Continuamos hoje numa sequência de post sobre alguns compositores franceses do período romântico enquanto não fechamos a série sobre Tchaikovsky com a sua biografia.
Henri Duparc nasceu a 21 de Janeiro de 1848 em Paris. Estudou piano com César Franck (de que falaremos neste blog dado que a sua Sonata para Violino e Piano é uma das minhas peças preferidas) tendo sido um dos primeiros membros da Sociedade Nacional de Música fundada por Saint-Saens.
A vida de Henri Duparc é marcada pela sua doença (neurastenia) que não só o faz abandonar a composição aos 36 anos de idade como também o fez destruir uma grande parte da sua obra deixando apenas cerca de 40 composições.
Em 1868 publica a sua primeira obra: "Cinco Melodias" que curiosamente foi uma das que prevaleceu apesar das dúvidas do compositor sobre algumas dessas obras. Entre as obras destruídas figura a sua ópera inacabada intitulada Roussalka. Duparc explica essa destruição e outras em cartas frequentemente pungentes enviadas aos seus amigos.
Duparc foi também um notável compositor de canções sendo aliás nesse género que ainda hoje algumas das suas composições são interpretadas. Entre essas canções algumas com poemas de Baudelaire são especialmente notáveis.
Seleccionei uma destas canções em grande parte porque este poema é um dos meus preferidos. Trata-se de "Invitation au Voyage" que pode ouvir aqui.
Minha criança, minha irmã
Sonha com a doçura
de ir até lá viver juntos !
Amar à vontade,
Amar e morrer
No país que contigo se parece!
Os sois molhados
dos teus céus embrulhados
têm para o meu espírito o charme
Tão misterioso
De teus olhos traiçoeiros
Brilhando através das suas lágrimas.
Mon enfant, ma soeur,
Songe à la douceur
D'aller là-bas vivre ensemble !
Aimer à loisir,
Aimer et mourir
Au pays qui te ressemble !
Les soleils mouillés
De ces ciels brouillés
Pour mon esprit ont les charmes
Si mystérieux
De tes traîtres yeux,
Brillant à travers leurs larmes.
Lá tudo é ordem e beleza,
Luxo, calma e volúpia.
Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
Móveis luzidios
Polidos pelos anos
Decorariam o nosso quarto;
As flores mais raras
juntando os seus aromas
aos vago perfume do âmbar,
Os tectos ricos
os espelhos profundos
o esplendor oriental
tudo falaria
à alma em segredo
a sua doce língua natal
Des meubles luisants,
Polis par les ans,
Décoreraient notre chambre ;
Les plus rares fleurs
Mêlant leurs odeurs
Aux vagues senteurs de l'ambre,
Les riches plafonds,
Les miroirs profonds,
La splendeur orientale,
Tout y parlerait
À l'âme en secret
Sa douce langue natale.
Lá tudo é ordem e beleza,
Luxo, calma e volúpia.
Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
Vê nesses canais
dormir esses barcos
de humor vagabundo
É para saciar
os teus menores desejos
que eles vêm do fim do mundo
Os sois que se põem
revestem o campo
os canais, a cidade inteira
de jacintos e de ouro;
o mundo adormece
numa quente luz.
Vois sur ces canaux
Dormir ces vaisseaux
Dont l'humeur est vagabonde ;
C'est pour assouvir
Ton moindre désir
Qu'ils viennent du bout du monde.
- Les soleils couchants
Revêtent les champs,
Les canaux, la ville entière,
D'hyacinthe et d'or ;
Le monde s'endort
Dans une chaude lumière.
Lá tudo é ordem e beleza,
Luxo, calma e volúpia.
Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
Duparc faleceu a 12 de Fevereiro de 1933 em Mont-de-Marsan.