17 anos conta a sua biografia depois de ouvir Mischa Elman, violinista de origem ucraniana conhecido pelo seu som aveludado e poético, numa interpretação de Ave Maria de Schubert. Vive então vários anos na Alemanha sobre a guarda de Albert Einstein (sim o famoso físico) e onde estudou com Karl Klinger.

Durante a guerra a fábrica do seu pai é bombardeada e Suzuki decide então para sobreviver dar aulas de violino em Matsumoto, cidade para onde então se mudou. Nessa escola aperfeiçoa o método (Suzuki detestava que se utilizasse este termo) que viria a espalhar-se nos Estados Unidos e a Europa mais nos Estados Unidos dado que na Europa dado que no velho continente as velhas escolas de violino provaram ser um obstáculo mais difícil de ultrapassar.

Este método, ou melhor esta filosofia baseia-se na axioma de que "o talento educa-se" ou seja que as capacidades das crianças dependem do ambiente em que se inserem e que se devidamente estimuladas todas podem aprender música, ou a bem dizer qualquer tipo de arte.

A pedagogia inerente ao método repousa num método de imitação semelhante ao processo de aprendizagem da língua materna que torna possível a aprendizagem de um instrumento a partir dos três anos.

Pese a polémica, alguns erradamente pensam que esta filosofia produz autómatos, não compreendendo que na realidade isso é tanto verdade quanto é verdade que todos nós somos capazes de nos exprimir de forma muito diversa, muito embora todos tenhamos aprendido a falar da mesma maneira, com as mesmas primeiras palavras, pelo mesmo processo de repetição, de tentativa e erro.

Shinichi Suzuki foi o primeiro grande democratizador da música levando a sua aprendizagem literalmente a todos os cantos do mundo, a todas as classes sociais. No que diz respeito aos "autómatos" saibam por exemplo que violinistas tão diferentes como Nigel Kennedy ou Takako Nishizaki aprenderam por este método.


Quanto à democratização se não acreditam basta verem estas fotos de crianças no Perú e em El Salvador por exemplo. Em Portugal existem também várias escolas que utilizam este método. Perdoarão certamente que vos recomende a Academia de Música de Lisboa, vejam aqui no You Tube a Orquestra Os Violinhos desta escola.


Shinichi Suzuki faleceu quando dormia, provavelmente e merecidamente em paz consigo e com o mundo, por lhe ter dado a beleza possível. Que falta faz hoje ...

domingo, 25 de janeiro de 2009

Tchaikovsky - Concerto para Violino (Op. 35) - Primeiro Andamento

A análise deste concerto é em grande parte análise baseada num programa da BBC 3 que podem e devem ouvir aqui.

Como referimos no nosso primeiro post sobre este concerto estamos a falar de uma obra de 1878. O primeiro andamento é um Allegro Moderato. Trata-se muito mais de uma obra lírica do que uma obra "virtuosa" no sentido em que é evidente o profundo desejo de expressão mais do que a procura da dificuldade, apesar da óbvia dificuldade técnica deste concerto ainda hoje considerado uma das peças mais difíceis do reportório para violino.

A titulo de exemplo das várias formas de expressão desse lirismo podemos por exemplo referir - técnica aliás frequentemente utilizada por Tchaikovsky - uma espécie de anuncio do tema que depois de criada a tensão passado um tempo, aparece na sua totalidade. Técnica profundamente cinematográfica.

Este primeiro andamento na boa forma clássica adopta a forma de sonata com dois temas belíssimos num desenvolvimento que utiliza formas tão variadas como a Contradansa (dança de origem Espanhola) ou mesmo estilização de melodias populares russas a um tal ponto que resultam irreconhecíveis a não ser pelo ambiente criado. Esta mistura resulta num ambiente de verdadeiro frenesim musical que faz deste primeiro andamento um momento inesquecivel na história da música.

Seguindo a recomendação da nossa leitora do Blog Fantasia Músical escolhemos desta vez Oistrack para ilustrar este andamento que podem ouvir aqui (primeira parte) e aqui (segunda parte). Não é que o prefira em relação a Heifetz que tinha escolhido quando vos descrevi o concerto no seu conjunto mas na verdade esta interpretação de Oistrack tem uma clareza e uma pureza notável. Outra caracteristica que me agrada bastante é que não está ainda "poluída" por alguns maneirismos de outras interpretações da segunda metade do século XX.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Tchaikovsky - Piano Concerto nº 1 (Op. 23) em Si Bemol Menor

Juntamente com o concerto para violino esta é uma das obras mais conhecidas e interpretadas de Tchaikovsky. Foi composto entre 1874–75 e tal como o concerto para Violino de que falámos aqui foi uma obra inicialmente bastante mal recebida pelos mentores de Tchaikovsky.

Na verdade quando Tchaikovsky interpretou o seu concerto em Janeiro de 1875 para recolher a opinião de Nikolai Rubinstein and Nikolai Hubert, Tchaikovsky tencionava dedicar o concerto a Rubinstein, um dos pianistas de maior reputação do seu tempo este teceu criticas durissimas ao concerto julgando-o não só intocável como também mal composto e banal. Face a estas criticas recomendou ainda uma série de modificações que felizmente Tchaikovsky recusou introduzir.

Obviamente o compositor ficou muito magoado com as observações alterando a sua intenção e dedicando o concerto a Hans von Bullow o maestro e pianista alemão de que já falamos por exemplo nesta nossa lista de melhores maestros.

O concerto foi estreado a 25 de Outubro de 1875 em Boston com Hans von Bullow ao piano e Benjamin Johnson Lang dirigindo a orquestra. Alguns anos mais tarde Nikolai Rubinstein viria a interpretar este concerto (1878 - Moscovo) o que obviamente deixaria Tchaikovsky muito feliz e de novo em paz com Rubinstein ao ponto de lhe vir a dedicar o seu segundo concerto para piano.

Este concerto em Si Bemol Menor é uma obra que do ponto de vista formal segue o padrão clássico de três andamentos (Rápido-Lento-Rápido). Sem dúvida que no seu conjunto é uma das obras que mais vezes oiço e uma das que prefiro. E nesta lista Tchaikovsky tem duas ... a outra sendo o Concerto para Violino.

O primeiro andamento começa num Allegro non troppo e molto maestoso para depois evoluir para um Allegro con spirito. A bela melodia e o primeiro tema com o qual começa o concerto é uma melodia ucraniana altamente estilizada e inesquecível. Estou seguro que ao lerem isto estão já a trautear, pelo menos mentalmente esse primeiro tema. Mas se o primeiro tema é inesquécível o segundo não deixa de ser igualmente marcante tornando estes vinte minutos de música (este primeiro andamento dura cerca de 20 minutos mais do que o conjunto dos dois outros andamentos) um dos momentos artisticos mais impressionantes que já ouvi. Oiça aqui Martha Argerich a interpretar este andamento.

O segundo andamento (Andantino simplice – Prestissimo) também se baseia numa composição de cariz popular brilhantemente estilizada por Tchaikovski. Depois da verdadeira batalha emocional que o primeiro andamento nos proporciona este andamento calmo, melancólico e bucólico é o contraponto ideal como num bom filme de suspense. Oiçam aqui a mesma interprete neste segundo andamento.

O terceiro andamento (Allegro con fuoco) que começa sobra a forma de um rondo. Depois da calma introduzida no segundo andamento estamos agora prontos para mais momentos de sensações fortes. Oiçam aqui este andamento também por Martha Argerich.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Recomendações de Quinta-Feira de Música Clássica ao Vivo

Este post também é publicado no blog Folhas Pautadas.

Como de costume começamos no sul do país com um "Concerto Conversado" (designação do ciclo em que se insere) intitulado "De Schubert a Cole Porter". Será no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Loulé no dia 24 pelas 16h30. O programa é muito variado desde o reportório romântico para canto e piano até Gershwin e Cole Porter. Os solistas serão Rui Baeta (barítono) e João Vasco Almeida (piano) com comentários de António Ferreira.

Integrado no "5º Festival Terras sem Sombra" - Festival de Música Sacra do Baixo Alentejo» teremos o concerto "Pedra Irregular: O nascimento do Barroco em Portugal" - pelo agrupamento Sete Lágrimas na Basílica Real de Castro Verde. Será no dia 24 de Janeiro Sábado pelas 21:30. Serão interpretadas obras de alguns compositores barrocos como Carlos Seixas, Francisco António de Almeida, Diogo Dias Melgaz e António Teixeira.

Em Portalegre (sempre que escrevo este nome nunca consigo deixar de me lembrar de João Villaret dizendo Portalegre, cidade do alto alentejo cercada ... ). Em Portalegre dizia cidade onde então ... teremos um concerto pelos alunos de Sopro da Academia Superior da Metropolitana no Domingo 25 de Janeiro pelas 18h na Sala do Capítulo do Convento de S. Bernardo, Portalegre. Serão interpretadas obras de Beethoven, Leos Janacek e Jean Françaix. Mais informações aqui.

Em Lisboa para além do concerto dos Violinhos de que já falei aqui , recomendamos ainda no Domingo 25 de Janeiro às 18h no Conservatório de Música de Cascais um Concerto Didático para pais e filhos pelos Solistas da Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras dirigidos pelo Maestro Nikolay Lalov

No Porto, na Invicta cidade, teremos David Amaral e António Justiça num recital de Guitarra Clássica. Será na Sexta-Feira dia 23 pelas 23h (não é engano, são mesmo dois "23") no Clube Literário do Porto.

Em Alcains (podem ver mais detalhes em Folhas Pautadas ou Fantasia Musical teremos no Sábado 24 de Janeiro pelas 21h um concerto pela Orquestras de Cordas e de Sopros do Conservatório de Castelo Branco, com a participação da oboísta Bárbara Patrício. A orquestra será dirigida por Paulo Videira.

Finalmente integrado no "FAN - Festival de Ano Novo 08/09" teremos um concerto comentado por António Victorino d'Almeida no Teatro de Vila Real. Será no Sábado dia 24 de Janeiro pelas 16h. O programa inclui obras de José Vianna da Mota, Armando José Fernandes, António Victorino d'Almeida, Anton Webern, Sergei Prokofiev e Béla Bartók. Este programa repete no Domingo também às 16h.

«Shinichi Suzuki, a Pedagogia do Amor» - Os Violinhos

Antecipando as nossas habituais recomendações de quinta-feira aqui fica para já este destaque. No Sábado no Museu do Oriente poderão ver um concerto muito especial dos Violinhos. Especial porque é uma homenagem a Shinichi Suzuki que inventou o método pelo qual estes jovens começam a aprendizagem do seu instrumento.

Será no Sábado às 16h no Auditório do Museu do Oriente e para quem já assistiu a concertos dos violinhos fica também a nota de que este será um concerto diferente ...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Tchaikovsky - Concerto para Violino (Op. 35)

O concerto para violino de Tchaikovsky é uma das obras que está certamente na minha lista de obras preferidas, uma daquelas que não resisto de ouvir de vez em quando e que nessa altura ouço vezes e vezes seguidas. Tive também a sorte de ouvir este concerto ao vivo no Grande Auditório da Gulbenkian por duas vezes e é uma das memórias que garanto não esquecerei.

Este concerto em Ré Maior (Op. 35) foi composto em 1878 logo após o malogrado casamento do compositor com Antonina Miliukova e num período em que estava em quase depressão. Teria ouvido nesse período interpretado pelo seu aluno Yosif Kotek a Sinfonia Espanhola do compositor francês Lalo que teria sido assim a inspiração para este magnífico concerto.

Inicialmente dedicado a Leopold Auer (está na nossa lista de melhores violinistas do século aqui) este começou por considerar o concerto intocável (e a verdade é que é uma das peças mais difíceis do reportório violinistico) embora o tenha interpretado mais tarde na sua carreira. Perdeu no entanto com essa falta de visão a dedicatória que Tchaikovsky acabaria por mudar para Adolf Brodski que interpretou a estreia em Viena a 4 de Dezembro de 1881

O concerto está organizado numa forma clássica em três andamentos

Primeiro Andamento (Allegro moderato)
Segundo Andamento (Canzonetta Andante)
Terceiro Andamento - Finale (Allegro vivacissimo)

Hoje não vamos descrever cada um deles em detalhe (podem ver essa descrição carregando nos links respectivos), por agora oiçam aqui o primeiro andamento por Jascha Heifetz (fotografia deste excepcional violinista interpretando esta obra à esquerda).

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Festival da Canção - Uma (forte) sugestão de votação

Sim, eu sei que não é música clássica, mas trata-se de um amigo e isso para mim supera a diferença de género musical.

Ser músico, compor como o Rui Videira apresentar-se a concurso, chegar aos 24 últimos merece já só por si respeito.

Para além disso a canção (e admito com franqueza que possa ser suspeito e muito parcial) é excelente.

Assim convido-vos a visitarem o site da votação que decorre entre os dias 19 e 30 de Janeiro, ouvirem a canção do Rui e se gostarem (como eu) votem (bem) ! A canção chama-se "Amar mais forte que o vento", a intérprete é Eva Danin o autor e compositor, claro Rui Videira.

Apontem o vosso browser para aqui e votem bem !

domingo, 18 de janeiro de 2009

Pesquisas Interessantes da Semana (#20)

o que é um duplo concerto? : Um concerto duplo é um concerto que é composto para dois instrumentos solistas. Por exemplo o Duplo Concerto para Violino e Violoncelo de Brahms de que falámos aqui.

wilhelm backhaus : Pianista e pedagogo alemão, também conhecido como o leão do teclado pelo que merece toda a nossa simpatia :-), de que falámos aqui .

violinista sarah chang: É uma questão bastante frequente. Publicamos uma pequena biografia aqui.

canções de edit piaf: Em tempos escrevemos um post sobre os compositores de Edith Piaf neste blog, aqui . Ainda o mantemos por cá mas agora tem um poiso mais natural, um novo blog ainda na sua tenra infância aqui.

bibliografia de henry purcell : Bibliografia não temos ainda. Escrevemos uma pequena nota biográfica aqui.

ultimas musicas que chopin escreveu: É sempre uma questão que nos interessa. Conhecer a ultima obra em que um compositor pensou antes de falecer, como se nessa obra se fosse encerrar um qualquer segredo. E se há obras em que, pelo facto do compositor saber que está para breve a sua hora (por exemplo "Four Last Songs" de Richard Strauss) em outros casos apesar disso o compositor procura exactamente o inverso libertando-se dessa forma do fardo opressor da morte. No caso de Chopin a sua ultima obra (apenas publicada postumamente) foi uma Mazurka a Nº4 do Op. 68. A ultima obra publicada em vida foi uma Sonata para Piano e Violoncelo (Op. 65)

sonetos em portugues das quatro estações vivaldi: Efectivamente já os traduzimos estão aqui. Trata-se de Sonetos que eram lidos antes das interpretações das peças. Podem ler aqui uma tradução minha desses sonetos.

quantas, foram, as, obras, de, vivaldi, : É dificil dizer exactamente quantas foram. Na verdade não só Vivaldi foi um autor extraordinariamente prolífico como também naquele tempo o cuidado em registar as obras, todas as obras era bastante menor do que é nos nossos dias. Assim se considerarmos apenas as obras que chegaram até nós e se admitirmos que o catálogo de Peter Ryom está completo então estamos a falar de 791 obras (algumas chegaram incompletas ao nosso tempo). Quando por exemplo virem a seguinte linha num programa de concerto:

Concerto No. 1 em Mi Maior, Op. 8, RV 269 - "A Primavera"

Isto significa que é a oitava obra de Vivaldi e a obra número 269 no tal catálogo de Peter Ryom que conta 791 entradas.

lista melhores música erudita : Bom por enquanto temos apenas as "melhores" do período barroco que pode ler aqui.

importância da musica clássica nos nossos dias: A música clássica representa séculos de evolução estética. É por natureza uma forma quase totalmente abstracta de arte e como tal ideal para unir povos em torno do simplesmente belo. Leiam este post porque na verdade Daniel Barenboim explica muito melhor. E quando pensamos em paz pensemos em toda a paz em todos os tipos de paz.

musica clássica cansa? : Cansa ? Sim se estivermos a dançar a valsa cansa e muito !

Tchaikovsky - Duas obras para Orquestra

Antes de falarmos dos concertos para piano e Orquestra e do concerto para Violino e Orquestra, sem duvidas duas das obras mais conhecidas de Tchaikovsky não podemos deixar de falar de algumas obras dispersas compostas para Orquestra até porque entre essas se encontram também algumas das melodias que mais vezes ouvimos sem sabermos que estamos a ouvir uma obra de Tchaikovsky.

A primeira dessas duas obras é a Abertura 1812 (Op. 49) que foi encomendada a Tchaikovsky para festejar o aniversário da derrota das forças Napoleónicas quando da invasão da Russia. É uma obra muitas vezes executada e que coloca alguns problemas de execução dado que o compositor incluiu a utilização de canhões. É uma composição fortemente programática (por exemplo os canhões marcam momentos específicos nessa guerra) e com base em melodias russas. Podem ouvir esta obra aqui (primeira parte) e aqui (segunda parte).

A segunda dessas duas obras é a Fantasia Romeo e Julieta (esta peça não tem numeração) que contém uma das mais conhecidas melodias clássicas, o tema de amor tantas vezes repetido em inúmeros filmes. Curiosamente esta é uma obra que teve uma génese bastante complicada e dedicada a Balakirev, tendo começado numa obra apelidada Fatum que Tchaikovsky viria a destruir. Podem ouvir aqui esta obra (primeira parte) e aqui a segunda parte.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Glenn Gould (1932-1982) - O Escritor (Parte VI)

Esta é a sexta parte de um artigo que Glenn Gould escreveu para a revista High Fidelity em 1974. A entrevista que traduzo aqui a partir da versão original que podem encontrar aqui é do próprio Gould que desempenha o papel de entrevistado e entrevistador. A entrevista claro é também sobre o próprio Gould.

As cinco primeiras partes deste artigo estão aqui (primeira parte), aqui (segunda parte), aqui (terceira parte), aqui (quarta parte) e aqui (quinta parte)


Glenn Gould entrevista Glenn Gould sobre Glenn Gould High Fidelity, Fevereiro 1974.(Quinta Parte). g.g é Glenn Gould entrevistador, G.G. é glenn Gould pianista/compositor

g.g: Mr. Gould existe uma certa consistência no que disse mas parece-me que percorremos um longo caminho desde o concerto-vs-gravação com o qual começamos.

G.G.: Pelo contrário penso que andamos a fazer uma série de variações sobre esse tema e na verdade demos a volta ao circulo.

g.g.: Em todo o caso tenho apenas mais umas quantas perguntas para lhe colocar de que, provavelmente a mais pertinente agora é: Sem ser um membro frustrado da censura existe alguma outra carreira que lhe interesse?

G.G.: Pensei muitas vezes que gostaria de ser um prisioneiro.

g.g.: E acha que isso é uma carreira ?

G.G.: Oh certamente. Claro que no pressuposto que seria totalmente inocente de todas as acusações.

g.g.: Alguma vez lhe sugeriram que poderia sofrer do complexo de Myshkin?

G.G: Não e não posso aceitar o elogio. Simplesmente como disse nunca percebi a preocupação pela liberdade tal como é conceptualizada pelo mundo ocidental. Tanto quanto posso entender a liberdade de movimento tem apenas a ver com mobilidade e a liberdade de expressão está relacionada com a agressão verbal socialmente sancionada. Assim ser preso seria o teste perfeito da nossa mobilidade interior e da força que nos permitiria saír criativamente da situação humana.

g.g.: Mr. Gould embora esteja cansado noto aí uma contradição em termos.

G.G.: Não penso que realmente o seja. Penso também que existe uma geração mais nova que a nossa - tem a minha idade não tem?

g.g.: Assumiria que sim.

G.G.: Uma geração mais nova que não tem que lutar com esse conceito, para quem o factor competitivo não é uma componente inevitável da vida e que programam a sua vida sem tomarem isso em consideração.

g.g.: Está a tentar vender-me o neo-tribalismo ?

G.G: Não, na realidade não. Suspeito que as tribios competitivas foram as que nos puseram primeiro nesta barafunda mas como eu disse não mereço a designação de complexo de Myshkin.

g.g.: Bem a sua modéstia é lendária Mr. Gould mas o que o fez chegar a essa conclusão?

G.G.: O facto de que faria inevitavelmente pedidos aos meus captores - pedidos que um espirito verdadeiramente livre poderia evitar fazer.

g.g.: Tais como ?

G.G.: A cela teria de ser pintada em cinzento-marinha

g.g.: Acho que isso não seria um problema.

G.G.: Bem ouvi dizer que a reforma da lei penal envolve pintar as celas em cores primárias.

g.g.: Ah estou a ver.

G.G.: E claro teria de existir algum tipo de acordo relativo ao ar condicionado. Ventilação superior estaria fora de questão - tenho propensão para inflamações na traqueia - e claro assumindo que algum tipo de ventilação forçada fosse utilizada o regulador de humidade teria --

g.g.: Mr. Gould peço perdão pela interrupção mas acabou de me ocorrer que dado que nos disse já várias vezes hoje que sofreu uma experiência traumática no Salzburg Festspielhaus --

G.G.: Oh ! Não pretendia ter dado a impressão de uma experiência traumática bem pelo contrário. A minha infecção foi tão grave que consegui cancelar um mês inteiro de concertos retirar-me para os Alpes e viver a mais idílica e isolada experiência de vida.

g.g: Estou a ver. Posso agora fazer uma sugestão?

G.G.: Claro !

g.g.: Como sabe o velho Festspielhaus foi originalmente uma academia de equitação.

G.G.: Certo. Tinha esquecido isso.

g.g: E claro a parte de trás do edíficio está encostada a uma montanha.

G.G: Sim isso é verdade.

g.g.: E dado que é obviamente um homem viciado em simbolos - estou certo que essa sua fantasia do prisioneiro - pareceria-me que o Festspielhaus - a Felsenreitschule - com a sua ambiência Kafkiana montada na base de um penhasco com a memória da mobilidade equestre assombrando o seu passado e localizada ainda por cima na cidade onde nasceu o compositor cujos trabalhos tem tão frequentemente criticado, e dessa forma compromentendo o sua própria opinião sobre julgamentos estéticos --

G.G.: Ah mas eu critiquei-os sobretudo como provas de uma vida hedonistica.

g.g.: Como queira. O Festspielhaus, Mr. Gould é o local onde um homem com as suas ideias, um homem à procura do martirio deveria voltar.

G.G.: Martírio ? O que lhe deu esa impressão ? Não poderia de forma nenhuma voltar !

g.g: Por favro Mr. Gould tente perceber. Não poderia haver uma forma mais significativa de purificar a carne, de fazer ascender o espírito e certamente nenhuma forma com mais significado metafórico de exprimir o seu estilo de vida hermético, através do qual definir a sua procura pelo martirio autobiograficamente, tal como estou certo que um dia virá a fazer.

G.G: Tem de acreditar no que lhe digo. Não tenho tal demanda na mente.

g.g.: Sim tenho a certeza que deverá voltar Mr. Gould. Deverá mais uma vez pisar o palco do Festspielhaus, deverá voluntariamente, com felicidade mesmo submeter-se aos ventos gélidos que atravessam o palco porque só então e apenas então terá atingido o martirio que tão obviamente deseja.

G.G: Por favor não me interprete mal; estou sensibilizado pela sua preocupação. É apenas que nas palavras imortais de Mr. Vonnegut's Billy Pilgrim : "Ainda não estou pronto.

g.g. Nesse caso nas também imortais palavras do mesmo Mr. Vonnegut : "então aqui vai."

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Recomendações de Música Clássica ao Vivo (15.01.2009)

Este post também é publicado no Blog Folhas Pautadas. Como sempre algumas das recomendações que aqui fazemos devem-se aos nossos amigos da Sercutur de que se recomenda a visita em cultura.sapo.pt.

Começamos a nossa visita pelo país como é hábito pelo Sul . Assim no dia 17 Janeiro na Igreja do Carmo em Tavira pelas 21:30 teremos a Orquestra do Algarve com obras de Arnold Schoenberg, Britten e Brahms. A Orquestra será dirigida por Laurent Wagner. Serão solistas Fernando Guimarães (Tenor), Todd Sheldrick (Trompa). Entradas: €8,50.

Ainda no Algarve, agora em Loulé teremos o Coral Feminino "Outras Vozes" que irá apresentar no Arquivo Histórico Municipal de Loulé no dia 17 (Sábado) pelas 16h o seu mais recente álbum "(En)Cantando". A Entrada é Livre.

Na cidade de Setúbal no dia 18 de Janeiro (Domingo) no Club Setubalense às 16h terá lugar a audição da Classe de Piano da Professora Fátima Guerreiro.

Passando agora para a cidade de Lisboa teremos na Casa da América Latina na Sexta-Feira ao fim da Tarde (19h) um recital de Canto e Piano com Helena Vieira, Leonor Padinha, Luís Pereira e Nuno Lopes que pretende festejar este novo ano. A entrada é livre.

No Palácio Nacional de Queluz poderemos ouvir um Recital de Piano por Sergio Tiempo no dia 17 de Janeiro às 17h. O programa irá incluir obras de Bach, Haydn, Chopin, Ravel, Ginastera e Liszt. A entrada é livre.

No Centro Cultural de Cascais o Moscow Piano Quartet dará um concerto de homenagem a Haydn celebrando 200 anos desde o seu falecimento. Nada mais apropriado para um compositor que é apelidado o pai dos quartetos de cordas (para além da Sinfonia como já vimos). Será no Domingo 18 pelas 17h. O programa será inteiramente constituído por obras de Haydn como é natural.

Ainda em Lisboa e ainda no dia 18 de Janeiro no Centro Cultural de Belém teremos a Orquestra Metropolitana de Lisboa e Sol Gabetta (Violoncelo) dirigidos por Augustin Dumay. Será às 21h e serão interpretadas obras de Haydn e Mendelssohn.

Ainda na zona de Lisboa mais precisamente em Oeiras no Palácio dos Aciprestes, Domingo, 18 de Janeiro às 17h00 os Solistas da Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras apresentarão um concerto intitulado "A MÚSICA E A PINTURA" que assumirá a forma duma conversa sobre a Música e a sua estreita ligação com outras Artes. Serão interpretadas obras de Bach, Beethoven, Scriabin e G. Zlatev-Cherkin.

Um pouco mais a norte, em Santarém no Teatro Sá da Bandeira teremos um "Concerto de Ano Novo" por Bruno Monteiro (Violino) e João Paulo Santos (Piano) no Sábado dia 17 às 21:30. Entrada: €5.

Na invicta cidade do Porto teremos um Recital de Violino e Piano por Evandra Gonçalves e Ana Queirós no Clube Literário do Porto no Sábado 17 às 22:30. Entrada Livre.

Estamos em destaque no Cotonete







Caro Leitores

Bem este post é um tanto egocêntrico e por isso peço desculpa desde já. O nosso blog é destaque no Cotonete. Podem ler o texto aqui.

Entretanto e no mesmo Cotonete não deixem de visitar a secção Programas Clássica aqui onde podem encontrar excelentes programas do Pedro Torres, aqui .

Fiquem bem !

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Tchaikovsky - Óperas - A Dama de Espadas e Eugéne Onegin e

Tchaikovsky escreveu mais de dez óperas (onze para ser exacto). Entre a sua primeira ópera "The Voevoda" (Op. 3) e a sua ultima obra "Iolanta" Op. 69 (e que como já referimos foi estreada em simultâneo com o Quebra Nozes) decorreu quase toda a sua carreira. Algumas das óperas que compôs perderam-se e o que é certo é que apenas duas são actualmente interpretadas de forma regular no Ocidente.

A primeira destas Óperas Eugene Onegin (Op. 24) foi composta entre 1877 e 1878. Trata-se de uma ópera em 3 Actos e 7 cenas estreada em Moscovo a 29 de Março de 1879 dirigida por Nikolai Rubinstein. O libreto é de Konstantin Shilovsky e do irmão de Tchaikovsky baseado na novela em verso de Aleksandr Pushkin. Esta ópera conta a história de um homem com um conflito de consciência por ter recusado o amor. Oiçam aqui um extracto de uma ária cantada por Renee Fleming.

A segunda ópera que é ainda hoje interpretada é a Dama de Espadas (Op. 68) composta em 1890. Trata-se de uma ópera também em 3 Actos e 7 Cenas estreada em São Pertersburgo em 19 Dezembro de 1890 dirigida por Eduard Nápravník. O libretto é de Modest Tchaikovsky adaptado de uma história de Aleksandr Pushkin's (note-se porém que o próprio Tchaikovsky fez uma série de alterações ao mesmo durante a composição). Esta ópera conta a história dos resultados da obsseção. Oiçam aqui um extracto de uma ária por Plácido Domingo e Gorchakova.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Glenn Gould (1932-1982) - O Escritor (parte V)

Esta é a quinta parte de um artigo que Glenn Gould escreveu para a revista High Fidelity em 1974. A entrevista que traduzo aqui a partir da versão original que podem encontrar aqui é do próprio Gould que desempenha o papel de entrevistado e entrevistador. A entrevista claro é também sobre o próprio Gould.

As quatro primeiras partes deste artigo estão aqui (primeira parte), aqui (segunda parte), aqui (terceira parte) e aqui (quarta parte)


Glenn Gould entrevista Glenn Gould sobre Glenn Gould High Fidelity, Fevereiro 1974.(Quinta Parte). g.g é Glenn Gould entrevistador, G.G. é glenn Gould pianista/compositor


g.g.: Mas está essencialmente a falar como um reformador do século XVI.

G.G.: Na realidade sinto-me bastante próximo dessa tradição. Na realidade numa das minhas melhores criações notei que --


g.g.: Ora aí está um julgamento de ordem estetica !

G.G.: Mil desculpas -- deixe-me tentar outra vez. Numa ocasião anterior, fiz notar que eu, mais do que o heroi de Mr. Santayana´s sou "O Ultimo Puritano".


Santayana é um filósofo e escritor de origem Espanhola mas que celebrizou nos Estados Unidos com o romance "O Ultimo Puritano" de 1935.


g.g.: E não pensa que exista qualquer problema em conciliar a consciência individual do reformismo e a censura colectiva da tradição puritana? Ambos os caminhos parecem-me curiosamente misturados na sua tese e por aquilo que conheço nos seus documentários também.

G.G.: Bem não, não penso que exista qualquer inconsistência, porque no seu melhor - o que equivale a dizer na sua forma mais "pura" -- essa tradição envolvia uma perpetual divisão cismática. O melhor e mais puro -- e em qualquer medida o mais ostracizado -- dos individuos acabou nos vales dos Alpes como símbolo da sua rejeição do mundo da planície. Na verdade existe uma seita Mennonite na Suiça que equaciona a separação do mundo com a sua atitude.

g.g.: Seria justo sugerir que o Sr., pelo seu lado, relaciona esse afastamento com latitude ? Afinal criou o documentário "A ideia do Norte" como um comentário metafórico e não como um documentário factual.

G.G.: Sim isso é bem verdade. Claro muitos dos documentários falaram de situações de grande isolamento. Estações no ártico, na Newfounland, enclaves Mennonite e por aí fora.

g.g.: Sim mas tratavam-se de comunidades isoladas.

G.G.: Isso é porque a minha obra prima está ainda um pouco longe.

g.g.: São então esquissos autobiográficos?

G.G.: Não me compete a mim dizer isso.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Pesquisas Interessantes da Semana (#18)

Esta semana pela primeira vez desde há algum tempo as visitas vindas de Portugal (396) superaram as vindas do Brasil (326). A França voltou a assumir o terceiro lugar com 16 visitas.

Por cidades Lisboa foi responsável por 168 visitas a invicta cidade do Porto ficou em segundo com 53 visitas e São Paulo passou a terceiro com 51.

Quanto às pesquisas, tivemos algumas pesquisas interessantes como sempre.

o que é rückblick : Trata-se de uma palavra alemã que significa "retrospectiva" , olhar para trás se quisermos. Neste contexto acreditamos que quem estava a procurar poderia estar interessado no ciclo de canções Wintereise de que falamos aqui. A canção intitulada rückblick é a oitava do ciclo. Também pode tratar-se do terceiro andamento da terceira sonata para piano de Brahms que também é assim intitulado e de que falámos aqui.

violinhos oficial site : Esta é fácil. É aqui.
paganinus : Esta também é fácil. Vejam o site oficial aqui.
lilo eh eurico carrapatoso : Bem Eurico Carrapatoso é um dos mais interessantes compositores portugueses da actualidade. A primeira parte da pesquisa não entendo. No dia 15 de Fevereiro em que poderemos festejar o aniversário de Eurico Carrapatoso, nascido em Mirandela fará nesse dia 47 anos, fica prometido um post especial sobre o compositor. Por agora fiquem com esta emocionante composição intitulada "Pequeno poemário de Sophia" (extracto) aqui.
"filipe pereira" clarinete : Este é um interprete que felizmente já tive a sorte de ouvir várias vezes, a ultima das quais em Viana do Castelo no "Quarteto do Fim dos Tempos" de Messiaen e que se recomenda.
"carlos seixas" centenário : Bem em 2004 festejamos o tricentenário do seu nascimento. Falámos deste compositor barroco português aqui.

sonata tempestade (beethoven) : Trata-se da Sonata nº 17 para piano de que falámos aqui.
sinfonias de tchaikovsky : Bem já falamos das seis sinfonias compostas por Tchaikovsky, começando com a nº1 aqui.
concerto nº 05 bethoven : Só pode ser quinto concerto para piano que também já foi falado aqui.
concerto nº 3 para violino e orquestra paganini : Concerto em Mi Maior composto em 1826. Não encontrei no You Tube qualquer interpretação deste concerto em três andamentos na mais clássica das formas românticas de concerto. Vou ver se encontro para colocar no You Tube uma versão.

sonatas para violino glenn gould : Sinceramente não conheço qualquer sonata para violino de Glenn Gould. Efectivamente este extraordinário pianista compôs algumas peças mas o mais que se aproximou de uma sonata para violino foi num quarteto para cordas, precisamente o seu Opus 1.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Daniel Barenboim, a Música, Israel e a Paz

No passado Domingo a Directora Musical da Orquestra "Os Violinhos" na qual o meu filho toca chamou-nos a atenção para Daniel Barenboim e a sua posição no conflito existente no Médio Oriente entre alguns de Israel e alguns da Palestina e utilizo propositadamente esta expressão porque me recuso a aceitar a representatividade de quem escolhe de parte e outra a violência como resposta aos seus problemas.

Filipa Poejo disse-nos que Daniel Barenboim tinha citado a constituição do Estado de Israel na aceitação de um prémio à frente do Knesset (o parlamento israelita). Porque a guerra não para, porque ontem houve em Lisboa uma manifestação de apoio a Israel e uma outra a favor da Palestina em Faro , porque continuam a morrer inocentes em ambos os lados do conflito de alguns, crianças incluídas, vitimas que demasiado facilmente apelidamos de "efeitos colaterais", acho que é oportuno contemplarmos por um momento esse mesmo discurso que traduzi do Inglês.

A paz é sempre o caminho certo diz Barenboim "Israel tem de ter a coragem de não responder, de sempre escolher o caminho da paz". Este post é simultâneamente a favor do Estado de Israel e do Estado da Palestina e a favor dos seus verdadeiros representantes: Os que defendem a paz e a convivência. Os outros podem servir muitos interesses, politicamente muito válidos (ironia claro), mas esses interesses não serão certamente os dos povos de Israel e da Palestina.

Daniel Barenboim tem neste momento um passaporte Argentino, um passaporte Israelita (desde os 15 anos), um passaporte Espanhol (desde um famoso concerto em Ramallah) e desde 2008 um passaporte palestino também.

Coloquei também a versão em Inglês caso queiram ler o original (recomendo que leiam este artigo onde está incluído o discurso para compreenderem a profundidade da acção de Barenboim).

Sei que provavelmente me acusarão como acusaram Barenboim de idealismo, de ser "apenas" um músico (no caso dele, um ignorante no meu), de estar de fora do problema, de não perceber rigorosamente nada de geo-politica ou da dificuldade de sobrevivência de um Estado, das necessidades de "auto-defesa preventiva" ou outro qualquer conceito igualmente complexo. Não me importa isso. Uma coisa eu sei, raramente (ou nunca) a coragem é responder a uma bofetada com uma violenta tareia sobretudo se a podemos facilmente dar. E pronto aqui fica o discurso para vossa inspiração.

I would like to express my deep gratitude to the Wolf Foundation for the great honor that is being bestowed upon me today. This recognition is for me not only an honor, but also a source of inspiration for additional creative activity.

Queria exprimir a minha profunda gratidão à Fundação Wolf pela grande honra que me concedeu hoje. Este reconhecimento não é para mim apenas uma honra, mas também uma fonte de inspiração para aumentar a minha actividade criativa.

It was in 1952, four years after the Declaration of Israel’s Independence, that I, as a 10-year-old boy, came to Israel with my parents from Argentina.

Foi em 1952, quatro anos após a declaração de indepência de Israel que eu, então com 10 anos vim para Israel com os meus pais vindo da Argentina.

The Declaration of Independence was a source of inspiration to believe in ideals that transformed us from Jews to Israelis. This remarkable document expressed the commitment (I quote): “The state of Israel will devote itself to the development of this country for the benefit of all its people; It will be founded on the principles of freedom, justice and peace, guided by the visions of the prophets of Israel; It will grant full equal, social and political rights to all its citizens regardless of differences of religious faith, race or sex; It will ensure freedom of religion, conscience, language, education and culture” (end of quote).

A Declaração de Independencia foi uma fonte de inspiração para acreditar em ideais que nos transformaram a nós Judeus em Israelistas. Este documento notável exprimia o compromisso e passo a citar a constituição de Israel : " O Estado de Israel consagrará o desenvolvimento deste país para o benefício de todo o seu povo; será fundado nos princípios da liberdade, justiça e paz, guiado pelas visões dos profetas de Israel; Garantirá direitos iguais, sociais e políticos a todos os cidadãos sem prejuízo das diferenças de fé, raça ou sexo; Garantirá liberdade de religião, consciência, linguagem educação e cultura". Fim de citação

The founding fathers of the State of Israel who signed the Declaration also committed themselves and us (and I quote): “To pursue peace and good relations with all neighboring states and people” (end of quote).

Os fundadores do estado de Israel que assinaram a declaração também se comprometeram (e a nós também) e volto a citar "Prosseguir a paz e boas relações com todos os estados vizinhos e povos", fim de citação.

I am asking today with deep sorrow: Can we, despite all our achievements, ignore the intolerable gap between what the Declaration of Independence promised and what was fulfilled, the gap between the idea and the realities of Israel?

Pergunto-vos hoje, profundamente triste: Podemos nós, não obstante tudo o que de bom realizamos, ignorar o fosso existente entre o que esta declaração de independência prometia e o que foi realizado, o fosso entre a ideia e a realidade do estado de Israel ?

Does the condition of occupation and domination over another people fit the Declaration of Independence? Is there any sense in the independence of one at the expense of the fundamental rights of the other?

Será que a condição de ocupação e domínio sobre um outro povo está de acordo com a declaração de independência ? Existe algum sentido para a independência de um à custa dos direitos fundamentais do outro?

Can the Jewish people whose history is a record of continued suffering and relentless persecution, allow themselves to be indifferent to the rights and suffering of a neighboring people?

Pode o povo Judeu cuja história é um registo continuo de sofrimento e permanente perseguição permitir-se ser indiferente aos direitos e sofrimento de um povo vizinho?

Can the State of Israel allow itself an unrealistic dream of an ideological end to the conflict instead of pursuing a pragmatic, humanitarian one based on social justice?

Pode o Estado de Israel permitir-se um sonho irrealista de um fim ideológico para o conflito em vez de perseguir um fim pragmático baseado na humanidade e justiça social?

I believe that, despite all the objective and subjective difficulties, the future of Israel and its position in the family of enlightened nations will depend on our ability to realize the promise of the founding fathers as they canonized it in the Declaration of Independence.

Acredito que, apesar de todas as dificuldades objectivas e subjectivas, o futuro de Israel e a sua posição na família de nações desenvolvidas dependerá na nossa capacidade de realizar a promessa dos nossos pais fundadores tal como estão canonizadas na Declaração de Independência.

I have always believed that there is no military solution to the Jewish-Arab conflict, neither from a moral nor a strategic one, and since a solution is therefore inevitable I ask myself: Why wait? It is for this very reason that I founded with my late friend Edward Said a workshop for young musicians from all the countries of the Middle East—Jews and Arabs.

Sempre acreditei que não existe solução militar para o conflito israelo-arabe, nem do ponto de vista moral nem do ponto de vista estratégico e como uma solução é inevitável pergunto-me: Porquê esperar? É por essa razão que fundei com o meu falecido amigo Edward Said um workshop para jovens músicos de todos os países do Médio-Oriente - Judeus e Árabes.

Despite the fact that, as an art, music cannot compromise its principles, and politics, on the other hand, is the art of compromise, when politics transcends the limits of the present existence and ascends to the higher sphere of the possible, it can be joined there by music. Music is the art of the imaginary par excellence, an art free of all limits imposed by words, an art that touches the depth of human existence, an art of sounds that crosses all borders. As such, music can take the feelings and imagination of Israelis and Palestinians to new unimaginable spheres.

Apesar do facto de, enquanto arte, a música não possa comprometer os seus princípios e a politica por outro lado ser a arte do compromisso, é também verdade que noutro ponto de vista quando a politica transcende os limites da existência presente e ascende à mais alta esfera do possível, pode aí ter a companhia da música. A música é a arte do imaginário por excelência, uma arte liberta dos limites impostos por palavras, uma arte que toca a profundidade da existência humana, uma arte que atravessa todas as fronteiras. Como tal a música pode levar os sentimentos dos Israelitas e Palestinianos a novas e inimagináveis esferas.

I have therefore decided to donate the monies of the prize to music education projects in Israel and in Ramallah.

Decidi assim doar o montante deste prémio para a realização de projectos de educação musical em Israel e em Ramallah.

Thank you.

Muito obrigado.

Há muito mais a dizer sobre as actividades de Barenboim neste conflito e em geral da sua luta para que paremos um pouco para pensar nos caminhos estúpidos que por vezes percorremos, sempre com a música como instrumento. Há tanto para dizer que resolvi agora mesmo fazer uma série de posts sobre Barenboim.

Haydn - A consolidação da forma sinfónica clássica

Depois das primeiras nove sinfonias Haydn aos poucos irá consolidar a forma sinfónica clássica. E neste caso a palavra clássica deve ser mesmo tomada pelo seu significado literal isto é a forma de sinfonia característica do período clássico, isto é:

Um primeiro andamento em forma de Sonata tipicamente um Allegro, um segundo andamento calmo próprio à introspecção - Um andante, um terceiro andamento na forma de um minueto estilizado e finalmente um ultimo andamento conclusivo tipicamente um novo Allegro.

Embora seja relativamente dificil definir fronteiras fixas até porque esta conceptualização que estamos aqui a fazer é obviamente concretizada "à posteriori". É muito pouco provável que Haydn tivesse noção do qualquer percurso criativo que estava a percorrer. Esta sistematização serve assim apenas para podermos ter uma orientação no incrível número das 104 sinfonias compostas por Haydn. Este segundo período leva-nos assim até 1765/1766. Para tornar as coisas mais interessantes saliente-se que o número das sinfonias é cronológico de publicação não de composição. Por esta razão por exemplo a Sinfonia nº 72 que pertence do ponto de vista lógico a este período apenas foi publicada muito mais tarde (cerca de 1780) pelo que temos ainda de ter em atenção esse ponto.

Se as sinfonias 6 a 8 (Le Matin, Le Midi, Le Soir) são representativas do primeiro período de que falámos aqui neste período de consolidação teremos de falar de alguns tipos diferentes de Sinfonias.

Sem nenhuma ordem em particular começamos por falar de sinfonias que incluem partes ou conceitos de composições de origem religiosa na sua concepção. Tome-se por exemplo a Sinfonia nº 30 (também conhecida como Aleluia) composta em 1765 e que inclui uma melodia Gregoriana com o mesmo nome.

Neste período de consolidação existem também algumas obras na forma de "sonata de igreja" que começam por um andamento lento têm depois um presto um minueto como terceiro andamento terminando num presto. Destas Sinfonias a mais conhecida é talvez a Sinfonia nº 22 de que podem ouvir o segundo andamento aqui. Esta sinfonia também é conhecida como "O Filósofo" devido ao seu primeiro andamento muito introspectivo.

Neste período de consolidação convirá também notar algumas sinfonias que inovaram ao introduzir temas populares de origem eslava e cigana na melodia de que é exemplo a sinfonia nº28.

São também características deste período as chamadas "Sinfonias de Caça" da qual a nº 31 é a mais popular e de que podem ouvir aqui o primeiro andamento Allegro. É curioso a este respeito notar que neste período as obras de Haydn eram realizadas para serem interpretadas na corte do seu patrono o príncipe Nikolaus Esterházy que embora apreciasse imenso a música tinha meios limitados. A Orquestra à disposição de Haydn sofria desse problema sendo muitas vezes as peças compostas para satisfazer os músicos mais dotados ou mesmo para festejar a chegada de um como foi aparentemente o caso desta Sinfonia chamada também "Sinal de Corneta" que teria sido composta para festejar o ingresso de Franz Stamitz and Joseph Dietzl, excelentes interpretes de Corneta.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Glenn Gould (1932-1982) - O Escritor (Parte IV)

Esta é a quarta parte de um artigo que Glenn Gould escreveu para a revista High Fidelity em 1974. A entrevista que traduzo aqui a partir da versão original que podem encontrar aqui é do próprio Gould que desempenha o papel de entrevistado e entrevistador. A entrevista claro é também sobre o próprio Gould.

As três primeiras partes deste artigo estão aqui (primeira parte), aqui (segunda parte) e aqui (terceira parte).

Glenn Gould entrevista Glenn Gould sobre Glenn Gould
High Fidelity, Fevereiro 1974.
(Quarta Parte)


g.g.: E tem noção que está a definir e a defender um tipo de censura que contradiz toda a tradição pós-renascentista do pensamento Ocidental ?

G.G.: Claro. É a tradição pós-renascentista que está a levar o mundo Ocidental à beira da destruição. Sabe este gosto particularmente esquisito da liberdade de movimento, liberdade de expressão e por aí adiante é um fenómeno puramente Ocidental. Faz parte da noção Ocidental que é possível separar a palavra e a acção.

g.g. : O sindroma paus-e-pedras ?

G.G.: Precisamente. Existem provas que - a propósito McLuhan fala disto na Galáxia Guttenberg - que povos pré-literados ou minimamente literados estão muito menos dispostos a fazer essa distinção.

g.g.: Suponho que também existe a noção bíblica que desejar o mal é realizar o mal.

G.G.: Exactamente. Apenas as culturas que, por acidente ou boa gestão, ultrapassaram a Renascença é que vêm na arte a ameaça que ela verdadeiramente representa.

g.g.: Posso assumir que a União das Républicas Socialistas Soviéticas está dentro desses critérios?

Não esquecer que este artigo é de 1974 e que estávamos nesta altura em plena Guerra Fria.

G.G.: Absolutamente. Os Soviéticos são um pouco rudes no que diz respeito ao método, admito-o, mas as suas preocupações são absolutamente justificadas.

g.g.: E então as suas próprias preocupações? Será que alguma das suas actividades violou essas restrições e nos seus próprios termos "ameçou" a sociedade ?

G.G.: Sim.

g.g.: Quer falar sobre isso ?

G.G.: Não especialmente.

g.g. : Nem mesmo por um instante? Por exemplo o que diz de ter fornecido música para o Slaughterhouse Five ?

Filme de ficção cientifica de 1972. Glenn Gould tocou para esse filme várias peças de Bach (Variações Goldberg nº 18 e 25 -- BWV 988, Concerto de Brandenburg nº 4 - 3º andamento BWV 1049, Concerto No 3 para cravo 1º andamento BWV 1054 , Concerto nº 5 para Cravo 5º andamento BWV 1056)

G.G.: E então?

g.g.: Bem pelo menos pelos standards soviéticos o filme de Mr. Vonnegut's é provavelmente uma peça socialmente destrutiva, não acha?

G.G.: Tenho receio que tenha razão. Lembro-me mesmo de uma jovem senhora em Leninegrado uma vez me dizer "Dostoyevsky - apesar de ser um grande escritor era infelizmente pessimista".

g.g.: E pessimismo combinado com a valorização do prazer puro é a marca de Slaughterhouse certo?

G.G.: Sim mas eram as propriedades hedonisticas mais do que as pessimistas que me deram muitas noites sem sono.

g.g.: Então não aprovou o filme?

G.G.: Admirei o seu saber-fazer extravagante.

g.g.: Não é a mesma coisa que gostar.

G.G.: Não , não é.

g.g.: posso então assumir que mesmo um idealista tem o seu preço?

G.G.: Prefiro dizer que mesmo um idealista por perceber mal as intenções de um script de cinema.

g.g.: Teria preferido então um Billy Pilgrim sem compromissos ?

Billy Pilgrim é o personagem principal de Slaughterhouse

G.G.: Sim teria preferido algumas características redentoras na sua personagem.

g.g.: Então não concorda com a teoria arte-como-pura-técnica de Stravinsky por exemplo?

G.G.; Claro que não . Essa é provavelmente literalmente a ultima coisa que a arte é.

g.g.: E então quanto à teoria arte-como-arquétipo-de-violência ?

G.G.: Não acredito em arquétipos. São simples brinquedos nas mentes que resistem à capacidade de aperfeiçoamento do homem. Para além disso se está á procura de arquétipos de violença então a engenharia genética por exemplo é uma aposta melhor.

g.g: E quanto à arte-como-experiência-transcendente ?

G.G.: Das três que citou é única que merece que se fale dela.

g.g.: Tem então uma teoria sua?

G.G.: Sim, mas não vai gostar dela.

g.g.: Estou preparado.

G.G.: Bem acho que a arte deveria ter a oportunidade para estar fora de fase. Penso que devemos aceitar que a arte não é inevitavelmente benigna, que a arte é potencialmente destrutiva. Deveríamos analisar as áreas onde tende a fazer menos mal, usá-las como guia e incorporar na arte um componente que lhe permita evitar a sua própria obsolescência.

g.g: Hmm.

G.G.: Porque, sabe, a posição - ou posições - presente da arte, algumas das quais enumerou têm alguma analogia com o movimento "destruam a bomba" de venerada memória.

g.g: Certamente não se opõe a movimentos desse tipo?

G.G.: Não, mas dado que não vi nenhum movimento "abaixo a criança que tira as asas a uma libelinha" também não me posso juntar ao movimento "abaixo a bomba". Está a ver? O mundo Ocidental está cheio de noções de qualificação. A ameaça de uma destruição nuclear enche essa qualificação. A perda de uma libelinha não. Enquanto estes dois fenómenos não forem reconhecidos como um único indivisível enquanto a agressão física e verbal forem apenas vistas como uma faceta da competição enquanto cada decisão não possa ser equacionada para a sua correlação moral, continuarei a ouvir a Filarmónica de Berlim por detrás de uma divisória em vidro.

g.g.: então não espera ver o seu desejo de morte para a arte cumprido durante a sua vida?

G.G.:Não, não poderia viver sem a Quinta Sinfonia de Sibelius.

Fim da Quarta Parte.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Recomendações de Música Clássica ao Vivo

Este post também é publicado no blog Folhas Pautadas.

Começamos a nossa visita ao país musical ao vivo pelo sul, pela cidade de Faro onde o Quarteto Lacerda vai interpretar a integral dos Quartetos de Cordas de Joseph Haydn por ocasião do bi-centenário da morte do compositor. O concerto terá lugar na Sexta-Feira dia 9 de Janeiro às 21:30 no Teatro Municipal de Faro.

Em Palmela no Auditório Municipal de Pinhal Novo no Sábado dia 10 às 21:30 teremos um concerto pelo Trio de Clarinetes de Palmela (Fernando Pernas, João Quítalo e Mário Cabica) . A entrada é livre.

Agora já em Lisboa, não costumamos referir o que se passa na Gulbenkian não porque não tenha qualidade (obviamente é sempre muito bom) mas porque sinceramente não precisam da nossa modesta promoção. Abre-se aqui a excepção para a Orquestra de Câmara de Basileia e Marijana Mijanovic que estarão no Auditório da Fundação no dia 11 às 19h. Serão interpretadas obras de António Vivaldi e Georg Friederich Händel. Na próxima semana (Terça-Feira 19h) no auditório 2 não deixem também de ir ver jovens músicos portugueses neste momento a estudar em Zurique num recital que promete (Oboé, Fagote e Piano).

Ainda na zona de Lisboa mais precisamente no Museu Condes de Castro Guimarães em Cascais o Coro Vox Maris dará no dia 10 de Janeiro às 17h um concerto. Continuando com coros e não muito longe no Colégio dos Maristas de Carcavelos teremos o "Encontro de Coros - 20º Aniversário do Coral Infantil de Carcavelos" no mesmo dia (Sábado 10) mas às 16h. Estarão presentes o Coral Infantil de Carcavelos, Coral Infantil Bragantino (Bragança), Coral Infanto-Juvenil de Torres Novas, Coro Vozes do Mar da ESSA e Pequenos Cantores de Coimbra

Em Santarém teremos a Orquestra do Algarve dirigida por Laurent Wagner no Teatro Sá da Bandeira no Domingo às 17h num concerto intitulado "Música de filmes". A entrada é livre condicionada à lotação da sala.

Ainda em Santarém e também no dia 10 teremos às 21:30 na Igreja da Graça o Coro Gregoriano de Lisboa, informação do blog Belogue de Notas.

No Sábado dia 10 de Janeiro às 21:30 a Orquestra Clássica do Centro dará no Cine-Teatro Messias (Lugar da Mealhada) um "Concerto de Ano Novo" em que serão interpretadas Valsas, Mazurcas, Polcas e Danças de Strauss, Offenbach e Brahms.

A Sociedade Filarmónica de Crestuma estará no Auditório Municipal de Gaia (AMG) na Sexta-Feira dia 9 de Janeiro pelas 21:45 num "Concerto de São Gonçalo" sendo dirigido pelo Maestro José Monteiro.

A Orquestra Nacional do Porto interpretará um concerto intitulado "Novo Mundo" na Casa da Música do Porto dirigida por Christoph König. Será na Sexta-Feira às 21h num programa que incluirá obras de Edgar Varèse, George Gershwin, György Ligeti, Heitor Villa-Lobos e Antonín Dvorák.

No Theatro Circo de Braga a Orquestra da Universidade do Minho interpretará a 5ª Sinfonia de Beethoven . Será no Sábado às 21:30. Na primeira parte o pianista Luís Pipa interpretará o 4º Concerto para piano e orquestra enquanto Ângelo Martingo interpretará a Fantasia Coral para piano, coro e orquestra. A Orquestra será dirigida por Vítor Matos.

Finalmente integrado no "Fan - Festival de Ano Novo 2008/2009" teremos em Bragança no Teatro Municipal de Bragança a ópera "Amor de Perdição" de João Arroyo no Sábado dia 10 de Janeiro às 21:30. Participa o Coro do Centro de Estudos em Ópera e Teatro Musical da Universidade de Aveiro (CEOTM-UA), a Orquestra Orquestra Sinfónica da Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Instituto Politécnico do Porto (ESMAE), e o Coro do Centro de Estudos em Ópera e Teatro Musical da Universidade de Aveiro. A ópera é baseada no romance homónimo de Camilo de Castelo Branco. A direcção artística é de António Salgado e a direcção musical de António Saiote. Encenação de Marcos Barbosa.

Tchaikovsky - Bailados - Quebra Nozes

O Quebra de Nozes (Op. 71) é o terceiro e ultimo dos bailados compostos por Tchaikovsky tendo sido composto entre 1891 e 1892 sendo também uma das ultimas obras publicadas em vida do compositor. Da Bela Adormecida, o segundo bailado

O bailado foi composto por encomenda de Ivan Vsevolozhsky. Contrariamente ao bailado Bela Adormecida de que falamos aqui Tchaikovsky não estava especialmente contente com a história (uma

A estreia do Bailado teve lugar numa dupla estreia em conjunto com a ultima ópera do compositor Iolanta a 18 de Dezembro de 1892. A estreia foi um sucesso relativo mas tal como para os restantes bailados Tchaikovsky nunca pensou no sucesso que estes se veriam a revelar.

Trata-se de um ballet em dois actos baseado em L’Histoire d’un Casse Noisette de Alexandre Dumas Pai que por sua vez é uma adaptação de um conto de Hoffmann. A coreografia inicial é de Petitpas mas foi terminado pelo seu assistente Lev Ivanov devido a doença.

Oiçam aqui uma das minhas valsas preferidas, a valsa das flores, que faz parte do segundo acto do ballet.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Glenn Gould (1932-1982) - O Escritor (parte III)

Esta é a terceira parte de um artigo que Glenn Gould escreveu para a revista High Fidelity em 1974. A entrevista que traduzo aqui a partir da versão original que podem encontrar aqui é do próprio Gould que desempenha o papel de entrevistado e entrevistador. A entrevista claro é também sobre o próprio Gould.

Além de nos explicar muito sobre a forma como este artista se encarava este artigo é também um verdadeiro statement sobre o que é a arte e a música além de demonstrar uma visão notável. As duas primeiras partes deste artigo estão aqui (primeira parte) e aqui (segunda parte).

Glenn Gould entrevista Glenn Gould sobre Glenn Gould
High Fidelity, Fevereiro 1974.
(Terceira Parte)


g.g.: Então suponho que a questão óbvia é: Se não faz julgamentos estéticos em relação ao trabalho de outros então como encara julgamentos estéticos em relação ao seu trabalho?

G.G.: Oh, alguns dos meus melhores amigos são críticos, apesar de não ter a certeza que gostasse que o meu piano fosse tocado por um deles.

g.g.: Mas há alguns momentos definiu o termo "Perfeição espíritual" como um estado em que o julgamento estético é eliminado.

G.G.: Não queria ter dado a impressão que a única forma de chegar a esse estado fosse esse critério.

g.g.:Claro, percebo issso. Mas seria justo dizer que na sua opinião o espirito crítico leva fatalmente à exclusão de um estado de graça ?

G.G.: Bem, acho que isso seria muita presunção da minha parte. Como disse alguns dos meus melhores amigos são --

g.g.: -- são critícos, eu sei, mas está a fugir à questão.

G.G.: Não intencionalmente. Simplesmente penso que não se deve generalizar em assuntos em que reputações tão distintas estão em causa e --

g.g.: Mr Gould penso que nos deve, assim como aos nossos leitores uma resposta a esta questão

G.G.: Devo?

g.g.: É a minha convicção; talvez devesse repetir a questão.

G.G.: Não, não é necessário.

g.g.: Então acha realmente que o crítico represente uma espécie moralmente ameaçada?

G.G.: Bem a palavra ameaçada implica que --

g.g.: -- Por favor Mr. Gould, responda à pergunta - Acha isso não acha ?

G.G.: Bem, como disse, eu --

g.g.: Acha, não acha ?

G.G: [pausa] Sim.

g.g.: Com certeza que acha e agora também se sente melhor com esta confissão.

G.G.: Hmm, não neste momento

g.g.: Mas isso virá com o tempo.

G.G.: Acha mesmo ?

g.g.: Não tenho dúvida. Mas agora que colocou a sua posição de forma tão franca tenho de mencionar o facto que em tempos já fez criticas com expressão de valores estéticos. Lembro-me por exemplo de um artigo sobre Petula Clark que escreveu para esta coluna alguns anos atrás e que --

G.G: -- que continha mais julgamentos estéticos por centimetro quadrado de página que eu julgaria possível escrever hoje. Mas era essencialmente uma critica moral. Era uma peça em que utilizei a Miss Clark, por assim dizer, para comentar num determinado meio social.

g.g.: Acha portanto que consegue destinguir entre uma crítica estética do inviduo - que rejeita de forma liminar - e o estabelecimento de imperativos morais para sociedade como um todo.

G.G: Penso que consigo. claro que há áreas em que a sobreposição é inevitável. vamos por exemplo admitir que moro numa cidade em que todas as casas são cinzento de navio de guerra.

g.g.: Porquê essa côr ?

G.G.: É a minha cor preferida.

g.g: É uma cor bastante negativa não é ?

G.G.: É por isso que é a minha preferida. Vamos então supor - para bem da nossa discussão - que um individuo decidia sem dizer nada pintar a sua casa de vermelho quarte de bombeiro.

g.g: Mudando desta forma a simetria do planeamento urbano.

G.G.: Sim isso também, mas está a ver a questão do ponto de vista estético. As reais consequências desta acção seriam que este seria o prenúncio de actividade maníaca na cidade e quase inevitavelmente - dado que outras casas seriam pintadas inevitavelmente de outras cores - encorajariam um clima de competição e como corolário de violência.

g.g: Imagino então que esse vermelho no seu vocabulário represente o comportamento agressivo.

G.G.: Penso que há um consenso quanto a isso. Mas como disse haveria aqui uma sobreposição do estético com o moral. O homem que pintou a primeira casa de vermelho pode o ter feito por uma razão puramente estética e para utilizar uma velha palavra seria pecado responsabiliza-lo pela escolha da cor. Tal facto iria certamente cercear qualquer outro julgamento da sua parte. Mas se fossemos capazes de o convencer que a sua estética apresentava um perigo para a comunidade e desde que ele conseguisse ter um vocabulário adequado para a tarefa - que não seria obviamente uma de standards estéticos - então isso seria, creio da minha responsabilidade.

g.g: Tem a noção que esta a começar a falar como um personagem saído de George Orwell ?

G.G.: O mundo Orweliano não contém terrores especiais para mim.

Fim da terceira parte

Leia aqui a Quarta Parte.

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