Daniel Oliveira escreveu no publico desta semana um artigo intitulado Para acabar de vez com a cultura. Nada a ver com o livro homónimo de Woody Allen. Na verdade este artigo coloca o problema sério do desinvestimento na cultura no contexto de uma crise económica com as pseudo-soluções que nos têm sido repetidas ad-infinitum como se a sua repetição as tornasse verdadeiras. Há, creio, muitos admiradores de Pascal nos vários desgovernos por essa Europa fora.
Como sabem os leitores mais atentos deste blog tenho algumas dúvidas sobre a forma como deve o estado financiar a cultura. Essas dúvidas provêm da constatação que se por um lado como o autor afirma são fundamentais para assegurar a inovação (aliás consagrada na nossa constituição no artigo 73 da mesma como relembrei neste post) por outro lado a história mostra que o resultado do financiamento do estado não tem sido isento de resultados menos positivos precisamente naquilo que pretende assegurar. O acesso de todos à cultura, uma cultura diversificada e em que todos encontrem a sua forma de expressão.
No post em que exprimi as minhas dúvidas (que mantenho) perguntava se não haveria outra forma do estado assegurar essa liberdade? Em vez de o fazer pela oferta fazê-lo pela procura. Ou seja em vez de apostar simplesmente na produção investir também na educação e na criação de público. Porque não tenhamos dúvidas que se o cinema português, a música em Portugal, o teatro, etc ... mais fora do "comercial" tem pouco público isso se deve essencialmente a total inexistência de educação artística nas nossas escolas. Trata-se a cultura (com a eventual excepção da literatura e mesmo assim poderia discutir-se) como algo que não é essencial à formação do individuo.
Senão vejam, existe uma "cadeira" de música durante 2 anos com uma hora por semana, uma cadeira de artes visuais durante quanto tempo? E com que conteúdos? E depois disso? E como são essas matérias valorizadas no plano escolar? Começamos logo na escola a tratar da arte como algo secundário e dispensável face à matemática ou outras coisas mais sérias. Erro profundo. Não porque não seja importante a matemática mas porque na formação de um individuo a ausência do ensino da sua herança cultural conduz à ausência da identidade e a ausência de identidade conduz por sua vez à aceitação que tudo é igualmente relevante e bom.
Notem não peço que se faça um juízo de valor entre várias formas de expressão. A escolha do que "é bom" é uma escolha individual - tem de ser uma escolha individual. É precisamente essa liberdade de escolha que penso se queria consagrar na nossa constituição. Mas para existir liberdade tem de existir informação e conhecimento. E quando a maioria dos nossos cidadãos não sabe sequer quem foi, sei lá por exemplo Carlos Seixas, não posso dizer em consciência que essa liberdade está assegurada pelo lado da procura ... Seriam precisas décadas de investimento na educação para que os júris dos financiamentos pudessem ser dispensados e substituídos pelo juízo de um publico educado. Tenho dúvidas se funcionaria mas creio que é por aí que se poderá encontrar um justo equilíbrio.
Em resumo e por agora não haverá outro remédio senão exigir ao estado que assegure essa diversidade mesmo que seja para poucos. Há no tempo da internet uma forma de pelo menos começarmos a medir a nossa educação colectiva e sermos cada um de nós à nossa escala, pequenos mecenas privados. Não se esqueçam por isso precisamente a propósito deste tema de apoiarem a edição do novo disco de Luís Tinoco num excelente esquema de crowd founding. Já !!!! Do alvo de €3000 ainda só foram angariados €875 e só faltam 16 dias ...
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