quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

In Memoriam - Van Cliburn ( 1934 - 2013)

Faleceu hoje, bem tecnicamente foi ontem dia 27 de Fevereiro, o pianista Van Cliburn conhecido para além do indiscutível mérito artístico por em plena guerra fria ter vencido o Concurso Internacional Tchaikovsky que se desenrolava na capital soviética. Capa da Times foi o primeiro pianista a vender mais de 1 milhão de cópias num disco de música clássica no caso o 1º Concerto para piano e Orquesta de Tchaikovski.

Falamos dele quando propusemos uma segunda lista de 10 pianistas em resposta à lista de 10 da Limelight. Quando soube que tinha falecido soube imediatamente qual o concerto que vos queria colocar aqui. Um daqueles que construíram a sua reputação, um dos concertos que emocionalmente tem um significado muito muito especial para mim. Não me esquecerei do dia 5 de Abril de 2009 com o António Rosado, uma orquestra de jovens e uma companhia muito especial para mim.



Que descanse em paz e que ilumine quem o pode agora ouvir com a sua música que continuará celestial. Que se façam companhia.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Uma recomendação rápida para o fim de tarde de hoje

Bem esta recomendação é sem dúvida motivada por laços familiares mas penso que ainda assim é uma excelente recomendação e uma ocasião para ouvirem jovens violinistas. Bem sei que a hora é um pouco complicada (para mim irá ser) porém aqui fica a recomendação.

No Palácio Foz às 18h (segunda-feira 25 de Fevereiro de 2013) segundo o programa no link quatro jovens violinistas. Não vos será difícil adivinharem o resto tendo em consideração a razão já invocada. Só posso acrescentar que relativamente ao programa existe pelo menos mais um compositor de que será interpretada uma obra. Trata-se do primeiro andamento do concerto para violino e orquestra de Kachaturian na versão transcrita para piano e violino.

Fiquem aqui com a versão original para Violino e Orquestra e até logo se puderem.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Liszt : Études d'exécution transcendante (Segunda Parte)

A semana passada começamos a falar-vos desta obra - Liszt : Études d'exécution transcendante - hoje iremos terminar com os últimos seis estudos. Relembremos apenas que daremos sempre duas alternativas uma com imagem fixa e uma segunda com vídeo. Não porque as interpretações com video sejam piores mas porque teriamos dessa forma um reduzido número de pianistas e quisemos aproveitar para vos mostrar mais nomes.

Étude No. 7 (Eroica) em Mi bemol Maior : Este estudo adequadamente partilha a mesma tonalidade da Sinfonia Eroica de Beethoven o que pode justificar só por si o nome embora musicalmente mais do que "eroico" o tom seja nobre e digno. Este estudo não é considerado tecnicamente tão difícil como alguns dos outros sendo que alguns pianistas preferem a versão de 1837. Voltamos a começar com Cziffra para depois vos mostrar de novo Berezovsky.






Étude No. 8 (Wilde Jagd) em Dó Menor :  Um nome sem dúvida adequado para uma peça que decorre num ritmo frenético (marcado como Presto Furioso) e que pretende retratar uma caçada. A peça tem uma parte inicial rápida para no meio ter uma parte mais lírica (mas não menos difícil por isso) para de novo terminar numa série de oitavas e acordes descendentes verdadeiramente desafiantes. É um estudo que testa a capacidade de resistência de qualquer pianista. A primeira interpretação que escolhemos é de Evgeny Kissin.



Para a segunda interpretação deste mesmo estudo mantemos Boris Berezovsky. Note-se a propósito desta interpretação que consta que Liszt e os seus alunos conseguiam tocar este estudo em cerca de 4 minutos precisos. Hoje em dia conforme podem ver estamos mais na base dos 4:30 ...



Étude No. 9 (Ricordanza) em Lá Bemol Maior: É um contraste marcante com o estudo anterior. Uma melodia nostalgica com variações para tornarem a peça um verdadeiro estudo. Primeiro interprete escolhido Lazar Berman.



Para o nosso vídeo com imagem do pianista voltamos à juventude (relativa claro, este pianista nasceu em 1972) desta vez com Dmytro Sukhovienko.



Étude No. 10 (Allegro agitato molto) Fá Menor: Um dos dois estudos sem titulo. Este começa de forma bastante agitada mas vai aos poucos tornando-se mais calmo. Para a interpretação por um pianista de referência proponho-vos Richter.



Para a versão com imagem escolhemos uma pianista Lola Astanova sobretudo conhecida pelo seu gosto no que diz respeito ao estilo e à moda. Uma espécie de David Beckham feminino no mundo da música clássica.

Étude No. 11 (Harmonies du Soir) Ré Bemol Maior: Musicalmente este é um dos estudos mais exigentes (juntamente com o nº 12) embora tecnicamente seja dos mais acessíveis. É também um dos mais inovadores em termos de tonalidade já que várias experiências em harmonias cromáticas tornam a tonalidade algo ambígua. Um dos estudos mais populares pela maior acessibilidade (pelo menos aparente) tanto quanto pelo lirismo da melodia. Voltamos a Claudio Arrau para este estudo.



Na versão com imagem voltamos também a Berezovsky.



Étude No. 12 (Chasse-Neige) Si Bemol Menor :  Apesar do nome poder indicar uma peça relativamente calma na verdade se de neve se trata então estamos perante uma verdadeira tempestade. Uma peça que combina a dificuldade do toque leve em certas partes com a autêntica tempestade que se abate por vezes sobre o teclado. Para esta peça escolhemos Jorge Bolet



Para terminar teríamos de voltar a Berezovsky . Notem que a maior parte das interpretações que vos mostrei são de um mesmo concerto. Nos dias de hoje arriscar os doze estudos ao vivo e em sequência é obra. Dizemos isto porque a nossa tendência em comparar com gravações e perdoar menos os erros técnicos preferindo a perfeição à musicalidade expõe muito os pianistas (e outros músicos claro) em peças desta natureza. Um acto de coragem sem dúvida num concerto que deve ter sido memorável.

Em memória do dia de ontem com alguns comentários

Zeca Afonso numa canção que exprime no meu entender o que se passa não só neste país mas em praticamente todo o mundo ocidental.

Não sou radical mas precisamente por ser moderado e acreditar que o sistema da social democracia e de um estado social que realmente equilibre as oportunidades e assegure a igualdade de acesso à saúde, educação e justiça sem aceitar a sombra de um "mas" mesmo que seja sobre a forma em moda de uma qualquer justificação económica bacoca.

Por isso dizia, tenho de denunciar o aproveitamento que se faz de uma situação que essencialmente é da responsabilidade de quem criou um sistema económico e financeiro insustentável e errado e agora ao abrigo da justificação de correcções necessárias nos quer fazer regressar ao inicio do século XX "corrigindo" precisamente a única coisa que estava certa.

A esses digo: Não vou por aí e sugiro a todos que exerçamos o nosso dever numa democracia: a cidadania avançada que implica ser capaz de reflectir e pensar acima dos sound bytes com que nos bombardeiam. Pensem como as coisas começaram, comparem os números, utilizem os neurónios. Não se deixem enganar por pseudo-argumentos económicos que hoje valem tal como irão valer daqui a uns meses exactamente os opostos. A economia está muito muito longe de ser uma ciência quanto mais exacta.

Por tudo isto e pedindo desculpa por esta interrupção na música clássica fiquem com Zeca Afonso e a mais adequada canção depois daquilo que acabei de vos dizer. Os Vampiros na sua versão original.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Pesquisa da Semana (#07-2013) : A vida pessoal de Arturo Benedetti Michelangeli

Este post está em atraso desde a semana passada. Na verdade não é nosso costume enfatizar demasiado a vida pessoal dos músicos porém neste caso fazemos uma excepção.


Este pianista sempre protegeu muito a sua vida privada e por isso esta questão tem alguma razão de ser pelo menos nos aspectos que nos podem ajudar a compreender a forma como interpretava e a escolha do seu reportório. Por isso nesta resposta procuraremos apenas dar-vos os elementos que são públicos e que nos ajudem a entender como é que ele entendia a sua arte. O resto tal como desejaria pertence à esfera privada ...



Arturo Benedetti Michelangeli nasceu em Brescia, Itália a 5 de Janeiro de 1920. Embora tenha começado pelo violino rapidamente foi no piano que percebeu que residia a sua forma de expressão. Casou-se em 1940 com Guiliana Guidetti que conheceu na sua cidade natal e que tinha sido sua aluna e com quem permaneceu até 1970. A partir dessa data a sua companheira foi Marie-José Gros Dubois sua secretária e 20 anos mais nova. Arturo Benedetti Michelangeli era tão discreto quanto à sua vida privada que muitos desconheciam o facto de ele ser casado.

Gostava de tocar pela noite dentro, detestava tocar em público (deste ponto de vista tinha muitas semelhanças com Glenn Gould), gostava de carros (a sua única paixão conhecida além da música) e de conduzir o seu Ferrari a alta velocidade. Detestava entrevistas e quando as dava muitas vezes contava mentiras sobre o seu passado ou origens; como se se tratasse realmente de uma ficção voluntária.

Arturo Benedetti Michelangeli era um perfeccionista e por isso muitos consideravam o seu reportório bastante limitado avaliando o que tocava em público. Porém na verdade o pianista conhecia praticamente todas as obras de piano e tinha interesse por todos os compositores (que aliás venerava), simplesmente apenas aceitava interpretar em público uma obra quando verdadeiramente considerava ter extraído a sua essência, a pretendida pelo compositor. Aliás para ele os aplausos eram devidos não ao interprete - detestava também o protagonismo que lhe era conferido - mas sim ao compositor.

Não aceitava qualquer aluno mas mais do que dar aulas a grandes estrelas ou promessas de virtuosos talvez por causa do que acabamos de dizer preferia ensinar professores ou simplesmente pessoas que julgava terem verdadeira paixão pela música.

Era obcecado pela perfeição também nos instrumentos que utiliza em palco ao ponto de muitas vezes fazer deslocar um dos seus pianos. Quando a companhia de gravação que fundou faliu e o estado Italiano lhe confiscou os seus pianos como forma de pagamento Arturo Benedetti Michelangeli considerou isso uma afronta e deixou a Italia para nunca mais voltar, diz a lenda que recusando mesmo participar em concertos organizados por Italianos ou em que estes tivessem uma participação relevante (incluindo na audiência ... ). Existem algumas excepções a esta regra nomeadamente um concerto que deu em Brescia, sua cidade natal ou na Cidade do Vaticano mas foram excepções que confirmam a regra.

Arturo Benedetti Michelangeli faleceu em Lugano na Suiça a 12 de Junho de 1995 vitima de uma doença prolongada. Na sequência da descrição que o caracterizou o artista deixou instruções explicitas para que a causa da morte não fosse divulgada. Foi enterrado em Pura perto de Lugano sem qualquer lápide que indique o local da campa.

Para terminar em música deixo-vos com uma gravação com imagem do grande artista interpretando um dos seus compositores preferidos, Chopin.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Uma recomendação rápida para uma estreia em Lisboa

Hoje em Lisboa uma estreia absoluta de uma obra de um compositor português integrada no Festival Debussy no Instituto Franco-Português, obras de Luís de Fretias Branco, Baudelaire, Verlaine, ...  A não perder se puderem. Solistas da ESML entre outros ... Toda a informação no programa que está no link. Como dizia hoje às 19h.

Festival Debussy 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Um flash mob diferente

Outro dos vídeos que anda a circular pelo Facebook não pode deixar de me tocar pela simples razão que interpretam uma versão (algo batoteira é verdade) mas uma versão de uma parte da Nona sinfonia de Beethoven claramente a minha obra preferida, aquela obra que se tivesse de levar para uma ilha deserta apenas uma ...

Só para que fiquem a saber este vídeo não é recente - data de 2012, 5 de Maio para ser exacto e resulta das comemorações do 130º  aniversário do Banco Sabadell que resolveu culminar as celebrações com a oferta à cidade de Barcelona deste Flash Mob.

Obviamente inspirador e inspirado. Quem escolhe a Nona só pode ter muito bom gosto. Quem nunca ouviu esta sinfonia inteira ao vivo não pare por aqui. Siga o meu conselho não perca a próxima oportunidade para o fazer. Entretanto pode ir ouvindo gravações mas nada, absolutamente nada substitui uma sala de concerto com uma orquestra, coro e solistas ao vivo. Primeiro o Flash Mob



E agora a sinfonia na sua versão original tal como foi escrita por Beethoven (apenas a parte semelhante a esta). A propósito esta gravação que vos proponho de 1989 é ela também um documento histórico só por si. Foi interpretada depois da queda do Muro de Berlim (e por isso apelidada Ode à Liberdade - o original é Ode à Alegria). Na orquestra estavam músicos das duas Alemanhas, do Reino Unido, da França e da Rússia. Direcção de Leonard Bernstein. Quando o Mundo for livre todos os Homens serão irmãos.

Uma história da música em 7 minutos

Tem circulado pelo Facebook e vários amigos meus já fizeram posts com esta animação que resolvo partilhar aqui no meu blog para futura referência. Há alguns pontos discutíveis mas são detalhes de pouca importância numa animação essencialmente brilhante. Já tínhamos as conferências do Rui Vieira Nery - A História da Música à velocidade da Luz - aqui demonstra-se que Einstein poderia não ter razão. Essa velocidade foi essencialmente ultrapassada ... Divirtam-se pelo menos tanto quanto eu a ver isto, um pouco menos de 7 minutos de verdadeiro êxtase!

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Liszt : Études d'exécution transcendante

A história destes estudos começou em 1826 quando Liszt então com apenas 15 anos escreveu uma série de doze estudos simplesmente chamada "Étude en Douze Exercices" (S. 136). É de notar que nesta altura Liszt vivia em Paris com a mãe e para sobreviver dava frequentes lições de piano de forma que estes estudos podem ter sido escritos com o objectivo de o ajudar nessa tarefa.

Uns largos anos mais tarde mais precisamente em 1837 Liszt viria a reescrever estes estudos chamando-os então "Douze Grandes Études" (S. 137). Já agora a titulo de curiosidade a nomenclatura que é seguida para identificar as obras de Liszt data de 1966 e é do musicologo e compositor Humphrey Searle (daí o "S"). A razão pela qual o número destas duas obras é consecutivo é que este catalogo segue uma ordenação temática e dentro dos temas cronológica. Isto significa que entre 1826 e 1837 Liszt não compôs nenhuma outra obra deste género. Nesta primeira revisão além de ter aumentado consideravelmente a sua dificuldade Liszt deu também um nome a todos os estudos excepto o nº 2 e o nº 10.

Em 1852 Liszt faria uma ultima revisão destes estudos (S.139) - sim neste intervalo existe uma outra obra deste tipo na realidade uma revisão intermédia do Estudo nº 4 - Mazeppa - essencialmente simplificando tecnicamente a execução (embora existam excepções à regra). Esta versão final foi dedicada por Liszt ao seu professor Carl Czerny ele também autor de vários conjuntos de estudos como todos os pianistas amadores mais ou menos sérios saberão.

Estes estudos na sua versão final tanto podem ser considerados como peças de estudo como peças de concerto pelo que são frequentemente interpretados e gravados pelos maiores pianistas não só pela sua dificuldade técnica mas também pela sua força expressiva. Antes de vos mostrar os estudos um por um falta apenas referir que cada um deles foi composto numa tonalidade diferente sendo que a intenção original de Liszt seria escrever um estudo para cada uma das 24 tonalidades tendo ficado assim a meio dessa tarefa.

Na escolha dos interpretes segui dois critérios diferentes e por isso por vezes vou mostrar-vos o mesmo estudo por dois pianistas. Em primeiro lugar procurei na medida do possível mostrar-vos interpretações de pianistas "históricos", daqueles que estão entre os melhores pianistas do século XX ou XXI. Em segundo lugar procurei privilegiar vídeos com imagens reais dos pianistas. Por fim procurei que houvesse uma escolha o mais ampla possível. Assim sempre que houve conflito entre estes três objectivos seleccionei duas ou mais interpretações.

Étude No. 1 (Preludio) em Dó Maior : Um estudo muito curto, cerca de um minuto, cheio de acordes poderosos e de rápidas escalas - com uma curta passagem lírica no meio, uma espécie de aquecimento para o que vem a seguir. Para esta interpretação escolhemos duas alternativas. Em primeiro lugar sem imagens Cziffra.



Depois ainda para este mesmo estudo agora com imagens Boris Berezovsky.



O Estudo Nº2 (um dos que não tem titulo) em Lá Menor marcado como "Molto Vivace" nas partituras é na verdade uma peça muito agitada para a qual escolhemos Claudio Arrau mas como não há imagens ao vivo teremos também para este nº2 uma outra interpretação.



Mantemos para este segundo estudo Boris Berezovsky porque dos que existem com imagem real é aquele que prefiro.



Passamos agora para o Étude No. 3 (Paysage) em Fá Maior (Paisagem). Uma peça como o nome pretende indicar serena que deve evocar um dia de contemplação bucólica no campo. Será eventualmente o menos difícil dos doze estudos. Para uma primeira interpretação sem imagens do pianista proponho-vos Vlademir Askhenazy.



Para vos mostrar um video com o pianista a interpretar este estudo e para não voltar a repetir Berezovsky proponho-vos Adam Neiman.



O Étude No. 4 (Mazeppa) em Ré Menor por contraste com o anterior é um autêntico galope quase do principio ao fim. Aliás o termo galope estará correcto tanto figurativamente como literalmente tendo em consideração que este estudo foi inspirado num conto escrito por Victor Hugo em que a personagem principal é arrastada num galope (literal).  Liszt procurou transcrever esse galope no ritmo da peça. Deixem-se levar pelo ritmo absolutamente fantástico desta peça.  Para uma primeira interpretação propomos o pianista francês François-René Duchable ("enfant terrible" da música clássica mas isso é outra história).



Para uma interpretação em video real desta vez a proposta recai sobre Miroslav Kultyshev.



Chegamos ao Étude No. 5 (Feux Follets) em Si Bemol Maior um dos que está entre os mais difíceis dado que temos não só as dificuldades relacionadas com velocidade mas também dinâmica e equilíbrio entre as duas mãos. Velocidade, ligeireza, tudo nesta peça é para ser tocado com delicadeza mas sem perder velocidade. Neste caso  proponho-vos apenas uma interpretação porque consegui encontrar um pianista soberbo com um vídeo muitíssimo bom. Depois de Nikolai Lugansky não precisamos de mais ...



Como este post está já bastante longo iremos dividir esta viagem aos "Études d'exécution transcendante" em duas partes terminando este primeiro post precisamente a metade com o Étude No. 6 (Vision) em Sol Menor. Uma peça algo sombria e profunda com uma parte bastante movimentada e rítmica mas em simultâneo retratando uma atmosfera pesada que a tonalidade em Sol Menor não deixa de enfatisar. Para uma interpretação sem ver o pianista propomos Vladimir Ovchinnikov.



Para uma interpretação em que possamos ver o pianista e as suas mãos propomos de novo Miroslav Kultyshev . Penso que a diferença de ritmo é um pouco excessiva mas é uma interpretação cheia de fogo, creio que Liszt teria gostado.


Os restantes 6 estudos ficam para mais logo ou para amanhã logo se vê - depende de como correr o meu estudo de piano.  Não, não com estas peças ...

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Workshop da Páscoa para jovens músicos

Há algum tempo que não vos fazia uma recomendação de uma actividade deste género. Do dia 18 a 23 de Março irá decorrer em Lisboa um Workshop para jovens músicos em que estes terão oportunidade de participar em Master Classes, em ensaios de Naipe e de Orquestra. Destinado a jovens músicos dos 8 aos 21 anos estes serão divididos em três orquestras, Big Band, Orquestra de Iniciação e Orquestra de Cordas Avançada.

Subordinado a um tema interessantíssimo "O Legado de Piazzola" este Workshop contará com a participação do saxofonista Henk Van Twillert e do acordeonista Pedro Santos. O meu filho participou em vários workshops desenhados por esta equipa e por isso posso recomendar-vos com inteira confiança.

O reportório que irá ser interpretado não é fácil e por essa razão recomenda-se a inscrição e preparação o mais antecipada possível. Para todas as informações adicionais é simples, visitem o site:

Festival Música Junior

Concerto da Sinfónica Juvenil: Mozart, Tressler, Mendelssohn e Brahms

Ontem à noite fui ouvir o concerto da Sinfónica Juvenil na Aula Magna, um concerto comemorativo do 100º Aniversário da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Em primeiro lugar aqui ficam os parabéns à Faculdade e aos seus juristas.

Queria começar por vos contar um pouco do que foi dito antes do concerto pelo musicólogo e advogado porque foi uma introdução muito interessante pelo Prof. Doutor Mário Vieira de Carvalho. Foi interessante porque abordou  a eterna questão da musica enquanto forma de arte puramente abstracta e aquela a que se pretende dar um significado especifico quer através de junção com outras formas de arte como por exemplo a literatura (ópera por exemplo ou o canto lírico  quer pela procura de uma linguagem especificamente descritiva (o poema sinfónico). Esta eterna questão cristalizada no que foi apelidado a "Guerra dos Românticos" com Clara Schumann, Brahms e o musicólogo Hanslick de um lado da barricada a favor da música "pura" e abstracta e do outro Wagner, Liszt (com os seus poemas sinfónicos).

Na altura esta guerra era também uma guerra do novo contra a tradição curiosamente uma disputa que foi essencialmente germânica e ainda mais curioso partindo da admiração de um mesmo homem: Beethoven. A diferença sendo que Brahms e Hanslick viam-no como um pico inultrapassável enquanto Wagner e Liszt marcavam-no como o começo de uma nova música.

Creio que hoje permanece dessa interessante querela a questão de saber se efectivamente a música na sua essência pode ou deve ser precisamente ilustrativa ou se antes como o Prof.Mário Vieira de Carvalho afirmou devem existir tantos concertos de Brahms no seu significado como os seus interpretes - quer sejam esses interpretes os pianistas ou os "simples" ouvintes.

Não creio que exista uma resposta única para essa questão embora tenha a certeza que a música é na sua essência abstracta e que logo o seu significado depende em muito do receptor e do interprete. Podemos é claro induzir uma interpretação através da colocação de um cenário emocional - não vejo nada de errado nisso - ou através de elementos musicais que procurem imitar sons que nos remetam para um determinado estado de espírito (embora aqui me pareça que essa associação já será mais cultural que concreta) e também não vejo nada de errado nisso mas no fundo para mim a beleza é que no fim cada ouvinte terá ainda assim uma grande latitude de liberdade e essa liberdade de imaginação para mim é a música.

Já agora e antes de passarmos ao programa o mais curioso de tudo é que do programa constava também uma obra de Mendelssohn "A Gruta de Fingal" que pertence ao grupo daquelas obras que estão entre a música abstracta e a programática. E o mais curioso de tudo é que Mendelssohn foi o fundador do Conservatório onde se sediava a base de Brahms e de Clara Schumann. Ironias do destino.

Mas chega de conversa e vamos então à música. O programa de ontem começou com a abertura "Le Nozze di Figaro" - que contrariamente ao que o programa diz não é o K. 620 (essa é a Flauta Mágica) mas sim K. 492. Escolhi para vos mostrar uma interpretação de James Levine no Metropolitan de Nova Iorque.


Seguiu-se uma obra e um compositor que desconhecia por completo mas que foi uma agradável surpresa. Bertha Tressler violinista compositora e aluna de Max Reger foi tudo que conseguir descobrir até agora. Versões do que ouvimos ontem no You Tube não existem. Ou seja meus amigos relativamente a esta obra estou como no tempo em que não existia a possibilidade de gravar. E sabem uma coisa? Aquele momento ontem tornou-se de repente único. Acreditem que nos parece diferente, especial.

Seguiu-se precisamente a abertura "A Gruta de Fingal" Op. 26 (mas erro do programa sem os andamentos que na verdade pertencem ao Concerto de Piano de Brahms - repetidos portanto). Aliás o nome desta obra tanto pode ser o indicado como "As Hébridas" dado que ambas as designações foram utilizadas por Mendelssohn. Esta abertura note-se não é uma abertura no sentido operático do termo. É uma obra que vale por si só não pretende ser a introdução a nenhuma outra de maior dimensão. Composta na juventude de Mendelssohn tem a particularidade interessante pelo que expus no inicio deste post de estar a meio caminho entre a música programática e a música abstracta. Foi inspirado de uma experiência concreta do compositor (a visita à referida gruta que existe nas Hébridas) que transparece no titulo e na correspondência trocada com a sua irmã. Se ouvirmos a obra sem o saber conseguiríamos percepcionar isso? Provavelmente não. Culturalmente o tipo de melodia certamente nos remete para a aventura mas mesmo isso ... Não deixa de ser no entanto uma obra fantástica que vos deixo propositadamente com um video que começa com uma imagem da natureza selvagem dessas ilhas no extremo norte da Escócia. E agora não vão acreditar na coincidência  Quando o concerto acabou cheguei ao carro liguei o rádio e adivinhem o que estava a ser transmitido na Antena 1? ...



Por fim o concerto de Brahms que como o post e a conversa já vai longa vos deixo sem mais palavras, tal como disse o Prof. Doutor Mário Vieira de Carvalho para não vos condicionar. Ontem à noite o concerto foi interpretado pela pianista Teresa da Palma Pereira. Para vos ilustrar esta obra escolhi uma interpretação que poderia qualificar histórica de 1953 com Wilhelm Backhaus (1884-1969) ao piano no Großer Musikvereinssaal em Viena com a Filarmónica de Viena dirigida por Karl Böhm. Histórica porquê ? Bom entre outras razões além da excelência musical dos interpretes não se esqueçam que a guerra tinha terminado há apenas oito anos ...

 

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Pesquisa da Semana (#06 - 2013) - "Os três maiores da música clássica"

Ora bem hoje resolvi não escapar à polémica e tentar responder a esta questão que é repetida quase invariavelmente todas as semanas de uma forma ou doutra. Por vezes pedem-me 3 outras vezes 5 e outras 10. Hoje porém não me quero furtar à dificuldade e vou mesmo escolher três sabendo desde já que isso significa conquistar vários "inimigos" ou pelo menos detractores que discordarão da minha escolha.

Vou desde já dizer-vos que não exercerei censura nos vossos comentários (caso existam) desde que mantenham a linguagem moderada sobretudo entre vós. Relativamente ao autor do post aceitarei linguagem mais vernácula. Isto dito passemos às três escolhas, sem ordem de preferência por simples ordem cronológica.

Bach obviamente terá de ser um dos três. Condensou, cristalizou, aperfeiçoou todo um período sem ainda assim perder a originalidade. Neste blog tento que não exista post sem música e se escolher três compositores é difícil escolher uma obra de cada um destes três afigura-se uma tarefa homérica. Há pelo menos uma dezena de obras que gostaria de colocar aqui como exemplo. Tendo absolutamente que escolher proponho-vos a Segunda Partita para Violino Solo que inclui a sublime Chaconne numa sublime interpretação por Itzhak Perlman.



A seguir a Bach cronologicamente teria de escolher Mozart. Não existe possibilidade de escapar a considerá-lo nesta escolha de apenas três. Tal como Bach o fez para o Barroco Mozart condensa o período clássico em obras perfeitas na forma sem perder a frescura do conteúdo. Não é um revolucionário mas não deixa por isso de inovar levando o período clássico ao ponto onde para inovar se teriam de abrir novos caminhos na forma, mas esse papel que se pode entrever em algumas das suas ultimas obras seria para um outro. Escolher apenas uma obra de Mozart é uma tarefe igualmente impossível. Porém tentando equilibrar os géneros nestas três escolhas um pouco de música com o instrumento da voz humana pareceu-me adequado. Mesmo sabendo que esta obra não foi totalmente escrita por Mozart a minha proposta é que oiçam o Requiem (se quiserem podem ficar apenas pela parte que é de Mozart).




Por fim o terceiro esse sim foi um verdadeiro revolucionário musical. Foi um instrumento na maior relevância na afirmação do papel do compositor e na sua independência (para o bem e para o mal). Estamos obviamente a falar de Beethoven . Também neste caso a escolha de uma única obra é dificílima mas no sentido de vos propor variedade neste post teria que escolher agora uma Sinfonia e nesse domínio já sabem que a minha preferência absoluta iria para a nona. Porém como marco histórico de uma revolução anunciada  não posso deixar de vos sugerir a Terceira Sinfonia, a obra que coloca o compositor, a expressão dos seus sentimentos e percepções, no centro da composição. Escolhi uma interpretação de Bernstein e sugiro o segundo andamento porque este é aquele que possivelmente melhor exprime o que acabo de vos dizer. Têm de entender que estes 17 minutos na sua expansividade emocional eram tudo menos a norma.


Claro que esta escolha de apenas três deixa de fora tantos compositores que nem vale a pena apontarem-me a lista. Talvez dessa lista o que mais falta fará será o primeiro que terá dado o passo na passagem entre uma forma de escrita tonal para uma atonal característica da maioria das correntes contemporâneas de composição, mas enfim em três não dá mesmo na minha opinião para escapar a estas escolhas por muito óbvias que possam parecer.

Aqui fica feita a escolha de três: Bach, Mozart e Beethoven. Escolha óbvia talvez mas fundamentada. Agora digam de vossa justiça.


Chopin - Concerto para piano e orquestra nº 1 e nº 2 (segunda parte)

A primeira parte de deste post pode ser lida aqui. Nessa primeira parte além de falarmos com um pouco mais de detalhe do primeiro concerto enquadramos a altura em que estes dois concertos foram compostos. relembremos que apenas uns meses os separam, que na realidade o nº 2 foi o primeiro a ser composto e que tudo isto aconteceu antes de Chopin ir para Paris portanto antes das crises existenciais e outras provocadas pelo seu romance com George Sand entre outras razões. A confusão pode existir na mente de alguns porque realmente o Concerto apenas foi publicado em 1836 quase coincidente com o inicio do atribulado romance. Na verdade o concerto especialmente o segundo andamento foi inspirado num dos amores da vida de Chopin, embora platónico. Sabe-se pelas cartas que o compositor escreveu que era Constantia Gladkowska o objecto dessa paixão.

O enquadramento que falta diz respeito à situação vivida então na Polónia que enquanto "país" não existia desde a segunda partilha de 1795. A nação polaca essa no entanto estava bem viva e Chopin era a materialização da sua alma, musical e não só. Meses depois de Chopin ter saído da Polónia rebentava em Varsóvia o levantamento contra a ocupação Russa (a Polónia tinha sido dividida entre a Rússia, a Prússia e o Império Austro-Húngaro ), levantamento esse que acabaria por se saldar numa guerra de oito meses e cerca de duas centenas de milhares de mortos.

Este concerto foi estreado em Varsóvia a 17 de Março de 1830 (sim a data está certa foi efectivamente estreado antes do nº 1 que apenas foi estreado em Outubro desse ano) sendo o primeiro concerto público do pianista no Teatro Nacional de Varsóvia (algumas fontes apontam a estreia para dia 21 de Março não sei qual das duas será correcta o que é facto é que o concerto deverá ter sido repetido a pedido do público). Já agora uma curiosidade sobre esta estreia que demonstra como a integridade da obra que tanto nos preocupa agora na altura era totalmente inexistente. Na verdade o primeiro andamento foi separado do segundo e terceiro por um "Divertimento" uma peça para trompa.

A recepção ao concerto assim apresentado começou de forma pouco entusiastica (no fim do primeiro andamento segundo Chopin apenas se ouvirão alguns bravos) mas depois nos dois seguintes parece ter existido uma verdadeira apoteose.

O concerto em Fá Menor Op. 21 possui tal como o primeiro uma estrutura perfeitamente clássica na organização dos andamentos rápido-lento-rápido.

O Primeiro Andamento (Allegro Maestoso) começa por uma longa exposição orquestral que apresenta o material temático que será desenvolvido a partir de então pelo solista no perfeito arquétipo do concerto romantico. Sim é verdade que são o solista e o piano as estrelas - é suposto ser assim. O papel de suporte da orquestra não é um defeito é uma característica do género, ainda assim têm um papel fundamental. É como, desculpem a prosaica comparação, tentar cozinhar sem sal - pode ser feito claro mas o realce do sabor do ingrediente principal perde-se. Neste caso sem a orquestra o piano perde o efeito. É por isso que não faz sentido comparar este concerto aos grandes mestres da orquestração do período clássico, Mozart ou mesmo os percursores do romantismo como Beethoven. Para eles efectivamente o interesse estava num subtil equilíbrio ou num intenso diálogo entre solista e Orquestra. Para Chopin o mesmo interesse está no total domínio do piano. São objectivos e pressupostos diferentes mas ambos defensáveis. Para este primeiro andamento proponho-vos Rubinstein com a Filarmónica de Londres dirigida por Previn numa gravação de 1975 (já agora este concerto está completo portanto se desejarem ouvir até ao fim com um grande mestre como Rubinstein não estarão a perder o vosso tempo - digo isto porque tenho sugestões diferentes para os próximos andamentos só para vos dar a conhecer outras interpretações).



O Segundo Andamento (Larghetto) é inspirado pelo estilo italiano uma belíssima canção de amor como referimos inspirada por Constantia Gladkowska jovem cantora no Conservatório de Varsóvia com quem Chopin nunca falou mas com quem sonhou durante meses. Chopin talvez por essa razão sempre adorou este  andamento, sentimento no qual foi acompanhado por Schumann e Liszt que o consideravam uma verdadeira obra prima. Para o ilustrar escolhi uma interpretação por Wilhelm Kempff com a orquestra dirigida por Karel Ancerl numa gravação ao vivo de 1959 (segundo os dados fornecidos por quem fez o post no You Tube). Se a gravação for efectivamente dessa data então a Orquestra será a Filarmónica da Checoslováquia que dirigiu entre 1950 e 1968, sendo aliás o expoente dessa orquestra.



O terceiro andamento (Allegro Vivace) é o mais "polaco" dos três. Claramente inspirado numa Mazurka embora profundamente estilizada tem também espaço para um momento de inspiração orquestral quando depois de uma chamada às trompas a tonalidade muda bruscamente de um modo menor para um maior dando ao final um brilho totalmente inesperado. Para a interpretação deste andamento escolhemos Marta Argerich com a Sinfónica de Montreal dirigida por Charles Dutoit numa gravação de 1999.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Chopin - Concertos para piano e orquestra nº1 e nº2

Voltamos hoje a percorrer a nossa lista das 100 obras que recomendamos para começarem a ouvir música clássica sendo que a primeira desta lista que ainda não tem um post ao nível do que gostaríamos são precisamente os concertos para piano e orquestra de Chopin.

Estas são possivelmente as duas únicas obras de grande dimensão escritas por Chopin que incluem uma parte orquestral embora as más línguas considerem que mais valeria que não houvesse nenhuma. Nós discordamos e iremos brevemente explicar a razão pela qual não nos parece ser esta uma critica justa.

O primeiro facto que temos de abordar relativamente a estes dois concertos diz respeito às datas da sua composição e numeração. Efectivamente eles foram compostos entre 1829 e 1830 separados por apenas uns meses mas aquele que é o nº1 foi na realidade o segundo a ser composto mas o primeiro a ser editado daí a numeração ser invertida.

Ambos os concertos foram compostos quando Chopin ainda vivia em Varsóvia e são por essa razão obras que reflectem não só a força do compositor e a sua juventude (Chopin tinha na altura entre 19 e 20 anos) mas igualmente uma verdadeira e pura alma polaca.

Quanto às criticas relativas a estes dois concertos nomeadamente a relativa incompetência de Chopin em dominar a técnica de composição para orquestra é preciso referir que na verdade Chopin não tinha muita experiência em obras de grande dimensão e no desenvolvimento de ideias numa forma musical de maior duração. É também verdade que Chopin antes de receber formação em composição era já um compositor "auto-didacta" e já com uma notável popularidade nos salões da capital polaca. Porém não deixa também de ser verdade que Chopin recebeu depois desses primeiros anos de criança prodígio formação clássica com alguns excelentes professores de composição estudando a fundo as formas clássicas de composição.

No que me diz respeito eu penso que foi precisamente o seu lado auto-didacta que o levou a compor da forma como o fazia e que o que alguns musicólogos atribuem a uma certa inexperiência ou incapacidade eu atribuo a uma procura de uma forma diferente e mais emocional de compor. Não segue as normas? Não existe uma forma "sonata" perfeita no primeiro andamento? Não há cadência? Pois temos então de agradecer o facto de Chopin ter resolvido quebrar as normas. Esclarecido que estamos quanto à genialidade e à razão de ser da presença destas duas obras nesta lista passemos à música.

O Concerto nº1 em Mi Bemol menor, Op. 11 foi composto no ano de 1830 tendo sido estreado em Outubro desse ano em Varsóvia, num dos últimos (senão mesmo o ultimo) concerto que Chopin interpretou antes de deixar Varsóvia e rumar a Paris. O concerto é dedicado a Friedrich Kalkbrenner (a história deste pianista e compositor só por si merece um post que fica prometido). A razão desta dedicatória prende-se certamente com o facto de Chopin na altura considerar como hipótese tornar-se aluno de Kalkbrenner.

O concerto segue uma estrutura clássica no que diz respeito à natureza dos andamentos (rápido-lento-rápido) embora como vimos cada um deles tenha uma forma interna bastante inovadora.

O 1º andamento (Allegro maestoso) o mais longo dos três como é usual (na verdade é quase metade da duração total do concerto) contem três temas não existindo contrariamente à prática comum na época uma cadencia (possivelmente porque Chopin considerou não ser necessária). Para este concerto propomos uma interpretação de Evgeny Kissin com a Orquestra Filarmónica de Israel dirigida por Zubin Mehta.



O 2º andamento (Romance - Larghetto) mais uma vez não segue as regras usuais começando na mesma tonalidade que o primeiro andamento (não maximizando o contraste como era prática comum). No entanto contrariamente ao que alguns musicólogos afirmam esta continuidade pode ter sido perfeitamente voluntária. Chopin escreve a um amigo dizendo que este andamento deve ser entendido como uma contemplação imóvel de uma bela noite de verão. E sim por isso também têm razão se vos soar semelhante a alguns nocturnos na sua forma. Escolhi para este andamento uma orquestra mais pequena e um pianista muito menos conhecido mas não deixa de ser uma bela interpretação. A propósito se quiserem comparar podem perfeitamente continuar com a anterior (como verão é bem diferente).



O 3º andamento (Rondo - Vivace) é baseado numa dança popular polaca da região de Cracóvia, um Rondo cheio de vitalidade . Para este terceiro andamento escolhi uma gravação histórica de 1950 de Dinu Lipatti com Otto Ackermann a dirigir a Orquestra de Zurique.



Como este post está já bastante longo falaremos do segundo concerto num post separado (quando o tiver publicado colocarei aqui o link para que o possam seguir caso desejem). Para terminar convém dizer que este concerto foi extraordinariamente bem recebido na sua estreia tendo mesmo desencadeado um movimento para que fossem dadas todas as condições a Chopin para que ele não desejasse sair da Polónia.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Pesquisa da Semana (#05- 2013) - Os Preludios de Luis de Freitas Branco

Esta semana escolhi como a melhor pesquisa uma que nos interrogava sobre os Prelúdios de Luís de Freitas Branco.

Estes prelúdios compostos em 1918 (ou melhor terminados nessa data) foram dedicados a Viana da Motta. São dez prelúdios cada um deles com uma duração relativamente pequena dois a três minutos cada pelo que ouvir a obra inteira significa investirem aproximadamente meia hora do vosso tempo. Digo investir porque vale a pena conhecerem obviamente.Existem pelo menos duas gravações desta obra que vos posso recomendar.

Uma de António Rosado um dos meus pianistas preferidos, uma edição da Numérica que podem não só comprar fisicamente como também no ITunes. Se adquirirem a versão física terão no CD obras de Armando José Fernandes (1906-1983).

A segunda também editada pela Numérica e também disponível em versão digital no ITunes pela pianista Tatiana Pavlova. Saliente-se que nesta segunda obra se encontram disponíveis os 10 preludios de que vos falei e ainda 5 outros que suponho serem os quatro dedicados a Isabel Manso de 1940 e ainda o Prelúdio dedicado a António Arroyo de que desconheço a data de composição. É com o preludio nº 5 desta interpretação que vos deixo.







sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A Melhor Sinfonia de Mozart

Terminou recentemente a pequena sondagem que tinha feito a respeito da vossa opinião sobre qual a Melhor Sinfonia de Mozart. Como poderão recordar no post tinha-vos proposto quatro alternativas e uma opção livre que tiveram os seguintes resultados:

Nº 38 (Praga) .........................  8 
Nº 40 (Grande Sinfonia em Sol Menor)... 18 
Nº 41 (Júpiter)........................ 20
Sinfonia Concertante................... 17 
Outra.................................. 15 

O que tenho para vos dizer em relação ao resultado desta votação é que tendo a concordar com a vossa escolha da nº 41 - Júpiter embora a nº 40 também me agrade bastante. A sinfonia Concertante está próxima, tão próxima quanto os vossos votos.

Por fim em relação aos que votaram "outra". Com a excepção do Mário que nos disse explicitamente que as suas preferidas seriam a nº 36 e a nº 39 mais ninguém revelou qual seria a sua preferência o que é lamentável porque assim privam-nos de ter a vontade de experimentar outras obras. Fica assim o desafio a quem votou "Outras" que nos diga quais seriam então as suas escolhas ...

Quero por fim agradecer a vossa participação. 63 votantes, bom registo sem dúvida.

A Sinfonia Júpiter fica portanto com o titulo da nossa Sinfonia de Mozart preferida e com ela vos deixo.


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Crowd Funding de um projecto músical

Não é a primeira vez que vos sugiro este tipo de actividade de "pequeno mecenas". É a bem dizer a segunda vez e volto a fazê-lo porque tal como para o primeiro projecto que vos recomendei tenho a certeza absoluta da seriedade intelectual e artística das pessoas envolvidas no mesmo além do indiscutível mérito da iniciativa.

É portanto com convicção que vos convido a juntarem-se a mim no projecto dos Coros Voximini e Voximix que pretendem gravar um CD com obras do compositor português Sérgio Azevedo. Basta para isso apontarem o vosso browser para GRAVAÇÃO DE UM CD COM MÚSICA CORAL INFANTIL DE SÉRGIO AZEVEDO decidirem o valor da vossa contribuição e já está.

Vale a pena apoiar a música e os músicos portugueses, obviamente eu já o fiz.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O Recital de Gwendolyn Masin e Balínt Zsoldos

Como o prometido é devido vou falar-vos hoje do recital destes dois extraordinários interpretes que ouvi ontem à tarde no salão Nobre do Colégio Moderno, uma iniciativa que se saúda da escola de música do referido colégio.

Para quem estiver interessado (não sei se ainda existem vagas enquanto ouvinte) recomendo que se inscrevam nas Master Classes que Gwendolyn Masin está a dar em Lisboa até Sábado (?). Não tenho mais informações mas certamente se ligarem para o Conservatório Nacional vos saberão informar.

Quanto ao recital de ontem relembrou-me a razão pela qual digo sempre que música é para ser ouvida e vista ao vivo. Isto relembra-me também uma promessa que fiz sobre um post relativo à influência das gravações nesta forma de arte, vou tentar aproveitar o Carnaval para o fazer.

Mas voltando ao tema do recital depois destes parênteses todos. Um programa quase todo de música francesa (ou franco-belga se preferirmos) com Bartok e as suas danças romenas no fim. Estranha escolha sobretudo para terminar. Não teria sido a minha escolha embora do ponto de vista de lógica não deixe de ser bem visto numa perspectiva de ilustração de duas escolas nacionais do início do século XX.

O programa começou com a Sonata de Claude Debussy curiosamente a ultima obra do compositor composta em 1917 um ano portanto antes de falecer (era suposto vir a fazer paarte de uma série de seis sonatas mas apenas a primeira foi composta). Como devem entender não vos posso mostrar o que ouvi ontem mas aqui fica numa gravação de um outro interprete. Notem porém que esta mesma composição quando interpretada por Gwendolyn Masin é diferente. Aliás se houve uma coisa que gostei particularmente no recital de ontem é que nenhum dos artistas em palco se furtou à sua interpretação individual das peças em questão. E é por isso que ao vivo é mesmo outra coisa. A paixão, os sentimentos expressos estão no som produzido obviamente mas também na presença à nossa frente. A recriação de uma obra é um momento único. escolhi uma interpretação de Christian Ferras que não poderia ser mais diversa que a excelente interpretação que ouvi ontem. Ambas excelentes, totalmente diferentes.



Seguiu-se a Sonata Op. 13 de Fauré de que também gostei especialmente. Esta sonata é belíssima (gosto mais do que a anterior de Debussy), neste caso escolhi um jovem violinista, Joshua Bell para a ilustração.



A segunda parte do recital começou com um clássico da escola de violino franco-belga, a Sonata nº3 para violino solo de Ysaÿe, uma obra fantástica e com uma interpretação musical extraordinária, verdadeiramente original. Neste caso mostro-vos Vengerov e garanto-vos que o que ouvi ontem não fica atrás.



Ia quase dizer por fim porque na verdade para mim o programa deveria ter terminado aqui (não porque a ultima peça não fosse interessante - adoro as Danças Romenas) mas porque a Tzigane de Maurice Ravel foi uma tal epopeia de emoções que depois disso aquelas danças souberam a pouco. Foi sem dúvida de todas as peças interpretadas aquela de que mais gostei  (também é a que conheço melhor admito). Grande, grande interpretação. E volto a salientar interpretação. Aquele momento não mais será repetido. Posso mostra-vos outras gravações que serão sem dúvida excelentes que poderão até também fazer-vos sentir o mesmo tumulto emocional mas aquele momento não será mais repetido. Que final!  Mas como não quero que fiquem prejudicados por não terem estado naquela sala as gravações têm esta vantagem :-) Posso mostrar-vos uma outra interpretação de fazer rir e chorar as pedras da calçada, Henryk Szeryng.



Por fim as Danças Romenas (eu teria colocado-as a separar Ysaye da Tzigane em termos de programa mas enfim percebo a intenção) aqui numa interpretação de Szigeti.



Como encore tivemos ainda direito a uma memória de Heifetz ... a Hora Staccato. E agora já lamentam não ter estado connosco? Eu que fui um pouco numa decisão de ultima hora posso dizer-vos que este recital me libertou de todo o stress do dia ... Absolutamente fantástico.

A Diapason deste mês (Fevereiro 2013)

Um dos dias da semana passada foi dia de Diapason. O tema de capa deste mês diz respeito às Folles Journées de Nantes as precursoras das inspiradoras jornadas que outrora tinham lugar no CCB. Um tema de música espanhola e francesa que é interessante.

A propósito de música francesa daqui a pouco irei falar-vos do recital a que assisti neste fim de tarde no Salão Nobre do Colégio Moderno.



Por agora fiquem com a Diapason a sua capa e a obra do mês temporalmente muito bem escolhida com Carnaval dos Animais de Saint-Saens. A bem dizer o disco contém outras obras entre as quais o segundo concerto para Piano e Orquestra do mesmo compositor que é uma verdadeira delicia e que seleccionei para ilustrar musicalmente este post. A interpretação que escolhi é de Rubinstein com a Sinfónica de Londres dirigida por André Previn.



Eu ia acabar por aqui o post de hoje mas reparo que o disco termina com uma obra de Saint Saens chamada "Le Bonheur est chose légère" e não resisto a acrescentar uma gravação histórica de Alma Gluck. O som é mau mas que interpretação!



Para que possam seguir melhor aqui fica a letra do poema de J. Barbier (1805-1882) 

Le bonheur est chose légère 

Le bonheur est chose légère, 
Passagère, 
On croit l'atteindre, on le poursuit, 
Il s'enfuit! Hélas! Vous en voulez un autre 
Que le nôtre; 
Il faut à vos ardents désirs
Des plaisirs. 
Dieu vous préserve des alarmes, 
Et des larmes 
Qui peuvent assombrir le cours 
Des beaux jours. Le bonheur est chose légère... 

Si jamain votre coeur regrette 
La retraite 
Qu'aujourdhui vous abandonnez, 
Revenez! De tous les chagrins de votr' âme, 
Je réclame 
Pour notre fidèle amitié 
La moitié. Le bonheur est chose légère...

Para quem não domina o francês aqui fica uma tradução livre minha e dedicada a uma amiga 

A felicidade é coisa frágil
passageira,
pensamos atingi-la, e perseguindo-a
foge! 
Que pena, quereres uma outra que a nossa,
Que pena que os teus ardentes desejos 
se satisfaçam em outros prazeres.

Que Deus te preserve dos perigos
e das lágrimas
que podem enegrecer o curso 
dos belos dias, que a felicidade é coisa frágil

Mas se algum dia o teu coração lamentar
a retirada que hoje fazes
Volta! De todas as tristezas da tua alma
Reclamo metade
Em nome da nossa fiel amizade,
Reclamo metade
Que a felicidade é coisa frágil e passageira ... 

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Pesquisa da semana (#04 - 2013) - Os 10 melhores bailados

Este post resulta de uma pesquisa da semana passada a que não tivemos ocasião ocasião de responder. É um género musical que tem tido muito pouca expressão neste blog e merecia por isso uma resposta um pouco mais reflectida.

Obviamente neste caso é impossível falar da música sem abordar a coreografia por isso tentaremos sempre especificar qual a coreografia em que estamos a pensar quando colocamos o bailado nesta lista.

Como sempre a escolha baseia-se no meu gosto pessoal sendo de considerar neste caso que não é propriamente um género a que dê muita atenção. Acrescento ainda que neste blog o objectivo é como sempre foi introduzir as pessoas ao gosto pela música clássica e como tal ao anterior critério acrescenta-se a  "facilidade" de compreensão da obra o que por vezes tem dado lugar a algumas criticas sobre a excessiva popularidade das nossas escolhas. Não receio esse epíteto é mesmo assim e defendo que essa é a forma correcta de começar.

A ordenação da lista é puramente cronológica baseada na data da estreia que note-se em muitos casos não corresponde às versões que são hoje levadas à cena.

1. Giselle - Coreografia por Coralli e Perot, Música de Adolphe Adam (1841)



Um dos bailados mais vezes interpretados, um verdadeiro clássico. Tal como em alguns outros nesta lista o compositor não é muito conhecido e em boa verdade o coreografo também não. Neste caso não fosse o facto do bailado ter sido um dos que foi "refeito" por Petitpa e não estou seguro que hoje estivesse nesta lista. A versão que é hoje em dia interpretada é precisamente a baseada na sua coreografia. Não obstante para o registo o bailado foi estreado na sala Le Peletier em Paris a 28 de Junho de 1841. O libretto escrito por Jules-Henri Vernoy de Saint-Georges and Théophile Gautier conta a história de uma rapariga simples do campo que tem uma paixão por dançar e que descobre que o homem que ama está comprometido com outra, morrendo por isso de desgosto. Libretto inspirado de um poema de Heinrich Heine. Bailado em dois actos.

2. D. Quixote - Coreografia de Marius Petipa, Música de  Ludwig Minkus (1869)



De todos os compositores presentes nesta lista Ludwig Minkus é possivelmente o menos conhecido. Sendo austríaco de nascimento emigrou para a Rússia com cerca de 30 anos onde ficou até se "reformar" tendo então voltado a Viena sua cidade natal onde viria a falecer. O facto de um compositor como Minkus ser desconhecido quando nesta lista temos uma obra sua e poderíamos ter facilmente uma outra (La Bayader merecia estar nesta lista mas infelizmente 10 são poucos) deve-se em grande parte ao facto do compositor de música de bailado ser considerado secundário em relação ao coreografo. Mesmo Tchaikovsky escreveu música "a pedido" e à medida do solicitado por Petipas. De certa forma os músicos neste caso têm o papel do libretista na ópera. Não existe um bailado sem um compositor talentoso mas o que as pessoas realmente vêm são as piruetas dos dançarinos. Felizmente nos últimos anos tem-se equilibrado um pouco a atenção e o trabalho e talento de Minkus tem vindo a ser mais reconhecido. Este ballet foi originalmente estreado em Moscovo a 26 de Dezembro de 1869 tendo sido revisto e alargado para uma versão em cinco actos estreada a 21 de Novembro de 1871 no Teatro Imperial Bolshoi Kamenny de São Petersburgo. A versão que hoje é quase sempre interpretada não é nenhuma destas duas mas antes a versão de 1902 de Gorsky em quatro actos.

3. Coppélia - Coreografia por Arthur Saint-Léon, Música de Delibes (1870)


Este bailado baseado em duas histórias de Hoffmann conta a história de uma boneca que é tão parecida com um ser humano que um homem se apaixona por ela pondo de lado o seu anterior amor. O bailado foi estreado a 25 de Maio de 1870 no Teatro Imperial da Opera de Paris. A coreografia utilizada actualmente é  de Petitpa já que este bailado também foi um dos que foi por ele recriado. O libretto para o bailado em três actos é de Charles Nuitter.

4. Lago dos Cisnes - Coreografia por Julius Reisinger, Música de Pyotr Tchaikovsky (1877)




O que vos posso dizer sobre este bailado que não esteja a mais? Talvez que contém uma das minhas valsas preferidas? O bailado como é interpretado actualmente é baseado na recriação por Petitpa no entanto a coreografia original da estreia é de Reisinger estreado em Moscovo a 4 de Março de 1877 no Teatro Bolshoi. Diga-se de verdade que este bailado foi muito mal recebido tanto pela coreografia como pela música julgada "demasiado complicada" para um bailado. A revisão efectuada por Petitpa não se resume à coreografia que seja notado. A própria música foi revista existindo diferenças substanciais entre a versão original e a Drigo (maestro e compositor que trabalhava com Petitpa). Hoje em dia a maioria das interpretações segue a adaptação de Drigo (1895), embora não todas. O ballet em quatro (ou três actos dependendo da produção) conta a história de Odete princesa enfeitiçada que é cisne de dia e humana à noite, uma história triste que acaba mal (dependendo da perspectiva claro). Se desta lista de 10 bailados tivéssemos que escolher um tenho a certeza que a maioria de nós escolheríamos este como sendo "o bailado".

5. A Bela Adormecida - Coreografia de Marius Petipa, Música de Tchaikovsky (1890)



Esta obra foi estreada no Teatro Mariinsky em São Petersburgo em 1890 tendo desde logo sido um sucesso (contrariamente ao Lago dos Cisnes). É uma obra bastante longa em três actos (dura cerca de quatro horas contanto com os intervalos. Conta a história de Perrault, a princesa Aurora que adormece durante 100 anos vitima de um feitiço só para ser libertada pelo beijo do príncipe com quem casa no fim do bailado. Linda música e linda história. Este foi o primeiro dos dois bailados que resultaram da colaboração de Tchaikovsky e Petipa (como vimos o Lago dos Cisnes começou de uma outra forma).

6. Quebra Nozes - Coreografia de Petipa e Ivanov, Musica  de Tchaikovski



Este bailado em dois actos foi estreado a 18 de Dezembro de 1892 no Teatro Mariinsky em São Petersburgo não tendo sido propriamente um sucesso avassalador. No entanto desde os anos 60 este bailado tem crescido em popularidade sendo hoje um dos mais interpretados. O libretto é inspirado de uma história Hoffman adaptada por Dumas (pai) contando os sonhos de uma rapariga aspirando por um príncipe e uma batalha com um rato de sete cabeças. Uma história passada no Natal em que a fantasia se mistura com a realidade ficando a questão se a batalha foi real ou apenas um sonho ...


7. Le sacre du Printemps - Coreografia de Vaslav Nijinski, Musica de Igor Stravinsky (1913)




Um dos bailados da época de ouro de Diaghilev, um dos vários que poderiam estar e estão nesta lista. de Stravinsky e desta obra já dissemos o que havia a dizer. Estreada em Paris a 29 de Maio de 1913 no meio de uma das maiores e mais históricas polémicas geradas a propósito de uma obra de arte.


9. Romeu e Julieta - Coreografia de Leonid Lavrovsky, Música de Sergei Prokofiev



Quanto à história julgo não ser necessário dar detalhes. A estreia deste ballet em plena ante-véspera da segunda guerra mundial em 1938 não foi propriamente um sucesso. Foi preciso esperar a década de 60 para que algumas recriações deste bailado lhe dessem a proeminência que a música e a coreografia merecem.


9. Cinderella - Coreografia de Rostislav Zakharov, Música de Sergei Prokofiev  (1945)



Existem várias coreografias e composições musicais baseadas nesta história (algumas das quais até de coreógrafos famosos como Petitpa) mas o que me leva a colocar este ballet nesta lista é a composição de Prokofiev estreada a 21 de Novembro de 1945 no Bolshoi em Moscovo. Um bailado em 3 actos o ultimo dos quais com duas cenas. Um ballet que representa a escola russa que como veremos domina bastante esta  lista, mas é uma dominação totalmente merecida - os franceses  são os únicos que amenizam um pouco o que facilmente seria um domínio total.

10. Spartacus - Coreografia de Yury Grigorovich, música de Kachaturian (1958)

Eventualmente

O mais polémico das inclusões nesta lista, sobretudo considerando alguns bailados que coloquei de fora. Confesso que fui movido pela vontade de reparar a injustiça feita a Kachaturian certamente um compositor brilhante totalmente ofuscado pela presença na sua geração de outros génios como Prokofiev ou Shostakovich só para dar alguns exemplos. A história penso que dispensa também ela apresentações. O bailado foi estreado em 1956 no teatro Kirov na então Leningrado.

Outros Ballets notáveis que ficaram de fora

Ficaram de fora desta lista pelo menos uma outra dezena de bailados de que certamente reconhecerão os nomes, como por exemplo Pássaro de Fogo de Stravinsky ou Sonho de uma Noite de Verão de Mendelssohn - neste caso em boa verdade a música não foi composta para ballet mas sim para acompanhar a peça de Teatro - ou ainda Le Bayadére de Minkus ou Paquita de Deldevez.

Fica o desafio caros leitores para nos enviarem a vossa Lista de 10 Bailados ou se preferirem apenas um ou outro que prefeririam que estivesse nesta lista.

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