quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Alban Berg, Richard Strauss e Mahler e gráficos

Como foi referido no blog The Rest is Noise foi recentemente publicado um livro Alban Berg and His World editado por Christopher Hailey e que procura esclarecer-nos sobre o papel deste compositor no modernismo vienense. No site da Princepton Press podem ler o primeiro capitulo do livro intitulado Berg´s Worlds gratuitamente assim como ler o Índice completo da obra.

Uma parte particularmente engraçada do livro segundo Alex Ross é uma análise das carreiras de Mahler e de Strauss. Na primeira vemos um gráfico com uma linha recta sempre ascendente. Na de Strauss vemos duas rectas na forma de um triângulo a primeira ascendente a segunda descendente indicando portanto o declinio de Strauss enquanto compositor no fim da sua vida.

Diz Alex Ross que se Berg tivesse ouvido "As Quatro Ultimas Canções" ou "Cappricio" talvez tivesse considerado uma segunda recta ascendente no gráfico de Strauss. Obviamente o de Mahler (digo eu) não se discute :-). No que diz respeito às Quatro Ultimas Canções também partilho a opinião, são efectivamente belíssimas ...

É caso para dizer "Oh da Guarda!"

Chamaram-me a atenção para um caso insólito - à falta de outro adjectivo - que ocorreu em Vila Viçosa localidade do distrito da Guarda. Podem ler uma descrição do caso no Café Mondego que contém igualmente um scan de uma página do Diário de Notícias onde o jornalista Manuel António Pina descreve o sucedido.

Em resumo o Presidente da Junta de Vila Viçosa resolveu boicotar um concerto de música clássica dado num espaço privado e devidamente autorizado à força de ... vuvuzelas no exterior do recinto. A causa para tal boicote não tinha nada a ver com a música mas antes com conflitos passados entre o organizador do concerto e referido Presidente da Junta.

Obviamente que a causa do boicote é irrelevante, imaterial porque fossem quais fossem as razões que eventualmente lhe assistiriam (nem as discuto embora em boa verdade face ao tipo de "vingança" tenda a pensar que poucas serão as probabilidades de lhe assistir alguma) estas estariam irremediavelmente perdidas na altura em soprassem nas ditas. Como digo e repito os fins nunca justificam os meios: Nunca. Nem os músicos nem o público mereceria certamente o tratamento já para não falar do principio em si.

Mas esperem que o melhor ainda está para vir. Foi chamada a polícia obviamente. Que nada fez. Afinal de contas um dos sopradores de vuvuzela era o Presidente da Junta. Aparentemente a policia sabe quem manda na terra demonstrando assim sobeja cultura política.

Pensais que o caso acaba aqui? Pois não. Segundo a novela em causa um dos espectadores era o Director do Teatro Municipal da Guarda que terá tentado incutir bom senso nos "manifestantes" como assim se apregoavam. Rezam os artigos que por causa dessa intervenção o referido Teatro terá o seu orçamento cortado em 20% em 2010 e 30% em 2011.

Confesso-vos que me custa muito acreditar que no meu país alguém com responsabilidades se comporte desta forma como se estivéssemos numa republica de vuvuzelas (para não dizer mal de uma fruta que não tem qualquer tipo de culpa no cartório, já as vuvuzelas merecem ...). Quero ainda acreditar que pelo menos a ultima parte desta história tem outras explicações. Quero acreditar que a não intervenção da polícia se deveu a preferirem as vuvuzelas a Vivaldi ignorando assim a lei em virtude de uma profunda e revolucionária (contemporânea ?) sensibilidade artística. Gostaria ainda de acreditar que não se tratou de um boicote mas da expressão de um profundo sentimento artístico irreprimível, urgente, uma espécie de happening pós-moderno.

Quero acreditar em tudo isso, ignorando as probabilidades, porque qualquer outra explicação vai do muito muito triste pela falta de carácter ao profundamente preocupante pelo abuso de poder. Como vos dizia é caso para gritarmos bem alto: Oh da Guarda ... (some pun intended).

Oportunidades na Amazon