sábado, 28 de agosto de 2010

Eliza Flower (1803-1846)

Continuando a percorrer o período romântico à procura de mulheres que tenham conseguido alguma notoriedade no campo da composição hoje um pouco por acaso encontramos o nome de Eliza Flower, confessamos por causa do Titanic como vou explicar de seguida.

Eliza Flower dedicou essencialmente à música sacra nomeadamente musicando obras de sua irmã a poeta e escritora Sarah Fuller Flower Adams. A mais conhecida dessas obras é o hino "Nearer my God to Thee" que ficou tristemente celebre (tristemente pelas circunstâncias da tragédia claro) por ter sido a música que foi interpretada enquanto o Titanic se afundava. Esta composição foi obviamente popularizada pelos vários filmes produzidos sobre a tragédia pelo que reconhecerão de certeza a melodia, bela e tranquila.

Proponho aqui a versão com o poema mais raramente ouvido do que a versão puramente instrumental.



Eliza morreu bastante jovem com apenas 43 anos depois de uma vida apelidada em muitas das biografias que consultei como "radical" ou polémica em virtude de um eventual romance com William Fox 17 anos mais velho, divorciado e padre da igreja unitária (não tenho a certeza que é assim que se traduz este ramo das igrejas baseadas na fé cristã). Outro trabalho notável de Eliza Flower foi a composição de música para as canções românticas de Sir Walter Scott, aliás o seu primeiro trabalho enquanto compositora.

A pirotecnia visual versus o "sentir a música dentro de si"

Há uns dois dias por acaso li uma conversa de uns jovens instrumentistas meus conhecidos (bem pelo menos alguns deles) no Facebook. Estes jovens não sei se todos serão violinistas mas em todo o caso a conversa era (também) baseada em exemplos de violinistas conhecidos.

Debatiam eles sobre a necessidade de exteriorizar ou não a emoção que sentiam ao interpretar e nas formas  a utilizar para essa exteriorização. Estavam todos de acordo que o fundamental era que essa emoção fosse sobretudo audível musicalmente mas divergiam um pouco sobre se sim ou não a exteriorização corporal era importante, relevante ou se antes pelo contrário prejudicava precisamente a componente musical.

Poderá parecer à primeira vista uma conversa pouco relevante já que a primeira coisa que nos ocorre será pensar que pouco importará, cada devendo fazer como entende melhor cabendo ao público a apreciação se gosta ou não do que está a ouvir e a ver.

Porém e antes de vos darmos dois exemplos e de vos deixar a palavra para que exprimam a vossa opinião gostaria de vos dizer que antes pelo contrário: Considero a conversa mesmo muito importante e em grande parte pode estar na base de um dos problemas da música clássica. Porquê ? Porque preocupados com demasiado formalismo, muito rigor e silêncio talvez nos tenhamos esquecido que a música também é sentimento e espontaneidade. Tanto do interprete como do público.

Não quero com isto dizer que devamos passar a fazer dos concertos de música clássica uma espécie de versão bem comportada de um concerto de rock com o público a trautear alegremente as melodias enquanto o concertista alegremente se passa com uns riffs no violino esfregando-se violentamente no solo. Não é isso de todo. A música de que gostamos não necessita disso.

Porém há uns tempos tinha-vos falado deste post do blog do Alex Ross que abordava o tema dos aplausos nos concertos de música clássica e a evolução recente dos costumes nos mesmos - interessante por exemplo a comparação com a ópera. Tinha também na altura relatado o que considerava impossível alguma vez acontecer quando Dudamel esteve na Gulbenkian. Sei que aqui a ênfase está no publico (e também porque nesse caso a orquestra ... ) mas reflictam um pouco sobre o que é realmente sério e o que queremos da nossa música quando interpretada ao vivo: Tanto dos interpretes como do público - aqui fica o desafio.

Para ilustrar deixo-vos com dois exemplos antagónicos mas dentro de uma interpretação ainda assim bastante contida. Primeiro Menuhin e Oistrakh no duplo de Bach, repare-se como a emoção transborda de qualquer forma sem necessidade de grandes artifícios.



Agora um segundo exemplo também de uma dupla com Vengerov e Bashmet na Sinfonia Concertante de Mozart.



Eu sei que o tema é polémico e exista quem não goste nada do Dudamel precisamente por causa deste folclore. Precisamente por ser polémico e por estar quanto a mim no cerne da perda de vitalidade da música de que gostamos é que no âmbito do objectivo inicial deste blog coloco o tema à vossa discussão. Digam de vossa justiça.

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