Mozart escreveu 18 sonatas para piano entre o ano de 1774 (então com 18 anos) e 1789 (dois anos antes da sua morte). Obviamente obras escritas num intervalo de tempo tão dilatado, que cobriram quase a totalidade da sua existência mais do que características comuns marcam a evolução do compositor e mesmo a evolução da sua época numa transição entre o clássico e o romântico que aqui e ali se consegue já quase que adivinhar em algumas destas peças.
Não obstante o que referimos é possível de alguma forma agrupar estas sonatas em alguns grandes grupos. As primeiras cinco sonatas foram compostas no Verão de 1774 quando Mozart estava em Munique preparando a estreia da sua ópera "La finta giardiniera". Estas cinco sonatas K. 279 a K 283 estão aparentemente relacionadas (e dizemos aparentemente porque não é claro que na altura Mozart tivesse a maturidade enquanto compositor para essa proposta) numa sequência de intervalos de quinta. Além disso estas sonatas partilham uma forma relativamente semelhante. Como ilustração destas cinco obras a que se pode juntar também a K. 284 composta uns meses mais tarde também em Munique. Como exemplo destas cinco obras propomos que oiçam a K. 280 numa interpretação de Sviatoslav Richter.
Segue-se um conjunto de três obras composto em Paris e em Manheim bastante interessante pela originalidade das obras pelo facto deste conjunto incluir a primeira e uma das duas sonatas numa tonalidade menor compostas por Mozart. A segunda sonata deste conjunto, composta quando Mozart estava em Paris, coincidiu também com a morte da mãe de Mozart sendo que há quem atribua a este facto o carácter sombrio da obra pouco habitual para o Mozart dessa altura. No entanto mais do que essa coincidência e sua eventual influencia, que ficará quase de certeza para sempre envolto na opinião pessoal de cada um, o facto é que a K 310 contém alguns dos momentos mais pungentes e emocialmente mais profundos de Mozart. Propomos precisamente ouvir esta obra numa interpretação de Claudio Arrau.
Segue-se um outro conjunto de três sonatas K. 330 a K. 332 que incluem duas das obras mais conhecidas e populares de Mozart. A K. 330 em Dó maior composta em 1783 mas sobretudo a K 331 que inclui o famoso andamento Rondo Alla Turca que certamente ouvimos pelo menos uma vez. É precisamente a K. 331 que propomos que oiçam numa interpretação de Wilhelm Backhaus.
A partir daqui as restantes obras são muito mais difíceis de agrupar. Segue-se a K 333 composta provavelmente na mesma altura que a K. 330 (finais de 1783) e que poderia por essa razão fazer parte do conjunto anterior. É uma sonata interessante de que propomos uma interpretação de Lili Kraus.
A sonata seguinte K. 457 foi composta em Viena no ano seguinte 1784 sendo dedicada a Thérèse von Trattner sendo este ponto relevante dado que esta sra. era esposa de um editor de Viena dado que esta revela a necessidade de Mozart sobreviver tendo saído da tutela do Arcebispo de Salzburgo e logo sem outro meio de sobrevivência que não fosse ser remunerado pela edição das suas obras (ou o seu patrocínio . De certa forma estes episódios marcam o inicio do período romântico senão pela forma que se mantém clássica mas pela procura da "independência" de patronos no que diz respeito ao acto criativo. Propomos uma interpretação do primeiro andamento por Eschenbach.
Passaram-se depois quatro anos sem qualquer produção de sonatas chegando-se assim aos dois últimos anos de vida do compositor que viram nascer quatro sonatas de que destacamos a K 545 denominada "Sonata simples" porque precisamente tinha fins didácticos. Note-se aliás que na sequência do que dissemos no anterior parágrafo não era incomum estas obras terem estas características não só como matéria para alunos que asseguravam ao compositor meios de sobrevivência mas também porque a própria edição e venda das obras dependia da sua acessibilidade ao pianista comum . Esta característica que se reforçou no período romântico começava agora. esta Sonata precisamente por esta caracteristica é ela também uma das melodias mais conhecidas de Mozart que propomos não na interpretação de um alunos mas sim numa interpretação de um verdadeiro mestre, Sviatoslav Richter.