Depois de ontem termos falado do Concerto nº1 para Piano e Orquestra continuando a completar a lista de posts destinados a ilustrar as 100 obras que recomendo para começarem a ouvir música clássica (com bastante batota já que devido a entradas com múltiplas sugestões são algo mais do que 100 :-)) hoje iremos falar-vos do Concerto nº2 para Piano e Orquestra de Liszt.
Este concerto foi composto em 1839 uma década depois dos primeiros esboços do primeiro mas foi guardado sem que tenha sido publicado ou interpretado durante mais de uma década como aliás também aconteceu com o primeiro concerto como vimos ontem. Esta obra foi estreada a 7 de Janeiro de 1857 sendo solista o aluno de Liszt Hans von Bronsart a quem o concerto aliás é dedicado e a orquestra dirigida pelo próprio Liszt.
Se o primeiro concerto já demonstrava o carácter inovador de Liszt e profundamente romântico na forma este segundo leva essa característica ao extremo. Na verdade esta obra, claramente menos virtuosa na sua exigência técnica é composta por um único andamento dividido em seis partes (nem sempre são assim indicadas, sendo estas divisões na verdade bastante subtis podem existir diferentes interpretações). Mais ainda Liszt que como vos dissemos ontem foi o inventor do conceito de poema sinfónico inicialmente apelidou este concerto de "concerto sinfónico" um termo que o seu amigo Henry Litolff utilizou para definir um novo conceito em que o concerto deixava de ser apenas uma forma de exposição dos dotes de virtuoso do solista para ser um verdadeiro diálogo entre o instrumento solista e a orquestra.
Liszt acabou no entanto por abandonar essa intenção embora seja verdade que este concerto equilibra bastante o papel do solista e da orquestra. Tão importante quanto isso é a forma de composição em que Liszt leva ao expoente máximo a técnica de desenvolvimento temático e transformação de um único tema ao longo literalmente de toda a obra dando-lhe uma maravilhosa sensação de unidade.
O concerto começa com a exposição do tema que nos vai acompanhar durante 20 minutos nas suas várias metamorfoses, algumas dificilmente identificáveis, uma maravilhosa e tranquila primeira exposição pelos sopros que o piano começa por simplesmente acompanhar enquanto as cordas retomam a sua exposição. Estes primeiros minutos do concerto estão entre os meus preferidos. O ambiente quase melancólico é cortado pelo piano com um tema com um ritmo muito marcado que vai levar a orquestra a um picos emocionais da obra. A outra passagem de que gosto particularmente é aquela que corresponde à terceira parte em que um violoncelo solo introduz de novo o tema literalmente acompanhado pelo piano.
Escolhi para ilustrar esta obra uma gravação que não tendo grande qualidade sonora é uma interpretação histórica. Podemos nesta gravação ouvir Claudio Arrau com Filarmónica de Nova Iorque dirigida por Szell. Uma gravação de Dezembro de 1946.