domingo, 8 de novembro de 2009

Pesquisa interessante de ontem - 7 de Novembro : Porque as pessoas não gostam de música clássica

É uma boa pergunta assumindo que é verdade que as pessoas não gostam de música clássica. Podemos assumir que a percentagem de pessoas que não gosta (ou pensa que não gosta) de música clássica aumentou (embora fosse também interessante perceber se isso realmente é assim tal como sem menor interesse seria definir a música clássica) embora não estejamos completamente convencidos disso porque parece uma hipótese aceite pela maioria.

Poderíamos dizer que uma parte da responsabilidade está na menor presença nos meios de comunicação social estando neste momento a música clássica remetida a algumas ocasiões por ano (quando isso) e mesmo assim bem fora dos períodos de maior audiência.

Não há muito tempo este tipo de música era transmitida nos períodos de maior audiência o que certamente terá contribuído para um maior afastamento das pessoas. Dirão os especialistas em media que estou a confundir causa com consequência - isto é - que a música clássica não está presente nesses espaços precisamente porque não tem audiência para isso, um pouco como se decidisse transmitir o campeonato do mundo de curling, sem desprestigio para a modalidade. Isto é verdade mas também não deixa de ser uma espiral que afasta todos os temas que não se insiram nas preferências da maioria.

E depois que me desculpem mas embora seja verdade que as televisões e os mass media não modificam preferências antes sendo um espelho das mesmas também não deixa de ser verdade que os espelhos são utilizados em todos os instrumentos de amplificação ...

Assim diria que a principal razão da sensação (real ou não) de que as pessoas não gostam de música clássica (definição ainda pendente) prende-se com a própria característica desta música que exige um pouco mais de atenção, atenção essa que não estamos dispostos a dar quer pela falta de ocasiões para o contacto, quer pelo formalismo que lhe é por vezes associado, quer pela dificuldade em escolher por onde começar - porque é claro que como em todas as formas de arte existem obras mais fáceis e outras mais difíceis de apreciar. É neste ultimo ponto que este blog pretende ajudar.

Claro que mesmo depois do primeiro contacto por razões estéticas haverá sempre uma percentagem de pessoas que realmente não gostarão. Não há obviamente nada de errado nisso nem nessas pessoas. O que é triste não é a diferença de gostos, o que é triste é a ignorância e o apego ao desconhecimento ...

8 comentários:

  1. Fernando,

    subscrevo em absoluo tudo o que disse! o meu objectivo com o meu blog pretende ser o mesmo. Força nisso!

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  2. Excelente texto, Fernando, a abrir polémica. Parabéns.

    Três achegas:

    1. Ontem a Casa da Música tinha muitas vagas e o pessoal saiu murcho. Poucas palmas. O concerto foi chato, longo e muito fraco. Admira que as crianças (bastantes) e jovens presentes deixem de gostar de "música clássica" ?

    2."O que é triste não é a diferença de gostos, o que é triste é a ignorância e o apego ao desconhecimento ..."

    Eu não ouço nem quero saber de Hip Hop. Tenho mesmo apego ao seu desconhecimento. Como diz um amigo meu, "não ouvi e não gostei". É grave? Tenho obrigação de conhecer TUDO para poder apreciar?

    3. "Música clássica" não é sinónimo de sublime e imperdível. Há muita coisa dispensável, mal tocada e aborrecida. Quantas pessoas não se terão perdido assim ? É que tem de se distiguir o melhor do pior, não impingir "boleros de ravel" nem "adagios de albinoni" por bandas amadoras que se traduzem em estopadas , em assassínios de gosto, tão abundantes por aí.

    Desafio: só pode gostar de "música clássica" quem se educou a distinguir boa e má música.

    Nisso é que o o blog do Fernando (pode) ajuda(r).

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  3. Ainda há muita gente que gosta e aposta em fazer projectos de boa música, e que como prova disso ainda ontem vi um flyer para um concerto no europarque que me pareceu bastante interessante. Um concerto de Música classica, com desenhos animados e história legendada.
    www.yduko.com
    Para todas as familias que queiram educar o gosto musical dos pequenotes.

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  4. Gosto imenso de lê-lo!
    Aprecio a maneira calma e serena com que expõe as suas ideias e opiniões, nunca forçando a «mão» Concordo com a sua análise final sobre a ignorância e o apego ao desconhecimento, mas será realmente assim tão simples?
    Seria deveras interessante uma análise mais pormenorizada e aprofundada do tema.
    Para disfrutarmos em plenitude da beleza deste género musical, investimos num bom equipamento de som para assim podermos usufruir da máxima qualidade dos cd, tambem eles de boa qualidade.
    Se eu poderia viver sem a música clãssica?
    Podia, mas não seria a mesma coisa.
    Desejo-lhe tudo de bom!
    Vou-me, ando a curar a gripe!
    zia

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  5. Mário: 1 - Pois lá está uma primeira má experiência numa sociedade de consumo imediato pode ser a morte do artista. 2 - Os meus pais ensinaram-me que sim, que para dizer que não gostava tinha de provar. Isto dito há coisas de que não gosto e nunca provei nem tenho intenção de o fazer, embora não em termos musicais ... mas admito que nem sempre seja necessário experimentar.
    3 - Não não é - concordo a 100%. Há coisas más como em todas as formas de arte. Mas já agora e relacionando este ponto com o 2. os Adagios do supostamente Albinoni e os Boleros de Ravel mesmo quando tocados por orquestras amadoras podem cumprir o objectivo de trazer pessoas à música clássica, porque lá está para muitos essa música vai soar bela. Poderão não ser capazes de julgar a qualidade - isso virá mais tarde - mas vão poder apreciar a forma. Não são para si mas pode haver quem realmente goste ... o que leva ao desafio final: Boa e má música ? Dizia um filósofo que a beleza está nos olhos do observador ... se um pai embevecido pode ouvir beleza no chiar de um filho roçando um arco numas quaisquer cordas ... Fora de exagero esse é um desafio ainda mais dificil :-)
    Dialecto de Ternura: Sim este é um aspecto central, vou tentar aprofundar um pouco mais o tema.

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  6. Concordo que se deve na maioria das vezes, ao desconhecimento de muita música clássica. Não há hábitos de ouvir música clássica senão em casas particulares de apreciadores,escolas de música ou em grandes concertos. Ela é pouco divulgada. Temos apenas uma estação de rádio que a divulga(?)... e na tv, é verdade que há canais temáticos, mas nos generalistas, ela também deveria estar presente. Lembro-me que as primeiras óperas que vi foram na tv. Mas as pessoas têm tendência a dizer que não gostam mesmo sem conhecer... é verdade para este tipo de música, como para o heavy metal...ou para o fado...
    Conheço poucas pessoas que não gostam de música clássica. Depois conheço aquelas que dizem gostar, mesmo sem conhecer grande coisa... e aquelas que não conhecendo, tenho a certeza, gostariam...Não penso que o gosto se eduque... ou os membros de uma mesma família, teriam os mesmos gostos, e nem sempre isso acontece...mas os ouvidos, esses educam-se, de preferência a ouvir um leque variado de música para optar segundo preferências individuais, e, como em vários outros domínios, a ouvir, sem pré-julgamentos. Também concordo que é triste esse apego a uma resposta fácil, dizendo não apreciar, desconhecendo a enorme diversidade dentro de um género que é aglomerado como um todo, mas que comporta diversos estilos de diversos compositores, abrange diversas épocas e até me custa acreditar que alguém diga que não gosta, sem sequer a conhecer minimamente, mas infelizmente, penso que será o que se passa...
    Cumprimentos e continue com o bom trabalho aqui no blogue

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  7. Caro Fernando,

    Vejo que concorda com George Steiner, que afirma e "demonstra" não poder distinguir-se absolutamente a boa da má música; pois se a beleza estiver nos sentidos do observador, nada feito, não há critérios objectivos.

    Custa-me muito aceitar este ponto de vista. Cai por terra o papel da razão e do conhecimento. Isto leva muito longe, sei, mas penso que o Fernando, embora com o seu lado "apaixonado" e "subjectivo", põe neste blog um empenho tão grande em contribuir para uma melhor apreciação da música, que não vejo como argumenta (exagerando) que "um pai embevecido pode ouvir beleza no chiar de um filho roçando um arco numas quaisquer cordas", que é...a negação da música! Lá terei de oivir Hip Hop....

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  8. Mario: Fica prometido para breve uma resposta mais completa porque na verdade muito existe para dizer sobre este tema. Já comecei a escrevinhar uma resposta no papel.Só que para fique registado não sou a favor do relativismo absoluto creio que existe mesmo uma diferença entre a nona de Beethoven e uma qualquer "composição" do Quim Barreiros. Acredito também que existe uma diferença objectiva entre essa mesma nona interpretada pela Filarmónica de Nova Iorque versus quando interpretada pela Filarmónica de Freixo de Espada à Cinta (não sei se existe mas se existir não é um desprimor esta comparação - não pretendo diminuir a vossa relevância de forma nenhuma). Mas já me estou a adiantar fica para breve uma resposta mais alargada.

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