sábado, 18 de agosto de 2012

Beethoven - Sonata Primavera

Tendo em consideração que decorre neste momento uma votação este post pode ser visto como campanha eleitoral e bem de certa forma até é. Na verdade ao percorrer a lista das 100 obras que recomendo para começarem a ouvir música clássica encontrei também esta sonata sem que ainda exista um artigo que a descreva e que me satisfaça. Já falamos dela aqui e também neste outro post mas enquanto descrição já não me satisfazem.

A Sonata Primavera (Op. 24) em Fá Maior é a quinta das sonatas para violino de Beethoven tendo sido editada em 1801 e dedicada ao mecenas Conde Moritz von Fries (o mesmo da sétima sinfonia por exemplo).

É uma obra na qual é evidente que Beethoven já encontrou a sua própria voz estando neste momento já bastante distante do classicismo puro entrando já em pleno romantismo. Curiosamente esta obra inicialmente  era para fazer parte de um conjunto que incluía também a Sonata Nº 4 em Lá Menor (Op. 23). Devemos notar que tal como Mozart Beethoven considerava estas obras mais como sonatas para piano com acompanhamento para violino do que o inverso. Porém os violinistas do século XIX e XX  apropriaram-se destas obras de tal forma que neste momento tanto poderiam estar nesta lista como numa de obras para piano: É perfeitamente justo dizer que são desse ponto de vista obras em que os dois instrumentos têm papeis quase equilibrados dependendo a sua relevância mais dos interpretes do que da partitura, o que aliás não deixa de ter o seu interesse adicional.

O primeiro andamento da sonata (Allegro) começa com um tema maravilhoso, uma das minhas melodias preferidas em toda a música clássica primeiro introduzido pelo violino e depois repetido pelo piano. É um tema alegre que contrasta com o segundo tema desse mesmo andamento que mantendo alguma alegria não deixa de ter um certo tom de ansiedade digamos. O jogo que descrevemos entre o violino e o piano repete-se ao longo de todo este andamento quase como um desafio. Diz-se que Beethoven procurou que esta obra fosse especialmente fácil de ouvir e talvez por isso os temas são repetidos (são reexpostos) na sua totalidade antes do desenvolvimento que é bastante curto sendo depois de novo recapitulados antes do final do andamento. Esta repetição dos dois temas num andamento que é relativamente curto contribui certamente para que a obra seja de fácil memorização e incute alguma "familiaridade" ao ouvinte. Para ilustrar este primeiro andamento escolhemos David Oistrakh com Lev Oborin no piano.




O segundo andamento (adagio molto expressivo) é de uma tranquilidade absoluta, uma espécie de repouso tranquilo das emoções do primeiro andamento. Agora é o piano que assume a liderança sendo o primeiro a expor os temas seguido pelo violino que os repete. Também neste caso temos dois temas mas contrariamente ao primeiro andamento não estamos aqui na presença de uma forma sonata típica sendo que após a exposição os dois temas são revisitados em sequência com variações. Continuamos a ilustrar esta obra com os interpretes que utilizamos para o primeiro andamento.


O terceiro andamento (Scherzo - Allegro Molto) é particularmente curto apenas pouco mais de um minuto sendo constituído pelo Scherzo propriamente dito e um trio. É de novo um tema alegre e bastante rítmico como que para nos libertar da introspecção em que o segundo andamento nos coloca. Neste caso resolvi passar para uma interprete contemporânea. O video que vos mostro tem a sonata inteira pelo que se desejarem podem ouvi-la toda de seguida mas o terceiro andamento propriamente dito começa um pouco depois de 18:05. Fiquem portanto com Anne Sophie Mutter no violino e Lambert Orkis no piano.




Por fim o quarto andamento (Rondo: Allegro ma non troppo) voltamos a ter uma belíssima melodia com os dois instrumentos em pé de igualdade partilhando, repetindo-a. É um fim de peça bastante alegre que nos faz retornar ao inicio da obra. Ainda não como no período romântico com a forma cíclica de retoma do tema inicial -  forma que aprecio particularmente pela sua unidade, aliás o santo graal de românticos como Schubert ou Schumann, mas já bastante próximo ... Para este andamento escolhi o violinista Augustin Dumay com a nossa Maria João Pires ao piano. Tal como no caso anterior a sonata está inteiramente reproduzida neste video sendo que o quarto andamento começa perto de 17:15. Tenho a sorte imensa de ter este disco autografado pela pianista e posso dizer-vos que esta é uma das interpretações de referência segundo muitos especialistas.

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