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Num ano em que se festeja o grande compositor alemão Robert Schumann é da mais elementar justiça relembrar também a sua esposa Clara. É justo por várias razões não sei qual delas a mais relevante. É justo porque é artisticamente relevante tanto enquanto pianista como compositora. É justo porque soube sempre defender em todas as circunstâncias a memória do marido. É justo porque sem ela Schumann não teria possivelmente composto nem metade das obras que nos deixou.Clara Schumann (o nome de solteira era Wieck) nasceu em Leipzig a 13 de Setembro de 1819. Aprendeu piano com o seu pai que viria a ser o professor de Robert Schumann com quem acabaria por casar apesar da forte oposição do seu pai como referimos na segunda parte da biografia do compositor.
Certo é que o seu casamento não impediu completamente o seu desenvolvimento enquanto artista (Clara continuou a interpretar em público e a compor) embora a atitude de Robert tenha sido sempre bivalente - por um lado apoiando, estudando em conjunto, auxiliando na publicação das obras da esposa mas por outro lado detestando tournées e não deixando de dizer que Clara tinha muito que se preocupar com a família e a casa. Juntava claro um lamento de auto-culpabilização mas ...
No entanto tendo tido 8 filhos (além de ter tomado conta de muitos dos seus netos) é óbvio que a carreira de Clara não deixou de ser muito diminuída na sua amplitude. Apesar disso enquanto pianista a sua fama enquanto virtuoso estabeleceu-a como um dos grandes pianistas românticos ao nível de um Chopin ou Liszt tendo por exemplo recebido em 1838 a mais alta distinção musical da Austria Imperial ao ser proclamada: "Königliche und Kaiserliche Kammervirtuosin".
O seu papel enquanto editora da música do seu marido foi absolutamente notável tal como notável foi o seu carácter sendo durante muito tempo a par de Liszt a única outra grande figura que interpretava a música de Schumann.
Clara deixou de compor relativamente cedo (com pouco mais de 30 anos) aparentemente por ter perdido fé nas suas capacidades. Hoje há poucas obras de Clara que sejam regularmente interpretadas porém só para terem ideia do génio de Clara oiçam este concerto para piano Op. 7 que compôs com apenas 14 anos e interpretou na Gewandhaus em Leipzig com 16 (orquestra dirigida por Mendelssohn).
Podem também ouvir o Op. 17 Trio para Piano de 1847 em Sol Menor, escolhi o terceiro andamento da composição, oiçam aqui.
Se estas duas obras vos deixarem alguma dúvida quanto ao talento de Clara Schumann enquanto compositora então para que não restem dúvidas podem ouvir o Op. 21 dedicado a Brahms (Romances para piano), o Op. 22 dedicado a Joseph Joachim (Romances para violino e piano) ou finalmente o Op. 23 constituído de 6 canções de que vos proponho a terceira infelizmente apenas a parte instrumental ...
Além de instrumentista de eleição, verdadeira chefe de família e compositora Clara ainda encontrou tempo para se dedicar ao ensino tendo valorizado de forma sistemática a importância da vontade do compositor, do tom e da sensibilidade. Estes ensinamentos chegaram em grande parte aos nossos dias pela influência de alguns dos seus alunos nas melhores escolas de música do século XX.
Clara Schumann faleceu a 20 de Maio de 1896 em Frankfourt.