Ontem (quero dizer segunda-feira para os que me lêem no dia correcto isto é na Terça) foi o Dia Mundial da Voz. Não sou grande fã dos dias mundiais a não ser pelo pretexto que nos dão de falar de coisas que doutra forma nos esquecemos ou fazemos por esquecer. E no que diz respeito à voz nada mais apropriado do que falar; a homenagem fica feita quase só por aí, por aquilo que cada um de nós faz com esse instrumento maravilhoso capaz de transmitir tantas emoções.
Não só pelo que a voz diz pelas palavras mas também pelo que transmite pelo seu tom por aquela qualidade de carinho como reconhecemos na bem-amada ou naquela voz de comando que aceitamos de um líder natural, como se o timbre desmaterializasse as palavras. Como na voz das grandes cantoras e cantores que transformam canções banais em momentos inesquecíveis.
Hoje apetece-me voltar a falar neste blog de algumas dessas vozes, no feminino desta vez, apenas no feminino sem qualquer outra razão que não seja a saudade e talvez o facto de todas elas estarem numa determinada lista.
Sem qualquer ordem especial começamos por Ella continuamos para Elis para terminar na Callas, conseguem imaginar uma melhor trilogia para o Day After? As canções? Bem são daquelas que precisamente poderiam ser banais não fossem cantadas por quem são ...
Over the Rainbow por Ella Fitzgerald
When all the world is a hopeless jumble
And the raindrops tumble all around
Heaven opens a magic lane
E não é que o céu abre mesmo um caminho mágico através dos nossos ouvidos até à nossa alma?
Cais por Elis Regina
Para quem quer se soltar
invento o cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento o amor
e sei a dor de me lançar
Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir
eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar
E como não nos encontrarmos, (re)encontrarmo-nos nesta canção?
Um bel di, vedremo pela Callas
E ninguém exprime melhor a dor da partida e nem sequer são necessárias palavras, mesmo não entendendo uma única palavra perceberíamos. A Voz é assim, a música é assim ...