quinta-feira, 31 de maio de 2012

Um aniversário com valsa e flores

Hoje faz anos uma das minhas irmãs. Lembrei-me assim de repente que chegamos a partilhar algumas aulas de solfejo em nossa casa com a tal professora que um dia me disse "Fernando é melhor só dizeres o nome das notas, não cantes, não cantes ... ". Já não me consigo recordar se ela lhe ensinava piano a seguir. Foram no entanto poucas aulas e guardo uma memória vaga.

Em todo o caso vem este episódio ao baile - literalmente - para lhe desejar um feliz aniversário. E literalmente será porque se tivesse de relacionar a minha irmã com algum tipo de música clássica claramente esse seria o bailado.

Como presente virtual aqui fica a Valsa das Flores do Quebra Nozes ... que será materializado um pouco mais tarde  :-) . Uma fabulosa animação da Disney de 1940 ela também a seu justo título uma obra de arte (e que também tem a ver contigo, mana).

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Música no Casarão do Belvedere

Bocca Chiusa no Casarão de Belvedere (São Paulo)
Um nosso leitor pediu-nos para divulgar um espaço onde se pode ouvir com regularidade música ao vivo, clássica (mas não só). Como todos os meus leitores mais atentos sabem estes pedidos de divulgação são para mim uma espécie de ordem: Obviamente que os faço com o maior gosto!

Neste caso sendo este pedido do outro lado do Atlântico vindo um espaço em São Paulo aquilo que é para mim um dever passa a ser uma honra. É que estando em Lisboa, sabendo a oferta que existe em São Paulo quer cultural quer de meios de divulgação, participar ainda que de forma modesta nessa divulgação posso dizer-vos que me enche de uma enorme satisfação.

Assim uma vez feita a introdução caros leitores de São Paulo aqui fica o convite para se deslocaram ao Casarão de Belvedere. No link encontrarão a morada exacta e o programa para o mês de Junho. Em particular posso dizer-vos que se estivesse desse lado do mar não perderia o recital com canções de Piaf.

Deixo-vos como sempre com música utilizando para o efeito um exemplo de uma (divertida) parte de um recital anterior.

Jacopo Perri (1561-1633)

Jacopo Perri é considerado ser o "inventor" da ópera mesmo antes de Monteverdi. A obra que segundo alguns musicólogos marca o inicio dessa forma de expressão musical e teatral é Daphne (1597) embora esta não tenha sobrevivido ao passar dos tempos (partituras perdidas) sendo que Euridice (1600) é para alguns a primeira ópera conhecida. Curiosamente parte da música dessa ópera é da autoria de Caccini de quem falamos num post anterior. Na verdade a passagem da Renascença para o período Barroco encontra uma das suas ancora nestes três compositores: Cavalieri, Caccini e Perri.

Jacopo Perri nasceu em Roma a 20 de Agosto de 1561 tendo no entanto mudado para Florença na sua infância. Conhecido em primeiro lugar pelos seus dotes enquanto cantor na corte dos Medici (a partir de 1588). Com o seu mecenas Jacopo Corsi e com o libretista Otávio Rinuccini procura então recriar a tragédia grega. Embora o que acabaram por criar tenha certamente pouco a ver com a forma original o processo acabou na verdade por dar origem a uma nova forma: a Opera que será posteriormente consolidada por Monteverdi entre outros.

Como referimos a primeira ópera Daphne foi totalmente perdida mas de Euridice existem partituras completas embora a sua execução apenas se faça raramente e (quase) sempre por razões mais históricas do que artísticas. neste extracto mostro-vos o prologo que pensa prova bem o talento do compositor e a ponte que ajudou a estabelecer entre a música da renascença e o primeiro período do barroco.



Além desta ópera Jacopo Peri compôs mais algumas muitas vezes em colaboração com outros compositores como por exemplo La Flora que escreveu com Galliano. Jacopo Peri faleceu em Florença a 13 de Agosto de 1633.

domingo, 27 de maio de 2012

A música e o cinema

Já por várias vezes neste blog vos falei da importância da música no cinema. É aliás um dos temas preferidos de conversa com o meu filho como saberão os mais atentos. É curioso que muitas vezes a primeira coisa de que nós os dois falamos ao ver um filme é precisamente da sua banda sonora.

Vem isto a propósito de um ciclo na Cinemateca Portuguesa num tema escolhido, comentado e apreciado por Carlos Ponte Leça e que versa Vicente Minelli e a que certamente irei assistir. O ciclo inicia-se na próxima segunda-feira e decorre até sexta. Irei assistir com excepção da Segunda-Feira dado que por ser dia 28 tenho outros compromissos.

Sobre Carlos Ponte Leça e o próprio ciclo mais informações no site da Cinemateca Portuguesa. A não perder mesmo!

sábado, 26 de maio de 2012

Para acabar de vez com a cultura

Daniel Oliveira escreveu no publico desta semana um artigo intitulado Para acabar de vez com a cultura. Nada a ver com o livro homónimo de Woody Allen. Na verdade este artigo coloca o problema sério do desinvestimento na cultura no contexto de uma crise económica com as pseudo-soluções que nos têm sido repetidas ad-infinitum como se a sua repetição as tornasse verdadeiras. Há, creio, muitos admiradores de Pascal nos vários desgovernos por essa Europa fora.

Como sabem os leitores mais atentos deste blog tenho algumas dúvidas sobre a forma como deve o estado financiar a cultura. Essas dúvidas provêm da constatação que se por um lado como o autor afirma são fundamentais para assegurar a inovação (aliás consagrada na nossa constituição no artigo 73 da mesma como relembrei neste post) por outro lado a história mostra que o resultado do financiamento do estado não tem sido isento de resultados menos positivos precisamente naquilo que pretende assegurar. O acesso de todos à cultura, uma cultura diversificada e em que todos encontrem a sua forma de expressão.

No post em que exprimi as minhas dúvidas (que mantenho) perguntava se não haveria outra forma do estado assegurar essa liberdade? Em vez de o fazer pela oferta fazê-lo pela procura. Ou seja em vez de apostar simplesmente na produção investir também na educação e na criação de público. Porque não tenhamos dúvidas que se o cinema português, a música em Portugal, o teatro, etc ... mais fora do "comercial" tem pouco público isso se deve essencialmente a total inexistência de educação artística nas nossas escolas. Trata-se a cultura (com a eventual excepção da literatura e mesmo assim poderia discutir-se) como algo que não é essencial à formação do individuo.

Senão vejam, existe uma "cadeira" de música durante 2 anos com uma hora por semana, uma cadeira de artes visuais durante quanto tempo? E com que conteúdos? E depois disso? E como são essas matérias valorizadas no plano escolar? Começamos logo na escola a tratar da arte como algo secundário e dispensável face à matemática ou outras coisas mais sérias. Erro profundo. Não porque não seja importante a matemática mas porque na formação de um individuo a ausência do ensino da sua herança cultural conduz à ausência da identidade e a ausência de identidade conduz por sua vez à aceitação que tudo é igualmente relevante e bom.

Notem não peço que se faça um juízo de valor entre várias formas de expressão. A escolha do que "é bom" é uma escolha individual - tem de ser uma escolha individual. É precisamente essa liberdade de escolha que penso se queria consagrar na nossa constituição. Mas para existir liberdade tem de existir informação e conhecimento. E quando a maioria dos nossos cidadãos não sabe sequer quem foi, sei lá por exemplo Carlos Seixas, não posso dizer em consciência que essa liberdade está assegurada pelo lado da procura ... Seriam precisas décadas de investimento na educação para que os júris dos financiamentos pudessem ser dispensados e substituídos pelo juízo de um publico educado. Tenho dúvidas se funcionaria mas creio que é por aí que se poderá encontrar um justo equilíbrio.

Em resumo e por agora não haverá outro remédio senão exigir ao estado que assegure essa diversidade mesmo que seja para poucos. Há no tempo da internet uma forma de pelo menos começarmos a medir a nossa educação colectiva e sermos cada um de nós à nossa escala, pequenos mecenas privados. Não se esqueçam por isso precisamente a propósito deste tema de apoiarem a edição do novo disco de Luís Tinoco num excelente esquema de crowd founding. Já !!!! Do alvo de €3000 ainda só foram angariados €875 e só faltam 16 dias ...

domingo, 20 de maio de 2012

Giulio Caccini (1551-1618)


É um pouco aborrecido um compositor ser conhecido por aquilo que essencialmente não compôs. Esse é o caso de Caccini desde há uns anos sobretudo falado pelo "seu" Avé Maria que não passa de uma mistificação de Vladimir Vavilov compositor e interprete Russo que se especializou nesse tipo de actividade. Só para vossa referência aqui fica esse Avé Maria. Bonito mas não de Caccini embora curiosamente muitos interpretes, mesmo alguns que deveriam saber mais, continuem a persistir nessa atribuição.



Quanto a Caccini propriamente dito nasceu a 8 de Outubro de 1551 em Roma tendo falecido a 10 de Dezembro de 1618 em Florença. Foi uma das bases da passagem da Renascença para o período barroco tendo participado na consolidação do estilo monódico. Tal como Emilio de Cavalieri reclamava para si essa invenção (como veremos procurou mesmo demonstrá-lo).

A sua obra mais significativa terá sido uma colecção de madrigais que intitulou "Le nuove musiche" publicada em 1602 e dedicada a Lorenzo Salviati. Na tentativa de reclamar a invenção deste novo estilo de música Giulio Caccini datou esta dedicatória com a data de 1601 porém não é certo que esta data esteja efectivamente correcta.

Deste conjunto de madrigais fazem parte Amarilli mia bella porventura o mais conhecido (não percam a interpretação de Cecilia Bartoli que seleccionei) ou ainda Amor Io Parto (neste caso interpretado por Montserrat Figueras).







Polémicas à parte Caccini faz parte com Peri, Cavalieri de um conjunto de compositores que contribuíram para a "invenção" da música como hoje a entendemos. Em todo o caso os exemplos que vos deixo devem ser suficientes para vos convencer da excelência do compositor porque são efectivamente belíssimas.

Dick Horowitz a Met Opera Orchestra a percussão e os percussionistas

Muitas vezes brincamos de forma carinhosa claro com o papel dos percussionistas numa orquestra. Dizemos que "aquilo" também nós saberíamos fazer ou então contamos o número de notas que tocam. Brincadeiras injustas claro porque sabemos que não só são elementos indispensáveis como são na maioria dos casos instrumentistas extraordinariamente versáteis.

Vem este post restabelecer alguma justiça e remeter as brincadeiras anteriores para a categoria das brincadeiras parvas (são boas mas são parvas, não pretendo que terminem apenas que tenham noção que são efectivamente isso mesmo - brincadeiras).

Foi através do blog de Alex Ross que tivemos conhecimento que Dick Horowitz o percussionista da Met Opera Orchestra se iria retirar no final desta época após 66 anos de carreira. Sim leram bem, 66 anos! Começou em 1946 com Lakmé e se ouvirem e virem o video vão perceber que poderão ter sido mais de 10.000 espectáculos nestes 66 anos. Não sei se terão sido tantos, esse número pode ser também uma brincadeira, o que é sem dúvida verdade é a linda homenagem que a Direcção da Metropolitan Opera Orchestra fez.

Chamou o músico ao palco e explicou qual o seu papel enquanto instrumentista ao longo destes 66 anos. Contou que instrumentos tinha ajudado a aperfeiçoar e realçou o seu papel enquanto fabricante de batutas (uma das quais a propósito foi enterrada com Bernstein). Grande homenagem e é lindo ouvir o aplauso do público.

Este exemplo é relevante não só pelo respeito que demonstra por um naipe de instrumentos normalmente negligenciado e alvo das nossas brincadeiras mas também pelo enorme sentimento de apreço pela experiência que revela. Essa valorização da experiência e da respectiva idade associada é algo que deveriamos interiorizar na nossa actual escala de valores com a excessivo e desproporcionada beatificação da juventude e do talento estilo farinha amparo, perdoem a expressão.

Celebremos assim os percussionistas e a experiência e sugiro que sigamos este exemplo. Na importância que devemos dar aos que nos parecem (injustamente) acessórios e aos que nos parecem (estupidamente) velhos demais para entender ou serem relevantes. E sim, antes que me perguntem isto é uma indirecta a algumas outras áreas.

sábado, 19 de maio de 2012

In Memoriam de Dietrich Fischer Dieskau (1925-2012)

Faleceu ontem Dietrich Fischer Dieskau um dos cantores que possivelmente me (re)conciliou com o Lied. Deixou-nos mais pobres. Poderá com alguma verdade dizer-se que já "tinha vivido a sua vida" seja o que for que isso signifique quando se faz parte da herança cultural de um país, ou melhor quando se faz parte da herança cultural da civilização ocidental.

Fischer Dieskau era um dos grandes. Um dos que faz parte do raro grupo de vozes que nos eleva a alma e dá sentido às palavras de Bach sobre a Música e Deus. Não sei se admiro mais a sua capacidade artistica se a sua integridade ou se o seu sentido pela inovação.

Faleceu na sua casa na Baviera uns poucos dias antes de celebrar o seu octogésimo sétimo aniversário. Embora tivesse já abandonado a sua carreira há 10 anos parece que foi ontem ... Como no caso de todos os que não serão nunca esquecidos. Parece que foi ontem ...

Escolher apenas uma obra e uma interpretação para vos deixar como memória é dificil. Para mim tem de ser Schubert. depois de algumas considerações resolvi-me pela canção que precisamente me reconciliou com este género, talvez ela possa também ensinar algo aos mais novos. Fiquem portanto com "An die Musik" de Schubert (D547), composto em 1847 sobre um poema de Schober. Adequado também porque este poema enaltece a música e a arte tal como Fischer Dieskau. Uma melodia simples e poderosa como são as coisas simples e bem feitas. Uma interpretação sem acrescentar floreados desnecessários, quase contida. Uma lição.

Linda Arte, em quantas horas cinzentas,
Quando a órbita feroz da vida me enleou,
Acendeste meu coração para o quente amor ,
E me levaste para um mundo melhor!

Quantas vezes um suspiro escapou da tua harpa,
Um acorde, um doce sagrado 
Abriu para mim o céu e tempos melhores,
Linda arte, como eu te agradeço!


E nós, que te ouvimos a ti Dietrich Fischer Dieskau, como te agradecemos, como te agradecemos!



Como despedida Im Abendrot de Richard Strauss cantado por Elisabeth Schwarzkopf que disse de Fischer Dieskau : "Um Deus que tem Tudo" parece-me mais do adequado.

 

terça-feira, 15 de maio de 2012

Luís Tinoco - Orchestral Works

Chegou-me por email há uns dias uma noticia de que faço eco aqui porque penso ser esta uma forma que os compositores contemporâneos portugueses podem seguir para conseguir gravar as suas obras.

Trata-se de um sistema de edição de discos parcialmente baseado em Crowd Founding. No caso tratam-se de algumas obras de Luís Tinoco que serão gravadas pela Orquestra Gulbenkian com a direcção de David Allan Miller. Digo parcialmente porque neste caso existem outras entidades a suportar o projecto que conta com o apoio institucional do Serviço de Música da Fundação Gulbenkian, da Sociedade Portuguesa de Autores, da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e da RDP Antena 2.

Têm ainda 27 dias para apoiar esta iniciativa aqui. Espero encontrar-vos a todos no dia 12 nas gravações!

O Meu Primeiro Disco de ... Grandes Compositores Portugueses

Estive ontem na FNAC porque o computador do meu filho decidiu que era altura de deixar de trabalhar. Não discuto o sentido de timing pouco conveniente do referido aparelho. Antes prefiro pensar como Pangloss e Candide que foi o desígnio de Deus que quis que assim conhecesse uma série de discos para os mais pequenos intitulada "O meu primeiro disco".

Há vários discos já editados nessa colecção como por exemplo, O Meu Primeiro Disco de Bach ou o Meu Primeiro Disco de Beethoven mas o que eu adquiri e quase me fez chorar de felicidade foi O Meu Primeiro disco de Grandes Compositores Portugueses.

Que alguém tenha resolvido fazer este discos de iniciação à música clássica já só por si é absolutamente fantástico. Que ainda por cima tenham resolvido fazer um sobre compositores portugueses é de coragem e aprecia-se!  A edição é da Companhia Nacional de Música e as gravações são da Naxos. O ponto nitidamente menos favorável desta edição é não mencionarem nem as orquestras nem os maestros que interpretam as obras, nitidamente um ponto a rever, não vão os mais jovens pensar que a música clássica tal como o leite aparece já feita dentro das grandes superfícies, passe a comparação das orquestras às vacas sem desprimor para nenhuma delas :-). É um ponto que futuras edições deveriam em meu entender corrigir.

Quanto à selecção dos compositores em si não se discute. Inclui todos os períodos desde a Renascença aos tempos actuais passando pelo barroco, pelo clássico e pelo romântico. Podemos assim no disco ouvir uma obra de Duarte Lobo (nitidamente a surpresa), uma obra de Carlos Seixas (Sinfonia em Si Bemol), uma obra de Marcos Portugal (abertura de Il Duca di Foix), várias Cenas Portuguesas de Vianna da Motta, a Suite Alentejana de Luís de Freitas Branco e por fim o Concerto para Cordas em Ré Maior de Joly Braga Santos.

Como dizia não se discute a selecção dos compositores nem tão pouco das obras porque seria possível fazer mais uma dezena de discos destes com escolhas diversas e igualmente correctas.

Termino recomendando fortemente não só este disco como os restantes da série (é um exclusivo da FNAC por isso só mesmo aí os poderão encontrar, mas para quem vive longe de uma a loja online é uma boa opção) mas também que visitem o site da Companhia Nacional de Música até porque já encontrei por lá alguns outros discos de que certamente virei a falar por aqui ... Para os Lisboetas a visita à loja no Chiado na Rua Nova do Almada, 60 é também uma boa ideia!

domingo, 13 de maio de 2012

Quator à Cordes - Debussy

Hoje confesso que terei alguma dificuldade em escrever este post. A notícia do dia de ontem chocou-me e deixou-me triste. Porém como em outras ocasiões escrever faz parte da terapia; escrever sobre música ainda mais. Perdoem-me se detectarem melancolia a mais.

Este artigo faz parte de uma sequência de artigos prometidos sobre Debussy e segue-se ao já escrito sobre Prélude à l´aprés-midi d´un Faune.

Esta obra foi composta em 1893 um ano muito importante para Debussy já que marca o inicio da composição da sua ópera Pelleas e Melissande. Precede também a obra de que já falamos (Prélude) embora do ponto de vista da composição esteja muito mais próxima das anteriores Petite Suite (1889) ou mesmo da Suite Bergamasque (1890). Foi estreada em Paris na sala Pleyel a 29 de Dezembro de 1893 pelo Quarteto Ysaye.

Escolhemos falar deste compositor porque este ano marca o 150º aniversário do seu nascimento e por essa razão multiplicam-se as interpretações de obras suas ou a edição de especiais. Como referimos a Diapason deste mês tem precisamente por tema de capa Debussy e este aniversário sendo o disco indispensável do mês a interpretação deste Quarteto em Sol Menor Op. 10 pelo Quarteto de Budapeste numa gravação de 1957.

A obra em si tem um formato clássico em Quatro Andamentos mas o aspecto "clássico" termina nessa coincidência já que esta obra é um ponto de viragem também na música de câmara. Tinhamos referido na sua biografia que Debussy é sem dúvida um dos músicos mais importantes na história da música pela charneira que representa ao mesmo nível que um Stravinsky por exemplo. Este quarteto é representativo na inovação porque embora tenha uma consistência temática muito próxima de um Cesar Franck por exemplo não deixa de ter uma liberdade de expressão à volta desse tema que transcende essa ligação, embora para quem como eu aprecia essa forma não deixe por isso de seduzir também por esse aspecto.

O primeiro andamento Animé et très décidé é uma forma sonata com a exposição do tema recorrente ao longo da obra e que forma a ligação temática entre os quatro andamentos exposto logo no seu inicio. Podem ouvir este andamento aqui interpretado pelo Quarteto LowenGuth numa gravação de 1953 da Deutsche Gramophon, Grande Prémio do Disco em 1956. Salienta-se

O segundo andamento Assez vif et bien rythmé - Este segundo andamento é um Scherzo com uns tons bastante, como dizer, ibéricos. Podem ouvir este segundo andamento no mesmo vídeo que vos propus anteriormente a partir do minuto 6:07 aproximadamente.

O terceiro andamento Andantino, doucement expressif - O meu andamento preferido. A sua clareza pode por vezes levar à tentação do exagero na interpretação. Podem ouvir aqui uma interpretação com muita alma mas suficiente contenção pelo Quarteto Ebène.

O quarto andamento Très modéré - En animant peu à peu - Très mouvementé et avec passion. Com uma recapitulação inicial de todo o material, numa forma muito semelhante à nona Sinfonia de Beethoven para depois crescer em tensão e animação terminando num magnifico apogeu em Sol Maior. Podem ouvir e ver este quarto e ultimo andamento pelo quarteto Ysaye de França.




sexta-feira, 11 de maio de 2012

In Memoriam Bernardo Sassetti (1970-2012)

Não há muito que se possa acrescentar. De Bernardo Sassetti tínhamos falado quando vos apresentamos a excepcional banda sonora de Second Life, o filme que "vimos" apenas através da sua música. Ao vivo tive felizmente oportunidade de ouvir algumas vezes.

Perdeu-se um grande compositor, um grande pianista e um grande homem. Que encontre a mesma paz que através da sua música tantas e tantas vezes nos proporcionou.

Fiquem com The Raven King do filme Second Life, música de Bernardo Sassetti.

 

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Sete Lágrimas, Manuel Machado e Outra Margem

Como já vos tinha referido o programa Outra Margem de Manuela Paraíso voltou à nossa companhia agora acessível na internet. Não se esqueçam todas as Quarta-Feiras um novo episódio. No novo programa editado ontem Manuela Paraíso fala-nos de música antiga em particular do compositor seiscentista português Manuel Machado (1590-1646) e do ensemble de música antiga Sete Lágrimas. Não percam mesmo !

Fica também o desafio para irem ouvir (e ver) os Sete Lágrimas ao vivo no próximo domingo no pequeno auditório do CCB às 17h.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

No dia de hoje há vinte anos

No dia de hoje faz vinte anos estava uma manhã de Sol , era Sol Maior com toda a certeza, na maternidade Alfredo da Costa esperando que nascesses. Não querias nascer como se te fosse importante escolher o dia 7 de Maio, um dia perfeito como tantas vezes dizes.

Tu não querias conhecer o mundo mas eu e a tua mãe mal podíamos esperar. Foste (és) um filho planeado e muito desejado. Porém apesar de todos os planos que pudéssemos ter feito veio a realidade superar toda e qualquer expectativa: Quando te decidiste a conhecer o mundo foi para o mudar de forma irreversível.

Para a tua mãe como sabes e eu repito-o na sua ausência eras o seu grande amor. Mesmo. De forma absoluta e indiscutível. Deves por isso sentir a falta do seu carinho, das suas brincadeiras do seu sorriso sempre que te via. Na sua ausência física digo-te eu em seu (nosso) nome: És o seu (nosso) grande amor.

Mudaste o nosso mundo mas sem dúvida mudarás (ainda) o mundo de tantas e tantas pessoas. Porque reconheço em ti a mesma atitude de total altruísmo e abnegação pelos seus amigos que conheci na tua mãe. Porque reconheço em ti as qualidades de carácter que sabes preservar. Porque te vejo saber separar o essencial da vaidade e do que é oco.

Continua assim Miguel porque o Mundo precisa de pessoas assim. Precisa mais disso do que qualquer outra coisa. Sempre em Sol Maior por certo.

PS: Só tens mesmo de jogar um bocado menos Football Manager (só um bocadinho :-))

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Hoje foi dia de comprar a Diapason

E foi mesmo. Lembram-se de vos dizer que por vezes há coincidências que parecem não o ser? Lembram-se de vos dizer que tinha decidido de fazer uma série sobre Debussy? então e não é que a capa da Diapason deste mês é mesmo sobre Debussy? E juro-vos que não fazia ideia ... mesmo ...

Desta forma vamos todos poder celebrar os 150 anos do génio melhor informados ! Amanhã prometo começar a série para já fiquem com esta linda capa verde e claro com o Quator para piano uma das obras que consta no CD (esta não é gravação em causa mas é uma excelente gravação dos anos 50 que venceu um Grande Prémio do Disco em 1956)

Quatuor à Cordes

terça-feira, 1 de maio de 2012

Emílio de Cavalieri (1550-1602)

Hoje por razões que irão entender dentro de uns meses voltamos ao período barroco mais precisamente ao seu inicio ...


Emílio de Cavalieri (1550–1602): Compositor Italiano possivelmente nascido em Roma a 11 de Março de 1550 - A data de nascimento não é totalmente segura. É um compositor chave na definição do período barroco pela "invenção" do estilo monódico. A sua composição mais significativa terá sido Rappresentatione di Anima, et di Corpo... . Podem ler uma biografia mais detalhada na Página de Música Antiga.

Oportunidades na Amazon