Mozart é muitas vezes referido como exemplo de precocidade enquanto músico o que é uma forma de injustiça para Mendelssohn que em muitos aspectos até o bateu nesse aspecto.
Mendelssohn nasceu a 3 de Fevereiro de 1809 numa abastada família de Hamburgo. Muito cedo se tornaram evidentes os seus dotes musicais mas o pai não quis que a criança fosse tratada como um prodígio e sobretudo não encorajou a carreira musical do jovem até ter a certeza absoluta que esse era um desígnio sério.
Não obstante Mendelssohn teve uma educação musical de eleição que os recursos da família proporcionaram. Com apenas 9 anos faz a sua primeira audição pública e aos 13 conhece Goethe de quem seria o protegido e de quem temos possivelmente a primeira indicação de genialidade. Para além de pianista Mendelssohn também demonstrou desde logo capacidades para a composição e entre os 12 e 14 anos compôs várias peças para conjuntos de cordas que apenas recentemente foram publicadas.
Aos 15 anos compõe a sua primeira sinfonia para Orquestra completa Op. 11 em Dó menor (oiçam aqui o primeiro andamento). Um ano mais tarde compõe o Octeto para cordas em Mi bemol Maior e aos dezassete termina este ciclo com o Op. 21 a Abertura para a peça de Shakespeare "Sonho de uma noite de verão". Estas três composições seriam suficientes só por si por estabelecer o génio de Mendelssohn e assegurar a sua imortalidade porém ele viria a dar à Música Clássica e atrevo-me a dizer à música em geral, a noção revolucionária (na altura considerada reaccionária) que mesmo a música antiga, a antiga no tempo estávamos a falar de Bach ou de Beethoven podia também ser tocada e interpretada.
Temos hoje dificuldade em imaginar que não era assim, mas na verdade não era. As obras dos compositores que hoje veneramos dificilmente venciam o obstáculo do tempo. A primeira das obras que Mendelssohn trouxe de novo e definitivamente para a luz foi nada menos nada mais do que a Paixão Segundo São Mateus em 1829. Note-se para ter uma ideia, que esta obra que hoje consideramos um esteio da cultura ocidental, não era interpretada desde o falecimento de Bach em 1750. O conservatório que Mendelssohn viria mais tarde a fundar em Leipzig em 1843 perpetuaria essa tradição que podemos dizer é a génese do hábito de ouvirmos música "antiga".
Entretanto em 1829 Mendelssohn visita pela primeira vez Inglaterra e a Escócia país onde se sente especialmente bem recebido. Esta seria a primeira de 10 viagens que viriam a culminar na ultima grande obra sinfónica, a Sinfonia Escocesa de 1842.
Três anos depois é publicado o primeiro volume dos oito volumes de "Lieder Ohne Worte" (canções sem palavras) que estabelecem definitivamente Mendelssohn como um nome conhecido embora não tanto pelo mérito artistico mas mais pelo sucesso comercial que estas canções registaram (oiçam aqui um exemplo).
Em 1835 torna-se maestro da Leipzig Gewandhaus que como vimos há pouco acabaria por transformar num verdadeiro conservatório e mais do que isso um modelo dos actuais esquemas de programação pelos quais ainda nos regemos.
Em 1837 casa-se com Cécile Jeanrenaud de quem tem 5 filhos. Nenhum deles viria a seguir a carreira de músico. A vida pessoal de Mendelssohn se comparada com a de outros compositores da época é curiosamente um espelho das próprias noções "conservadoras" de Mendelssohn. Não se conhecem casos (excepto talvez com a soprano Sueca Jenny Lind), não se conhecem dificuldades psicológicas, diz-se que isso explica a falta de chama verdadeira na sua música. Não me parece uma avaliação justa ...
Em 1839 e 1841 Mendelssohn continua na sua missão de divulgar obras que doutra forma cairiam no esquecimento para sempre estreando a 9ª Sinfonia de Schubert e a primeira de Schumann.
Em 1842 compõe o resto da suite Orquestral "Sonho de uma noite de Verão" que inclui possivelmente a composição mais conhecida de Mendelssohn a célebre marcha nupcial.
Desse mesmo ano data a Sinfonia Nº 3 (dita "A Escocesa") e que foi uma das suas ultimas obras sinfónicas. Em 1844 compõe o seu concerto para Violino de que falámos aqui e que esteve a votação para a eleição do nosso concerto de violino preferido, tendo conquistado o quinto lugar.
Mendelssohn estava por esta altura já perto do fim da sua vida tendo falecido seis meses após a sua irmã Fanny ela também compositora e notável pianista. Mendelssohn faleceu em Hamburgo a 4 de Novembro de 1847 com apenas 38 anos.
às vezes lemos, percebemos o texto, mas não nos apercebemos do real significado e lá fui ouvir Die Lieder ohne Worten... só então compreendi a realidade: são mesmo sem palavras ;)
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