terça-feira, 30 de abril de 2013

A música e as palavras

A propósito do tema de ontem e já que ninguém comentou deixem-me acrescentar mais algumas reflexões sobre o tema. Bom na verdade não exactamente sobre a intenção desta frase já que muito provavelmente Nietzsche queria dizer simplesmente que era melhor que Wagner estivesse calado em vez de dizer disparates mas sobre a relação entre a música e as palavras. Notem não tenho nada contra música com palavras antes pelo contrário, nem tão pouco com música programática digamos que o tema aqui é o paralelo entre a prosa e a poesia. A música começa onde acaba a prosa, a música expressa o que a junção racional de palavras é incapaz de nos propor; dizia Richter que a música é a poesia do ar.

Um dos nossos compositores preferidos Mahler afirmava que se um compositor conseguisse exprimir o que pretendia com palavras não se daria ao trabalho de compor música. Vitor Hugo (o romancista francês autor por exemplo dos Miseráveis e grande poeta também) dizia que a música expressa o que não pode ser dito e sobre o qual é impossível ficar em silêncio. Podemos também concordar com Heinrich Heine o autor do poema (entre outras obras bem entendido) do ultimo andamento da Nona Sinfonia de Beethoven e que afirmava que a música começa quando acabam as palavras, pensamento aliás partilhado quase de forma igual por Lamartine que preferia dizer que a música é a literatura do coração, começa onde acabam as palavras, muito semelhante como estão a ver.

Mas terminando, porque temos de terminar (haveria muito mais formas de exprimir este pensamento) deixem-me desde já deixar a dica para o complemento a esta sequência que farei amanhã. Dizia Huxley que a seguir ao silêncio a música é o que melhor expressa o inexprimível. Deixo-vos com música e não com silêncio mas sugiro que oiçam em silêncio. Lieder Ohne Worte por Richter um dos que citamos neste extracto e claro que Canções sem Palavras é uma das melhores escolhas possíveis para ilustrar este tema ...


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Pensamento do dia - Nietzsche e Wagner

Como sabem os mais atentos Alex Ross está a preparar um livro sobre Wagner. Possivelmente no âmbito da pesquisa que está a efectuar (isto é especulação pura) publicou uma frase de Nietzsche no seu blog que resolvi partilhar convosco:

"The author should shut his mouth when his work opens its mouth." 
 Nietzsche, Mixed Opinions and Maxims

Numa tradução algo livre seria algo como:
"O autor deveria calar-se quando o seu trabalho fala por si"

O que pensam? Ah, esquecia-me do detalhe, supostamente isto era dirigido a Wagner. No que me diz respeito subscrevo e mais não digo ... ou melhor deixo precisamente a música a falar!


sexta-feira, 26 de abril de 2013

Rachmaninoff - 2º Concerto para Piano e Orquestra

O que vos posso dizer de um concerto para Piano que me faz sistematicamente chorar? Que as suas fantásticas melodias inspiradas da música popular russa estão impregnadas de tal melancolia que lhes é impossível resistir?

O que vos posso dizer de um concerto que é sistematicamente referido como um dos mais populares e preferidos em várias votações? Por exemplo em Inglaterra já foi por vários anos o preferido na votação da rádio Classical FM.

O que vos posso dizer de uma obra que está claramente entre as minhas preferidas e uma das que quando me perguntam: Nunca ouvi um concerto de música clássica. O que me recomenda? Se estamos a falar de um concerto para Piano este é um deles sem margem para dúvida.

O concerto foi composto entre o Outono de 1900 e Abril de 1901 como uma espécie de terapia do enorme fracasso que a Sinfonia Nº1 do mesmo compositor representou e que fez Rachmaninoff mergulhar numa profunda depressão. Aliás o concerto é dedicado ao psicologo Dr. Dahl que curou o compositor através de hipnose convencendo-o que o seu concerto iria ser excelente. O concerto foi estreado a 9 de Novembro de 1901 com o compositor ao piano e a Orquestra dirigida pelo seu primo Siloti. A estreia foi bem sucedida tendo o compositor vindo a vencer o prémio Glinka em 1904 com este concerto.

O Primeiro Andamento (Moderato) na forma de Sonata em Dó Menor começa com uma introdução pelo piano o que não sendo original (por exemplo o quarto de Beethoven também desta forma) não é muito usual  e certamente introduz desde logo uma intensidade dramática. Note-se que este primeiro andamento foi composto depois do segundo e do terceiro e logo na verdade um dos temas deste primeiro andamento foi de certa forma inspirado no ultimo (e não o inverso como poderíamos pensar pela ordem de audição). este facto no entanto confere à obra um tipo de unidade que aprecio. Não existe cadenza nem seria necessário, as dificuldades do resto são suficiente demonstração do virtuosismo do pianista. Para ilustrar este andamento escolhemos uma interpretação de Heléne Grimaud com Abaddo a dirigir a Orquestra.




O Segundo Andamento (Adagio Sostenuto) é simplesmente fantástico, dificilmente posso encontrar adjectivos para a melodia que se vos soar familiar é porque é mesmo (oiçam All by Myself para perceberem). Um andamento na forma clássica de um Rondo normalmente utilizado para os terceiros andamentos e que de certa forma estabelece a calma antes da tensão que o terceiro andamento vai despertar. De novo proponho Heléne Grimaud para este andamento.




O terceiro andamento (Allegro Scherzando)  na forma  de Sonatina é marcado pelo crescimento gradual de uma tensão que é resolvida num fortíssimo que expõe de novo um dos temas. Até ao fim do concerto uma coda frenética praticamente não nos deixa respirar. Oiçam de novo Helène Grimaud.


Por fim reservo-vos uma surpresa uma interpretação completa do próprio Rachmaninoff da totalidade do concerto que para além de ser um dos preferidos do público continua a ser um dos preferidos dos pianistas (embora a sua natureza neo-romântica ou romântica tardia se preferirmos) desgoste alguns que prefeririam ver num compositor desta época uma escrita mais moderna.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

25 de Abril - Música e Liberdade

Perdoem-me mas hoje embora tenhamos música para terminar permito-me um texto de cariz verdadeiramente politico no que o politico tem de mais nobre: Uma reflexão sobre os nossos tempos e sobre o caminho que pretendemos seguir. Num dos textos do programa oficial dos Dias da Música do fim de semana passado, creio que foi no texto sobre o brilhante concerto da OCP no Grande Auditório com a Abertura Coroliano e o Quarto Concerto para piano e orquestra de Beethoven, nesse concerto dizia-se que para Beethoven a música e a liberdade eram sinónimos.

Sim eram literalmente sinónimos, a expressão do fim dos "senhores" e dos direitos ainda quase feudais da Nobreza ou do Clero todo poderosos. Desde aí até ao final dos anos 80 princípios dos anos 90 a humanidade no seu conjunto com desvios e déspotas pelo meio fez um progresso notável garantindo em alguns casos um esquisso de igualdade de oportunidades, um vislumbre de igualdade perante a lei, alguma dignidade e um acesso quase igual à saúde e à educação.

Dizem-nos agora neste século XXI que essas coisas eram miragens, que não podem ser conseguidas, que, expressão que pretende ser final, não há dinheiro. Pois eu digo-vos que há. E explico-vos porquê. Pelo menos no mundo ocidental nós temos enquanto sociedade recursos humanos, competências organizacionais,  técnicas, cientificas, estruturais para permitir que todos nós vivamos num mundo melhor com uma distribuição muito mais inteligente da riqueza produzida.

Não estou a defender estados socializantes ou comunistas nem tão pouco outras formas de organização igualitárias. Defendo isso sim que são efectivamente conquistas inalienáveis e que não podem ser sujeitas a qualquer tipo de concessão ou acesso igual à saúde, educação e justiça. Defendo que as leis laborais existentes podendo ser revistas em alguns excessos que poderão ter devem acompanhadas pela mesma revisão da consciência de quem detém o capital.

Defendo que o problema não está na falta de recursos ou de dinheiro. O problema está no nosso egoísmo colectivo se assim se pode dizer. Em primeiro lugar claro naqueles que mais têm mas não só. Porque a ânsia do materialismo está em todos nós. E sim possivelmente teremos de baixar um pouco as nossas expectativas para que todos possamos viver de forma minimamente condigna. Já sei que me vão dizer que isso é um nivelamento por baixo. Talvez seja. Eu não me importo de ceder um pouco da minha qualidade de vida se isso significar mais justiça, educação e saúde para todos.

Beethoven e a liberdade na sua única ópera. Viena, e a sua filarmónica dirigida por Bernstein. O final da ópera para o final do post. Liberdade, Fraternidade, Igualdade - o grito da revolução francesa que ecoa desde os tempos de Beethoven. 25 de Abril Sempre.


domingo, 21 de abril de 2013

Concerto moderno

Rachmaninoff

Segundo concerto para piano orquestra. Um dos meus preferidos e um excelente pianista. Vamos ver ...

Nota: Agora que já vimos e ouvimos e agora que voltamos a chorar, que grande concerto. O melhor do dia e não é dizer pouco porque a OCP e o Quarto de Beethoven foram dignos opositores. Fica desde já prometido que será desta obra que falaremos de seguida no contexto das nossas 100 melhores obras.



Ocp e o quarto de beethoven para piano

Vamos ver ... não conheço o pianista mas adoro o concerto talvez mais do que o quinto. Um aperitivo de luxo para o das sete ... rachmaninoff n2 já sei que vou chorar :-) ...

Santa Cecília

Agora de novo no espaço público.  Academia de música de santa Cecília.

Moyano, quarteto Lopes graça

Chopin .... entre outros

Os violinos do moderno

No espaço público o primeiro concerto do dia e uma estreia (creio) do grupo.

sábado, 20 de abril de 2013

Agora Schubert e Brahms

Burmester ...

Smetana e Janacek pelo Quarteto Prazak - O melhor do dia

Smetana e Janàcek ... pelo Quarteto Prazak.

E foi mesmo o melhor concerto do dia. Aliás foi um dos melhores concertos a que assisti nos últimos tempos. Não encontrei no You Tube as mesmas obras interpretadas pelo Quarteto que ouvi ontem e neste caso que me desculpem mas não vos vou oferecer interpretações de outros quartetos das mesmas duas obras, o Quarteto nº 1 em Mi Menor "Ma Vlad" (da minha vida) de Smetana e o Quarteto nº2 "Cartas Intimas" de Janàcek.

Que concerto absolutamente fabuloso ! 

Coloquei links para uma outra interpretação mas aqui no post o que vos vou propor é ouvirem este Quarteto em outras duas obras de Smetana e Janàcek. Curiosamente são exactamente os números trocados ou seja o Nº2 de Smetana e o Nº1 de Janàcek.






Nota: Acrescentei alguns comentários ao post de ontem hoje Domingo 21.

Ocp Zero

Que nível ! Excelente ! 

A primeira obra interpretada o primeiro andamento do 3º Concerto para Piano e Orquestra de Beethoven foi simplesmente excepcional. Esta Orquestra de jovens está com um nível simplesmente fabuloso. Excelente trabalho do maestro Pedro Carneiro.

Nota: Post editado hoje Domingo 21 com detalhes sobre a razão pela qual gostei particularmente desta interpretação e com a adição de uma interpretação do concerto nº 3 de Beethoven.

Interpretação com Rubinstein ao piano e a orquestra do Concertgebouw dirigida por Hugo Kach.

Wagner e Schubert pelo Ensemble Mediterrain

Pelo Ensemble Mediterrain mas não posso dizer que tenha gostado particularmente. Prelúdio do III acto da ópera os Mestres Cantores de Nuremberga e A Truta de Schubert. Esta ultima em particular talvez por estar mal habituado pareceu-me muito fraca ... Admito que a bitola talvez esteja demasiado elevada neste caso, deixo-vos a versão com que me apaixonei por esta obra.


Nota: Post corrigido hoje (Domingo) com alguns detalhes sobre as obras e a correcção do nome do agrupamento.

Primeiro concerto no espaço público

Os Violininhos com a sua habitual energia e vitalidade. 

Nota: Post editado hoje (Domingo) após concerto retirando uma fotografia com o palco vazio que foi colocada por erro.

Quanto ao concerto em si a habitual energia e qualidade desta vez com a novidade de todas as peças terem sido dirigidas pelos alunos. Muito engraçado.



Um impulso romântico

Hoje e amanhã num verdadeiro impulso romântico estarei no CCB para ouvir e ver alguns concertos. Depois conto-vos. Aliás vou tentar de novo contar em directo mas não tenho a certeza absoluta de conseguir.

Dias da Música 2013 no CCB - O Impulso Romântico ! Se puderem não percam.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Festival Terras sem Sombra - Concerto de Almodovar

Igreja de Santo Ildefonso onde decorreu o
concerto de abertura do
Festival Terras semSombra 2013.
Um pouco atrasado confesso (as minhas desculpas) partilho convosco o que ouvi no concerto que abriu o Festival Terras sem Sombra em Almodôvar . Gostava de começar com uma palavra para o festival propriamente dito que me agrada particularmente por duas razões: Em primeiro lugar por ser assumidamente uma forma de divulgar o património existente no Alentejo e Almodôvar segundo ouvi no inicio do concerto tem muitas razões para ser conhecido em detalhe. Em segundo lugar porque a junção do conceito de um festival a uma preocupação ambiental parece-me uma excelente forma de complementar o primeiro ponto. O património natural é tão importante como o construído. Penso que este festival é uma lição para todos e espero que seja copiado em outras regiões do país. No site que referencio do festival tem mais informação sobre o restante programa do festival (o próximo concerto é já no dia 20 de Abril em Santiago do Cacém) assim como a preocupação citada pela Biodiversidade. Note-se a excelência da programação artística a cargo de Paolo Pinamonte que dispensa apresentações, creio.

O concerto teve por interpretes a orquestra de cordas Concerto Moderno dirigida por César Viana e as solistas Raquel Alão (Soprano) e Marifé Nogales (Alto). Gostei especialmente das duas ultimas obras das três que constituíam o programa.

A primeira peça interpretada foi o Adágio e Fuga para cordas de Mozart (K. 546) que vos mostro aqui numa versão semelhante em termo de número de instrumentos e acústica (embora uma igreja totalmente diferente).



A segunda obra foi para mim uma total descoberta dado que não conhecia nem a obra nem o compositor. Requiem para Orquestra de Cordas de Toru Takemitsu. Depois do meu anterior post sobre Tonalidade versus Atonalidade com toda a certeza verão que a dicotomia entre as primeira e terceira peça e esta segunda não pode ser mais ilustrativa deste tema de discussão. Isto dito tal como também já referi por várias vezes até gosto de alguma música atonal sendo esta obra um dos novos exemplos.



Por fim o concerto terminou com o Stabat Mater de Pergolesi. Uma obra lindíssima de um compositor que faleceu com apenas 26 anos sendo esta a sua obra prima na opinião de muitos entre os quais me incluo. Gostaria apenas de salientar a voz da Soprano Raquel Alão que foi absolutamente fantástica. A interpretação que vos mostro é excelente mas a que ouvi no passado Sábado não lhe ficou de forma nenhuma atrás, antes pelo contrário.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Tonalidade versus Atonalidade

Num post no Facebook do compositor português Sérgio Azevedo encontrei a partilha do video de uma aula dada no College de France por Jérôme Ducros no quadro de uma cadeira do compositor Karol Beffa sobre criação artística que resolvi partilhar convosco. É uma conferência polémica (muito polémica dirão alguns) mas confesso-vos que foram 60 minutos de que gostei muito (ouvi do principio ao fim).

Não subscrevo tudo o que é dito na respectiva aula embora não tenha capacidade técnica para contestar o que é dito simplesmente pelo facto de ser capaz de entender e gostar de alguma música atonal. Confesso que não sou capaz de a trautear na rua mas também não sou capaz de trautear Beethoven ...



O post a que fiz referência no Facebook gerou alguns comentários dos quais o mais interessante além da explicação do Sérgio Azevedo sobre o assunto (sobre o que subscreve e não subscreve) nos remete para uma carta escrita como resposta a esta conferência e que podem ler aqui. Como diz o Sérgio Azevedo a resposta é triste porque em vez de rebater os argumentos (como aliás na sua explicação o Sérgio Azevedo acaba por fazer ainda que de forma muito sintética - adoraria ter um contraditório completo) rebate o homem.

Ora se a posição tomada por Ducros é contestável e discutível parece-me que pelo menos coloca algumas questões interessantes com as quais pelo menos quem ouve música clássica e música contemporânea se confronta isto para já não generalizar para a estética de forma mais ampla.

Enfim uma pequena "provocação" no Dia Mundial da Voz.

sábado, 13 de abril de 2013

Festival Terras sem Sombra

Daqui a pouco vou arrancar para Almodôvar para assistir ao inicio do Festival Terras sem Sombra com o Concerto Moderno. O concerto será às 21:30 na Igreja Matriz de Santo Ildefonso. Para os meus amigos Algarvios e Alentejanos que Almodôvar fica mesmo na fronteira aqui fica o desafio ainda que de ultima hora. Depois conto como se passou.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Paganinni - 1º Concerto para Violino e Orquestra

Continuando na nossa revisão das 100 obras que recomendo para quem nunca ouviu música "clássica" e gostaria de o fazer hoje vou falar-vos do 1º Concerto para Violino e Orquestra de Paganinni.

Este concerto foi o primeiro de cinco concertos para Violino escritos por Paganinni embora as más línguas digam que poderia perfeitamente ter-se abstido de continuar porque segundo essas pessoas nada de novo aconteceu nos restantes concertos.

Composto em 1817 e 1818 este concerto (Op. 6) segue a forma clássica do concerto definida pelos compositores do período Barroco: Três andamentos na forma Rápido-Lento-Rápido. Nada de inovador nesta forma portanto. Já a questão sobre a tonalidade deste concerto merece a nossa atenção. Na verdade no manuscrito original Paganinni escreveu a peça em Mi Bemol Maior no entanto a parte de solista estando escrita em Ré Maior. Esta prática implicava que o violino solo fosse afinado de forma diferente da Orquestra (meio tom acima). Esta prática tinha uma razão de ser que vou tentar explicar. A ideia era que o solista soasse mais limpo e mais potente que a orquestra em certas partes o que se conseguia dado que em qualquer instrumento de cordas uma corda solta soa sempre mais forte e mais clara que uma pisada. A afinação diferente da Orquestra e do instrumento do solista permitia-lhe brilhar utilizando uma corda solta enquanto a Orquestra era "obrigada" a tocar cordas pisadas. Esta prática é hoje em dia obsoleta. O concerto foi estreado em Nápoles a 31 de Março de 1819.

O primeiro andamento (Allegro Maestoso) começa com uma introdução orquestral a que se segue um verdadeiro show case técnico do solista. Para este primeiro andamento escolhi uma jovem solista (na altura mesmo muito jovem), Sarah Chang para vos demonstrar entre outras coisas a enorme progressão técnica que se verificou no instrumentistas. Hoje literalmente milhares de violinistas são capazes de interpretar este concerto enquanto no tempo do compositor isto era considerado pouco menos que absolutamente intocável.



O segundo andamento (Adagio) tem uma natureza totalmente diferente. Neste andamento revela-se de forma absoluta a capacidade de Paganinni para escrever melodias. Na verdade Rossini seu amigo dizia que se um dia ele começasse a escrever óperas a sua carreira estaria em perigo. Este andamento de certa forma pode ser visto como um verdadeiro cântico instrumental, um autêntico e pungente lamento de pouco mais de 5 minutos. Escolhemos para ilustrar este andamento uma gravação histórica de 1934 com Yehudi Menuhin e a Orquestra de Paris dirigida por Pierre Monteux.



No Terceiro Andamento (Rondo. Allegro spirituoso – Un poco più presto)  voltamos ao fogo de artificio técnico embora (e este é um grande embora) não deixemos de ter a introdução de mais uma belíssima melodia. Note-se a este respeito que hoje muitas vezes nos esquecemos da capacidade de Paganinni enquanto compositor obcecados que estamos no seu virtuosismo e na concepção moderna da especialização. Mantemos a escolha da gravação anterior.

domingo, 7 de abril de 2013

Crowd Founding - Um fim feliz para o CD do Coro VoxMix e VoxOn

Meus amigos, vamos retirar o destaque que tínhamos a este projecto porque chegou a um fim feliz a recolha de fundos para o projecto. Obrigado a todos os que leram e ajudaram. Obrigado também aos que leram mas não puderam ajudar e aos que ajudaram sem ler :-)

O fundamental é mesmo terem feito o máximo possível !

sábado, 6 de abril de 2013

Paganini - Os 24 "capriccios"

Depois de um longo interregno voltamos ao violino. Agora com aquele que é considerado por muitos como o maior violinista de todos os tempos. Não sei (é impossível determinar) se será efectivamente o melhor mas que se trata sem dúvida de um dos maiores instrumentistas de sempre disso não há dúvida.

Estamos a falar deles porque incluímos na nossa lista uma entrada de Paganini enquanto compositor em que colocamos precisamente os 24 capriccios e também o primeiro concerto para Violino de que falaremos amanhã.

Os 24 capriccios foram escritos entre 1802 e 1817 tendo sido publicados em 1819. São aproximadamente uma forma de estudo ou seja cada um deles pretende ilustrar ou permitir ao seu executante treinar uma ou mais capacidades técnicas especificas. A sua influência na técnica violinistica foi enorme não só pelo aspecto técnico que explorava de forma verdadeiramente inovadora mas também pela sua génese e colocação do artista no centro da obra do qual o virtuosismo e a dedicatória "alli artisti" são duas demonstrações fundamentais. Não esqueçamos que estávamos no inicio do romantismo e que essas afirmações de liberdade e de independência que hoje parecem normais à época eram perfeitamente revolucionárias.

No que diz respeito a gravações a primeira gravação integral da versão original de Paganinni é normalmente atribuída a Ruggiero Ricci em 1947 embora antes disso (em 1940) Ossy Renardy tenha interpretado e gravado uma versão com acompanhamento ao piano.

Hoje Paganinni é muitas vezes visto como um "mero" virtuoso o que infelizmente reduz a noção da influência que teve na consolidação do romantismo. Não nos esqueçamos que compositores como Chopin e Liszt eram grandes admiradores do compositor e não apenas enquanto virtuoso.

Propomos para ilustrar este post dois capriccios primeiro o nº 24 precisamente por Ruggiero Ricci mas não na gravação de 1947.



Depois graças ao You Tube podemos mostrar-vos a gravação de 1940 de Ossy Renard no capriccio nº 14 dito "Militar" por razões que serão óbvias quando ouvirem a obra.


Por fim para quem desejar ouvir a totalidade dos 24 Capriccios recomendamos uma versão de Salvatore Accardo de que podem ouvir a primeira parte neste video


E a segunda parte neste outro



No total mais de uma hora de música mas vale a pena. Se tiverem de ouvir apenas um então claramente o nº 24 com cerca de meia hora de duração é a obra maior neste conjunto.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Uma recomendação para Sábado

No Museu da Electricidade uma oportunidade para poderem ouvir a Orquestra Sinfónica Juvenil, Sábado às 18h. A entrada é livre. Mais detalhes sobre o programa aqui.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Era mentira mas poderia não ser, ou como colocar Monty Python e Jacques Brel no mesmo post

Confesso que ontem os meus dois posts neste blog eram pura invenção. Houve quem me dissesse que não deveria dar boas ideias ao nosso ministro das finanças para mais impostos. Na verdade se taxássemos a ausência de cultura algo do tipo (%rendimento) / (1-índice cultural) talvez fosse uma boa forma de incentivar os portugueses a consumirem mais bens culturais. Medida "quase liberal" estão a ver um incentivo do lado da procura, embora enfim baseada num imposto ... Ok continuo a brincar e a dar ideias ... Mas e que tal uma iniciativa tipo "carbono Zero" para as empresas para incentivar o mecenato?

A segunda mentira não foi planeada. Aconteceu simplesmente porque o meu colega Nuno Catarino me enviou aquela noticia. Achei tão deliciosa a ideia de conquistar o mundo com música (literalmente) e o filme era tão bom que não resisti. Infelizmente ainda não é desta que poderão tornar-se donos do mundo através da música, nem sequer num jogo. Temos verdadeiramente pena. Porque se imperar no mundo tem algo de excessivamente possessivo quando dizemos apenas "conquistar o mundo com música" existe uma certa poesia na expressão.

Lembra-me esta ultima mentira a "piada fatal" dos Monty Python. Se existisse uma forma de conquistar o mundo com música certamente não seria pela exterminação física (embora enfim certas "músicas" pudessem estar perto) seria mais pela paz, pela paz que proporciona. Uma conquista pelo amor se quisermos. E nesse particular e para ficarmos sempre com música poderia sugerir-vos várias músicas; o ultimo andamento da nona de Beethoven seria uma delas. Mas hoje pelo poema e porque de amor falamos só poderia ser uma outra forma de música clássica. Jacques Brel "Quand on a que l´amour" e o crescendo mais conquistador da história da música.

Primeiro os Monty Python e a sua piada fatal


E depois Jacques Brel ao vivo dificilmente resistirão à conquista.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Uma outra noticia bombástica

Por enquanto é apenas um jogo mas um jogo em que se assumirá o controlo da Europa através da música.
Não, não é a Merckl que o encomendou mas poderia ...

Imposto excepcional sobre a cultura

Numa medida desesperada para aumentar as receitas o governo decidiu taxar a cultura de todos os cidadãos portugueses maiores de 18 anos. A prova de conhecimentos terá lugar online podendo ser realizada no site do ministério das finanças. Para quem não tenha acesso à net as  repartições de finanças terão locais apropriados para os contribuintes poderem realizar o teste. Este é obrigatório devendo o mesmo ser realizado até ao final do mês de Maio. Se estão a pensar responder errado de propósito com o intuito de fugir ao fisco recomendo que não o façam dado que o software dispõe de algoritmos avançados de inteligência artificial que detectam padrões fraudulentos.

Estima-se que um português médio que saiba quem foi Luís de Camões e Fernando Pessoa possa ter de pagar cerca de €10 sendo que 10% desse valor pode ser descontado em sede de IRS para efeitos de compra de bilhetes ou outros produtos de actividades culturais.

O valor máximo será de €100 para quem tiver a ousadia de saber quem foi Joly Braga Santos e Luís de Freitas Branco. Para quem souber trautear uma melodia de um destes compositores poderá existir uma sobretaxa adicional de 4%.

Como forma de policiamento adicional existirão agentes da ASAE à porta de locais de cultura que avaliarão de forma aleatória os conhecimentos dos portugueses cruzando esta informação com a recolhida pelo inquérito por isso tenham cuidado, tenham muito cuidado.

Oportunidades na Amazon