domingo, 26 de junho de 2011

Jacqueline du Pré (1945 - 1987)

Há já uns meses que estava a pensar escrever este post mas por uma razão ou outra foi sendo adiado. Até hoje não porque se celebre qualquer aniversário mas simplesmente porque depois de ouvir a sua interpretação do Concerto de Elgar para Violoncelo não quis deixar para amanhã.

Jacqueline du Pré nasceu em Oxford a 26 de Janeiro de 1945 sendo a segunda filha de Derek e Iris du Pré. A mãe era música e professora na Real Academia de Londres o que explica que desde muito cedo Jacqueline tenha começado a aprender Violoncelo de que terá gostado imediatamente conta a história a partir de uma emissão de rádio quando tinha apenas 4 anos.

Rapidamente a jovem violoncelista demonstra uma capacidade fora do comum tanto técnica como interpretativa e é assim que com apenas 10 anos é já aluna de um dos mais conceituados violoncelistas e professores da época William Pleeth (1916-1999) numa das melhores escolas da Europa em Londres (Guildhall School of Music and Drama).

Aos 11 anos torna-se a mais jovem vencedora do prémio Guilhermina Suggia coleccionando depois uma série de sucessos até à estreia em 1961 com 16 anos no Highmore Hall de Londres. Em 1962 interpreta pela primeira vez   o Concerto de Elgar com a Orquestra Sinfónica da BBC dirigida por Rudolf Schwarz. Como sabem este concerto viria a tornar-se a imagem de marca da jovem violoncelista embora se diga que esta não seria a sua obra preferida. Facto é que a gravação de 1965 com a Sinfónica de Londres dirigida por sir John Barbirolli é considerada a referência. É um disco que vale a pena possuir felizmente podem ouvir primeiro e comprar depois graças ao You Tube. A gravação que vos mostrei no inicio deste post é precisamente esta a que agora faço referência.

Em 1966 estuda com Rostropovich em Moscovo. conta a anedota que a primeira vez que Rostropovich ouviu Du Pré ter-se-á levantado, abraçado a jovem e dito: "Toca melhor do que eu". No Concerto Final dirigido pelo próprio Rostropovich o grande violoncelista e professor terá dito: "Sinto que encontrei quem continuará o meu trabalho". Ironia do destino Rostropovich iria sobreviver a Du Pré e participar em várias acções de homenagem.


Nesse mesmo ano conhece Daniel Barenboim com quem viria a casar menos de um ano depois em 1967 em Israel convertendo-se mesmo ao judaísmo para o efeito. Da relação emocional com o maestro viriam a resultar algumas parcerias musicais extraordinárias quer apenas com o maestro quer em música de câmara com o violinista e violetista Pinchas Zuckermann (esse mesmo que conhecemos tão bem da Gulbenkian) e outros músicos amigos do casal como por exemplo Zubin Mehta e Itzahk Perlman quer ainda com Orquestras conduzidas por Barenboim.

A carreira de Jacqueline du Pré durou no total pouco mais de 10 anos e isto se contarmos com o ano de 1973 (ano em que se retirou definitivamente) em que fez alguns concertos depois de ter estado parada em 1971 e 1972 porém nesses 10 anos acumulou uma discografia notável, a maioria das quais resultado das parcerias artísticas de que falávamos há pouco.

Dessas gravações será difícil escolher algumas mas vamos tentar dar algumas ideias sem ser exaustivo. Assim poderão por exemplo ouvir alguns dos trios de Beethoven com Barenboim e Zuckerman uma edição da EMI -  - aliás por cerca de 27 Libras poderão adquirir na Amazon a TOTALIDADE das gravações de Du Pré nada menos nada mais do que 17 CDs que por este valor posso considerar um verdadeiro negócio da China.

Continuando com a música de câmara poderiamos recomendar também as sonatas para violoncelo quer de Brahms quer de Beethoven - sempre com  Barenboim e na EMI e logo na anterior compilação todas do período 1968-1969 que são possivelmente os melhores anos da interprete. As sonatas de Franck e Chopin são de 1971 e embora excelentes podem já revelar alguma dificuldade da interprete que viria como já referi a deixar de tocar entre os finais de 1971 e 1972. 

No que diz respeito a concertos para além do já referido Elgar de que existe também uma versão conduzida por Barenboim vale a pena ouvir a interpretação do Concerto de Dvorack (também uma gravação da EMI) ou ainda o Concerto de Schumann . 

Os especialistas podem estranhar não estar a recomendar obras de Bach porém  a verdade é que as que gostaria de recomendar foram gravadas quando Jacqueline tinha apenas 17 anos e embora não sejam más falta-lhes maturidade (podem ouvir aqui um exemplo).

Jacqueline tocava em dois Violoncelos Stradivarius ambos oferecidos pela sua madrinha Ismena Holland. Um deles neste momento é usado por Yo-Yo Ma.

Deixamos de fora propositadamente uma descrição mais detalhada da vida privada de Jacqueline du Pré não por qualquer tipo de receio de tomar partido. Os mais conhecedores certamente saberão - os outros que leiam esta biografia facilmente se aperceberão - que a vida pessoal de Jacqueline além de ser marcada pela doença foi polémica sobretudo após a sua morte devido ao livro da sua irmã (e irmão) depois transformado em filme (Hillary and Jackie). Dizia pois que não se trata de receio de tomar partido simplesmente é impossível conhecer agora o ponto de vista de Jacqueline du Pré e desse ponto vista o livro da irmã até pelos pontos de vista que defende e pelos pormenores que relata deveria ter sido publicado em vida de Jacqueline ... facto é que existem muitos que pensam que o relato de Hillary é bastante parcial e pelo menos em parte motivado pelo ressentimento. 

Em vez dessa polémica um pouco estéril porque sem conclusão possível proponho-vos que conheçam melhor a interprete através de dois filmes The Trout ou o filme Remembering Jacqueline du Pré ambos de Christopher Nupen. No primeiro podemos assistir à preparação de um dos concertos de música de camara com possivelmente a maior concentração de talento puro. Do quinteto que interpretou essa obra de Schubert faziam parte nada menos nada mais do que: Itazhk Perlaman (Violino) considerado um dos maiores violinistas de sempre, Daniel Barenboim (piano) dispensa mais adjectivos, Jacqueline du Pré (Violoncelo), Zubin Mehta (Contrabaixo) o grande maestro que alguns de nós também já tivemos a felicidade de ver dirigir ao vivo e Pinchas Zuckermann (Viola) ... 

Jacqueline du Pré faleceu em Londres a 17 de Outubro de 1987 com apenas 42 anos de idade vitima de esclerose múltipla. Em aproximadamente uma década construiu uma discografia invejável e não deixou dúvidas a ninguém sobre o seu talento e a visão especial que tinha sobre a música. Fiquem com uma entrevista onde fala sobre uma edição do concerto de Elgar que nunca viria a terminar (acho) e do filme (a entrevista é feita pelo autor dos filmes de que vos falamos). 

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