Muitas vezes comparado por sucessão (a Ravel e Debussy por exemplo) ou colocado numa espécie de intermezzo entre Messiaen e Boulez na verdade se existe alguma característica que se possa atribuir totalmente a Dutilleux é ter sido totalmente único na aproximação à composição não hesitando a fugir a convenções mesmo as que estavam na moda.
Talvez por isso a sua música é das poucas que é interpretada regularmente fora de qualquer necessidade programática de modernismo ou de variedade, escolhida apenas pelo seu valor intrínseco. Opinião polémica certamente a que acabo de proferir.
Henri Dutilleux apreciava particularmente a poesia e a literatura e a sua obra tem muitas vezes ligação profunda a essas artes. É reflexo desse gosto a selecção que escolhemos para ilustrar musicalmente este post. Temps Horloge interpretado por Renée Flemming e a Saito Kinen Orchestra dirigida por Seiji Ozawa. Esta interpretação é especialmente relevante pois quando compunha para voz Dutilleux, um perfeccionista absoluto tinha na ideia uma interprete especifica que neste caso era precisamente Renée Flemming.
Pensamos que é também especialmente relevante a escolha pelos dois últimos poemas utilizados na obra. De Robert Desnos temos adequadamente "O Ultimo Poema"
J'ai rêvé tellement fort de toi,
J'ai tellement marché, tellement parlé,
Tellement aimé ton ombre,
Qu'il ne me reste plus rien de toi,
Il me reste d'être l'ombre parmi les ombres
D'être cent fois plus ombre que l'ombre
D'être l'ombre qui viendra et reviendra
dans ta vie ensoleillée.
e de Charles Baudelaire "Enivrez-vous".
[...]
"Il est l'heure de s'enivrer!
Pour n'être pas les esclaves martyrisés du Temps,
enivrez-vous;
enivrez-vous sans cesse!
De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise."