segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Carl Orff - Carmina Burana

Há obras de que nunca nos esquecemos a primeira vez que a ouvimos. No caso de Carmina Burana não devia ter mais de 7 ou  8 anos e na sala o meu pai gravava uma emissão de rádio (na altura pasme-se era das poucas formas de podermos voltar a ouvir o que gostávamos) e o que estava a tocar era precisamente esta obra. Lembro-me mais tarde de já na adolescência haver um disco com esta obra que ouvi vezes sem conta.

Há uns anos esta obra foi escolhida pela Filarmónica de Berlim para o seu habitual concerto de Ano Novo. No fim após os aplausos o maestro Sir Simon Rattle dirige-se à audiência e diz que depois do poder emocional transmitido por Carmina Burana seria difícil escolher um encore, acabou por o fazer mas acreditem que não me lembro. Se nunca ouviram Carmina Burana - como invejo o sentimento de descoberta que vão ter - preparem-se para uma autentica montanha russa de emoções. Façam-me um favor, oiçam-na numa versão original não numa daquelas empacotadas estilo pop-clássico.

Aliás podemos começar a história desta composição precisamente pela sua origem. Contrariamente ao que podem pensar alguns na verdade a música desta obra é relativamente recente. Carl Orff compôs esta obra em 1937 procurando é verdade imitar embora "modernizando-a" as formas musicais utilizadas na altura presumível de concepção ou utilização dos textos.

Há quem veja nesta obra uma imitação de Stravinsky no que diz respeito à temática do "poder da terra" e de um certo anti-clericalismo de alguns versos acrescidos pelo carácter quase erótico de outros reforçados por uma música que transmite certamente o culto da potência e da juventude.

Por outro lado a questão da relação de Carl Orff com o regime nazi e em particular o facto desta obra se ter tornado quase um hino não nos deve afastar da mesma já que o seu conteúdo se alguma coisa pode representar será a liberdade e a festa quase até ao extremo do deboche e logo muito pouco relacionada com a triste e cinzenta falsa moral nacional-socialista. Aliás não é caso único dado que a propaganda Nazi e a sua censura pareciam mais sensíveis a quem as fazia do que o que diziam propriamente dito. Assim sendo poderemos continuar a questionar o compositor mas à obra, a essa nada se pode apontar no que diz respeito a qualquer paralelismo com a referida e hedionda doutrina Nazi.

Já relativamente ao compositor isso é assunto para um outro post, já que a história está longe de ser linear e cruza-se com algumas outros temas que creio poderão ter interesse discutir aqui. Fica a promessa.

Carl Orff para compor esta obra seleccionou 25 textos que dividiu em cinco partes. O conceito geral da obra é o de uma roda do destino. Num mesmo momento (num mesmo movimento) quando a roda gira o nosso destino pode seguir um trajecto totalmente diferente da alegria à tristeza ou vice-versa.

Os cinco movimentos que contêm textos (partes)  relacionados com o tema  são:
  1. Fortuna (destino, sorte) - A dona (imperadora) do mundo
  2. A Primavera 
  3. Nos Campos
  4. Na Taberna
  5. O Amor


Se o sucesso da obra não nos garante qualidade também não nos deve ao contrário afastar. A popularidade não é sinal de falta de qualidade e o facto de existirem versões verdadeiramente más tão pouco é culpa do compositor ... Fiquem em cima com uma versão completa pela Filarmónica de Berlim dirigida por Seiji Osawa, uma garantia de qualidade.

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