Passaram-se mais de dez anos entre a estreia da oitava e a estreia da nona sinfonia também apelidada de Coral. Não foram para Beethoven anos fáceis e este facto deve-nos recomendar cautela quando procuramos relacionar a vida de um compositor e a sua obra.
Esta sinfonia é sem dúvida um dos icons da cultura ocidental, um momento inultrapassável na evolução da espécie humana.
É uma sinfonia que me leva sempre às lágrimas pela sua fé no homem. Se tivermos em conta como referimos o que Beethoven passou durante esses anos, a morte de muitos dos seus mais queridos amigos, a morte do seu irmão, dificuldades financeiras várias e sobretudo a surdez, drama sem dúvida terrível para um músico como podemos ficar indiferentes a esta expressão de solidariedade? Eu não consigo e a bem dizer não quero.
Diz-se que esta peça marca o inicio do romantismo pela sua expressão de sentimentos sem restrição, pela sua forma inaudita. Na verdade nunca antes uma sinfonia tinha utilizado um coro. Nunca antes se tinha escrito de forma tão apaixonada tão irrestricta, tão perto dos limites. Como já perceberam vamos passar alguns posts com esta obra porque não resisto a saborear convosco em grande detalhe esta composição.
O primeiro andamento (Allegro ma non troppo, un poco maestoso) foi escrito na forma de sonata. Deste andamento diz-nos Berlioz que nos será difícil ouvir algo de mais profundamente trágico. Eu diria que nos será dificil ouvir algo de mais profundamente trágico e pungente.
Há muitas interpretações históricas desta sinfonia. Para começar e para vos mostrar este primeiro andamento fiquem com Toscanini em 1948 em Nova Iorque com a orquestra da NBC aqui e aqui.