Perdoem-me mas hoje embora tenhamos música para terminar permito-me um texto de cariz verdadeiramente politico no que o politico tem de mais nobre: Uma reflexão sobre os nossos tempos e sobre o caminho que pretendemos seguir. Num dos textos do programa oficial dos Dias da Música do fim de semana passado, creio que foi no texto sobre o brilhante concerto da OCP no Grande Auditório com a Abertura Coroliano e o Quarto Concerto para piano e orquestra de Beethoven, nesse concerto dizia-se que para Beethoven a música e a liberdade eram sinónimos.
Sim eram literalmente sinónimos, a expressão do fim dos "senhores" e dos direitos ainda quase feudais da Nobreza ou do Clero todo poderosos. Desde aí até ao final dos anos 80 princípios dos anos 90 a humanidade no seu conjunto com desvios e déspotas pelo meio fez um progresso notável garantindo em alguns casos um esquisso de igualdade de oportunidades, um vislumbre de igualdade perante a lei, alguma dignidade e um acesso quase igual à saúde e à educação.
Dizem-nos agora neste século XXI que essas coisas eram miragens, que não podem ser conseguidas, que, expressão que pretende ser final, não há dinheiro. Pois eu digo-vos que há. E explico-vos porquê. Pelo menos no mundo ocidental nós temos enquanto sociedade recursos humanos, competências organizacionais, técnicas, cientificas, estruturais para permitir que todos nós vivamos num mundo melhor com uma distribuição muito mais inteligente da riqueza produzida.
Não estou a defender estados socializantes ou comunistas nem tão pouco outras formas de organização igualitárias. Defendo isso sim que são efectivamente conquistas inalienáveis e que não podem ser sujeitas a qualquer tipo de concessão ou acesso igual à saúde, educação e justiça. Defendo que as leis laborais existentes podendo ser revistas em alguns excessos que poderão ter devem acompanhadas pela mesma revisão da consciência de quem detém o capital.
Defendo que o problema não está na falta de recursos ou de dinheiro. O problema está no nosso egoísmo colectivo se assim se pode dizer. Em primeiro lugar claro naqueles que mais têm mas não só. Porque a ânsia do materialismo está em todos nós. E sim possivelmente teremos de baixar um pouco as nossas expectativas para que todos possamos viver de forma minimamente condigna. Já sei que me vão dizer que isso é um nivelamento por baixo. Talvez seja. Eu não me importo de ceder um pouco da minha qualidade de vida se isso significar mais justiça, educação e saúde para todos.
Beethoven e a liberdade na sua única ópera. Viena, e a sua filarmónica dirigida por Bernstein. O final da ópera para o final do post. Liberdade, Fraternidade, Igualdade - o grito da revolução francesa que ecoa desde os tempos de Beethoven. 25 de Abril Sempre.