segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Um instrumento fantástico !

O meu cunhado e amigo Paulo enviou-me hoje pela manhã uma animação por computador dum instrumento fantástico (embora virtual). O instrumento lembra o Allien (nos dedos que pressionam as cordas, não me perguntem porquê lembra-me esse filme) tenho dúvidas se uma caixa de ressonância única para múltiplas cordas que se cruzam na ortogonal funcionaria mas há detalhes preciosos como por exemplo os dedos suplementares que param a vibração do "baixo".


No mesmo canal do YouTube existem outras animações como por exemplo esta que valem a pena ...

 

Alfred Cortot (1877-1962)

Da ultima revista da Diapason há pelo menos três temas de que vos vou falar (obviamente sem copiar ou transcrever o referido material). Confesso-vos que tive dúvidas hoje sobre qual deles abordar. Se me mantinha no tema do piano, se mudava para a ópera barroca ou se antes pelo contrário vos falava de uma obra de Bach. Como já perceberam pelo título decidi-me pelo piano neste caso dando a ler uma biografia de Alfred Cortot talentoso e polémico pianista (se se recordam da nossa e da Limelight Dupla Lista de 10 Pianistas Alfred Cortot é o número 6 da lista da Limelight).

Na verdade poderia ter sido adequado esperar mais três dias, até ao dia 26 de Setembro dado que Alfred Cortot nasceu precisamente a 26 de Setembro de 1877 em Nyon na Suiça de mãe Suiça e pai Francês. Não se pode dizer que o pianista tenha propriamente sido uma criança prodígio. Apesar de ter entrado no Conservatório de Paris em 1886 sendo na altura aluno de Emile Décombes e depois mais tarde (1892) de Louis Diémer. Nenhum destes professores o marcou sobretudo porque o estilo demasiado técnico em detrimento da liberdade de interpretação iam contra a sua natureza profunda. Alfred Cortot como aconteceu com muitos compositores nascidos no final do século XIX nasceu um pouco tarde demais. Como ele próprio referia citando Musset "Nasci demasiado tarde num mundo demasiado velho" .

Porém o contacto com grandes pianistas que carregavam ainda a tradição romântica como por exemplo Paderewski, Rubinstein e sobretudo Riesler que foi a sua grande fonte de inspiração nesses primeiros anos. É desta forma que já relativamente tarde vence o seu primeiro Grande Prémio em 1896.

É a partir desta data que a sua carreira enquanto músico começa estreando-se com uma interpretação do terceiro concerto de Beethoven no ano seguinte. É também em 1896 que obtém o seu primeiro contrato como maestro de coro no festival de Bayreuth que o introduz e o conduz à paixão pela música de Wagner.

Tenta então enquanto maestro e produtor fazer estrear algumas obras de Wagner entre as quais o Crespuculo dos deuses que acaba por conseguir embora com resultados financeiros desastrosos. Este facto não o impede de continuar nessa actividade até 1905 estreando várias obras de compositores alemães mas também de jovens compositores franceses pouco conhecidos. Esta tarefa de divulgação não era fácil e economicamente acabou por o levar à absoluta necessidade de recomeçar a sua carreira enquanto solista.

Aliás em boa verdade não somente de solista dado que também data de 1905 a criação de um dos mais famosos ensembles de música de câmara de sempre quando se junta a Pablo Casals e Jacques Thibaud. Este trio fará inúmeros concertos até que Casals se separa de Cortot e de Thibaud por estes não partilharem inteiramente (ou de todo mas isso é assunto para daqui a uns parágrafos) os seus sentimentos e actividades anti-fascistas (o ultimo concerto do famoso trio terá lugar em 1935). Existem felizmente várias gravações deste conjunto de instrumentistas entre as quais proponho-vos uma gravação de 1928 do Op. 97 "Trio Archiduque" de Beethoven.


É também entre 1905 e 1914 que Cortot cria uma ligação de amizade com Fauré que o levará após a primeira guerra mundial à posição de professor no Conservatório de Paris onde revelará uma das suas principais vocações: A de excelente pedagogo e professor. Note-se a titulo da verdade que se na Segunda Guerra Mundial a sua actuação enquanto cidadão deixou muitas dúvidas (já lá iremos) durante a primeira guerra Cortot multiplicou-se em actividades de suporte e mesmo de solidariedade relativamente a músicos privados das suas fontes de rendimento.

É aliás esta forte intervenção cívica que o leva após a guerra a ser contratado como autentico representante da cultura francesa em tournées que são autenticas acções de propaganda da França. Em 1919 cria a Ecole Normale de Musique de Paris que contará como professores nomes como Casals, Nadia Boulanger, Stranvisnky entre outros. Esta escola além de ser uma escola de interpretes é também uma escola de professores onde para além do mais Cortot inova pedagogicamente sendo justo atribuir-lhe a invenção do conceito de Master Class tal como é hoje entendida. Podem ouvir uma das suas famosas master classes na Ecole Normale de Musique (infelizmente a voz não é muito perceptível) não nessa época mas obviamente já nos tempos actuais.



É assim no meio de uma grande actividade enquanto pedagogo e professor e enquanto artista que chega o ponto mais polémico da sua vida que foi a sua colaboração com o Governo Francês de Vichy e com o regime Nazi. A verdade é que foi dos poucos músicos franceses (na verdade franco-suíço como gostava de referir) que aceitou tocar na Alemanha a pedido do regime Nazi. Tendo sido preso em 1944 quando da libertação do jugo Nazi Cortot foi julgado tendo sido libertado e considerado inocente. Para além do colaboracionismo com o ocupante a questão do anti-semitismo também foi analisada porém nesse ponto os dados eram no mínimo contraditórios já que se Cortot foi acusado de não querer saber de alguns dos seus alunos de descendência judia (Clara Haskil por exemplo) já outros alunos relataram terem sido ajudados por Cortot. Além disso em 1943 conseguiu a libertação de 20 músicos tendo também possivelmente salvo a vida à soprano Polaca Marya Freund ao conseguir colocá-la num hospital donde viria a escapar. Ou seja toda a actuação de Alfred Cortot nesse período é dúbia quase de jogo duplo o que possivelmente foi o que sempre pretendeu fazer nunca assumindo fazer politica.

Depois da Guerra continuou na sua actividade lectiva e pedagógica assim como numa intensa atividade artística com concertos e gravações um pouco por todo o mundo. A título de curiosidade como consequência de uma das suas tournées no Japão existe no arquipélago japonês uma ilha que lhe deve o seu nome em sua homenagem: Cortoshima.

Acaba por fazer as pazes com Casals sendo com ele que dá o seu ultimo recital em Prades em 1958 interpretando uma sonata de Beethoven. Alfred Cortot viria a falecer em Lausanne no dia 15 de Junho de 1962 quatro anos depois desse ultimo recital.

Se a sua vida foi polémica a sua forma de interpretação não o foi menos. Na verdade ele classificava-se como o ultimo dos românticos para quem a técnica apenas fazia sentido quando aplicada ao serviço da expressão. Numa época em que uma nota errada é um crime de lesa majestade (aliás Cortot é associado precisamente "às notas erradas" que mantinha nas suas gravações) o estilo de Cortot muito mais preocupado na expressão e no sentimento não encontrava sempre bom eco na critica e nas salas. Sem dúvida injusto dado que Cortot detinha uma técnica notável sendo que para ele uma nota errada não era propriamente algo impeditivo da perfeição musical. Bem sei que nos nossos dias é muito complicado sequer entender este ponto de vista mas era assim que Cortot pensava. Para vos dizer verdade estou com ele.

Cortot praticamente interpretou todos os grandes compositores sendo especialmente conhecido pelas suas interpretações de Chopin e de Schumann. No caso de Chopin escolhemos um Nocturno porque gostaria que ouvissem como uma peça tantas vezes interpretada (ao ponto de se tornar um cliché) ganha uma nova vida.




Para Schumann a escolha poderíamos escolher uma das várias obras em que Cortot ainda é considerado uma das referências: Carnaval por exemplo.



Seria de todo injusto porque na verdade Cortot fez muito pela divulgação de jovens compositores não incluir nenhum compositor francês. Escolhemos uma interpretação de dois prelúdios de Debussy.



Porém a sua grande paixão terá mesmo sido César Franck em particular a Sonata para Violino e Piano de que aliás era proprietário do manuscrito. Interpretou-a por várias vezes com Ysaÿe, enesco mas sobretudo com Jacques Thibaud de quem já falamos quando vos contamos do trio que formou com Cortot e Casals. É esta interpretação que vos propomos.

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