terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Pesquisa da Semana (#06 - 2013) - "Os três maiores da música clássica"

Ora bem hoje resolvi não escapar à polémica e tentar responder a esta questão que é repetida quase invariavelmente todas as semanas de uma forma ou doutra. Por vezes pedem-me 3 outras vezes 5 e outras 10. Hoje porém não me quero furtar à dificuldade e vou mesmo escolher três sabendo desde já que isso significa conquistar vários "inimigos" ou pelo menos detractores que discordarão da minha escolha.

Vou desde já dizer-vos que não exercerei censura nos vossos comentários (caso existam) desde que mantenham a linguagem moderada sobretudo entre vós. Relativamente ao autor do post aceitarei linguagem mais vernácula. Isto dito passemos às três escolhas, sem ordem de preferência por simples ordem cronológica.

Bach obviamente terá de ser um dos três. Condensou, cristalizou, aperfeiçoou todo um período sem ainda assim perder a originalidade. Neste blog tento que não exista post sem música e se escolher três compositores é difícil escolher uma obra de cada um destes três afigura-se uma tarefa homérica. Há pelo menos uma dezena de obras que gostaria de colocar aqui como exemplo. Tendo absolutamente que escolher proponho-vos a Segunda Partita para Violino Solo que inclui a sublime Chaconne numa sublime interpretação por Itzhak Perlman.



A seguir a Bach cronologicamente teria de escolher Mozart. Não existe possibilidade de escapar a considerá-lo nesta escolha de apenas três. Tal como Bach o fez para o Barroco Mozart condensa o período clássico em obras perfeitas na forma sem perder a frescura do conteúdo. Não é um revolucionário mas não deixa por isso de inovar levando o período clássico ao ponto onde para inovar se teriam de abrir novos caminhos na forma, mas esse papel que se pode entrever em algumas das suas ultimas obras seria para um outro. Escolher apenas uma obra de Mozart é uma tarefe igualmente impossível. Porém tentando equilibrar os géneros nestas três escolhas um pouco de música com o instrumento da voz humana pareceu-me adequado. Mesmo sabendo que esta obra não foi totalmente escrita por Mozart a minha proposta é que oiçam o Requiem (se quiserem podem ficar apenas pela parte que é de Mozart).




Por fim o terceiro esse sim foi um verdadeiro revolucionário musical. Foi um instrumento na maior relevância na afirmação do papel do compositor e na sua independência (para o bem e para o mal). Estamos obviamente a falar de Beethoven . Também neste caso a escolha de uma única obra é dificílima mas no sentido de vos propor variedade neste post teria que escolher agora uma Sinfonia e nesse domínio já sabem que a minha preferência absoluta iria para a nona. Porém como marco histórico de uma revolução anunciada  não posso deixar de vos sugerir a Terceira Sinfonia, a obra que coloca o compositor, a expressão dos seus sentimentos e percepções, no centro da composição. Escolhi uma interpretação de Bernstein e sugiro o segundo andamento porque este é aquele que possivelmente melhor exprime o que acabo de vos dizer. Têm de entender que estes 17 minutos na sua expansividade emocional eram tudo menos a norma.


Claro que esta escolha de apenas três deixa de fora tantos compositores que nem vale a pena apontarem-me a lista. Talvez dessa lista o que mais falta fará será o primeiro que terá dado o passo na passagem entre uma forma de escrita tonal para uma atonal característica da maioria das correntes contemporâneas de composição, mas enfim em três não dá mesmo na minha opinião para escapar a estas escolhas por muito óbvias que possam parecer.

Aqui fica feita a escolha de três: Bach, Mozart e Beethoven. Escolha óbvia talvez mas fundamentada. Agora digam de vossa justiça.


Chopin - Concerto para piano e orquestra nº 1 e nº 2 (segunda parte)

A primeira parte de deste post pode ser lida aqui. Nessa primeira parte além de falarmos com um pouco mais de detalhe do primeiro concerto enquadramos a altura em que estes dois concertos foram compostos. relembremos que apenas uns meses os separam, que na realidade o nº 2 foi o primeiro a ser composto e que tudo isto aconteceu antes de Chopin ir para Paris portanto antes das crises existenciais e outras provocadas pelo seu romance com George Sand entre outras razões. A confusão pode existir na mente de alguns porque realmente o Concerto apenas foi publicado em 1836 quase coincidente com o inicio do atribulado romance. Na verdade o concerto especialmente o segundo andamento foi inspirado num dos amores da vida de Chopin, embora platónico. Sabe-se pelas cartas que o compositor escreveu que era Constantia Gladkowska o objecto dessa paixão.

O enquadramento que falta diz respeito à situação vivida então na Polónia que enquanto "país" não existia desde a segunda partilha de 1795. A nação polaca essa no entanto estava bem viva e Chopin era a materialização da sua alma, musical e não só. Meses depois de Chopin ter saído da Polónia rebentava em Varsóvia o levantamento contra a ocupação Russa (a Polónia tinha sido dividida entre a Rússia, a Prússia e o Império Austro-Húngaro ), levantamento esse que acabaria por se saldar numa guerra de oito meses e cerca de duas centenas de milhares de mortos.

Este concerto foi estreado em Varsóvia a 17 de Março de 1830 (sim a data está certa foi efectivamente estreado antes do nº 1 que apenas foi estreado em Outubro desse ano) sendo o primeiro concerto público do pianista no Teatro Nacional de Varsóvia (algumas fontes apontam a estreia para dia 21 de Março não sei qual das duas será correcta o que é facto é que o concerto deverá ter sido repetido a pedido do público). Já agora uma curiosidade sobre esta estreia que demonstra como a integridade da obra que tanto nos preocupa agora na altura era totalmente inexistente. Na verdade o primeiro andamento foi separado do segundo e terceiro por um "Divertimento" uma peça para trompa.

A recepção ao concerto assim apresentado começou de forma pouco entusiastica (no fim do primeiro andamento segundo Chopin apenas se ouvirão alguns bravos) mas depois nos dois seguintes parece ter existido uma verdadeira apoteose.

O concerto em Fá Menor Op. 21 possui tal como o primeiro uma estrutura perfeitamente clássica na organização dos andamentos rápido-lento-rápido.

O Primeiro Andamento (Allegro Maestoso) começa por uma longa exposição orquestral que apresenta o material temático que será desenvolvido a partir de então pelo solista no perfeito arquétipo do concerto romantico. Sim é verdade que são o solista e o piano as estrelas - é suposto ser assim. O papel de suporte da orquestra não é um defeito é uma característica do género, ainda assim têm um papel fundamental. É como, desculpem a prosaica comparação, tentar cozinhar sem sal - pode ser feito claro mas o realce do sabor do ingrediente principal perde-se. Neste caso sem a orquestra o piano perde o efeito. É por isso que não faz sentido comparar este concerto aos grandes mestres da orquestração do período clássico, Mozart ou mesmo os percursores do romantismo como Beethoven. Para eles efectivamente o interesse estava num subtil equilíbrio ou num intenso diálogo entre solista e Orquestra. Para Chopin o mesmo interesse está no total domínio do piano. São objectivos e pressupostos diferentes mas ambos defensáveis. Para este primeiro andamento proponho-vos Rubinstein com a Filarmónica de Londres dirigida por Previn numa gravação de 1975 (já agora este concerto está completo portanto se desejarem ouvir até ao fim com um grande mestre como Rubinstein não estarão a perder o vosso tempo - digo isto porque tenho sugestões diferentes para os próximos andamentos só para vos dar a conhecer outras interpretações).



O Segundo Andamento (Larghetto) é inspirado pelo estilo italiano uma belíssima canção de amor como referimos inspirada por Constantia Gladkowska jovem cantora no Conservatório de Varsóvia com quem Chopin nunca falou mas com quem sonhou durante meses. Chopin talvez por essa razão sempre adorou este  andamento, sentimento no qual foi acompanhado por Schumann e Liszt que o consideravam uma verdadeira obra prima. Para o ilustrar escolhi uma interpretação por Wilhelm Kempff com a orquestra dirigida por Karel Ancerl numa gravação ao vivo de 1959 (segundo os dados fornecidos por quem fez o post no You Tube). Se a gravação for efectivamente dessa data então a Orquestra será a Filarmónica da Checoslováquia que dirigiu entre 1950 e 1968, sendo aliás o expoente dessa orquestra.



O terceiro andamento (Allegro Vivace) é o mais "polaco" dos três. Claramente inspirado numa Mazurka embora profundamente estilizada tem também espaço para um momento de inspiração orquestral quando depois de uma chamada às trompas a tonalidade muda bruscamente de um modo menor para um maior dando ao final um brilho totalmente inesperado. Para a interpretação deste andamento escolhemos Marta Argerich com a Sinfónica de Montreal dirigida por Charles Dutoit numa gravação de 1999.

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