Voltamos hoje a percorrer a nossa lista das 100 obras que recomendamos para começarem a ouvir música clássica sendo que a primeira desta lista que ainda não tem um post ao nível do que gostaríamos são precisamente os concertos para piano e orquestra de Chopin.
Estas são possivelmente as duas únicas obras de grande dimensão escritas por Chopin que incluem uma parte orquestral embora as más línguas considerem que mais valeria que não houvesse nenhuma. Nós discordamos e iremos brevemente explicar a razão pela qual não nos parece ser esta uma critica justa.
O primeiro facto que temos de abordar relativamente a estes dois concertos diz respeito às datas da sua composição e numeração. Efectivamente eles foram compostos entre 1829 e 1830 separados por apenas uns meses mas aquele que é o nº1 foi na realidade o segundo a ser composto mas o primeiro a ser editado daí a numeração ser invertida.
Ambos os concertos foram compostos quando Chopin ainda vivia em Varsóvia e são por essa razão obras que reflectem não só a força do compositor e a sua juventude (Chopin tinha na altura entre 19 e 20 anos) mas igualmente uma verdadeira e pura alma polaca.
Quanto às criticas relativas a estes dois concertos nomeadamente a relativa incompetência de Chopin em dominar a técnica de composição para orquestra é preciso referir que na verdade Chopin não tinha muita experiência em obras de grande dimensão e no desenvolvimento de ideias numa forma musical de maior duração. É também verdade que Chopin antes de receber formação em composição era já um compositor "auto-didacta" e já com uma notável popularidade nos salões da capital polaca. Porém não deixa também de ser verdade que Chopin recebeu depois desses primeiros anos de criança prodígio formação clássica com alguns excelentes professores de composição estudando a fundo as formas clássicas de composição.
No que me diz respeito eu penso que foi precisamente o seu lado auto-didacta que o levou a compor da forma como o fazia e que o que alguns musicólogos atribuem a uma certa inexperiência ou incapacidade eu atribuo a uma procura de uma forma diferente e mais emocional de compor. Não segue as normas? Não existe uma forma "sonata" perfeita no primeiro andamento? Não há cadência? Pois temos então de agradecer o facto de Chopin ter resolvido quebrar as normas. Esclarecido que estamos quanto à genialidade e à razão de ser da presença destas duas obras nesta lista passemos à música.
O Concerto nº1 em Mi Bemol menor, Op. 11 foi composto no ano de 1830 tendo sido estreado em Outubro desse ano em Varsóvia, num dos últimos (senão mesmo o ultimo) concerto que Chopin interpretou antes de deixar Varsóvia e rumar a Paris. O concerto é dedicado a Friedrich Kalkbrenner (a história deste pianista e compositor só por si merece um post que fica prometido). A razão desta dedicatória prende-se certamente com o facto de Chopin na altura considerar como hipótese tornar-se aluno de Kalkbrenner.
O concerto segue uma estrutura clássica no que diz respeito à natureza dos andamentos (rápido-lento-rápido) embora como vimos cada um deles tenha uma forma interna bastante inovadora.
O 1º andamento (Allegro maestoso) o mais longo dos três como é usual (na verdade é quase metade da duração total do concerto) contem três temas não existindo contrariamente à prática comum na época uma cadencia (possivelmente porque Chopin considerou não ser necessária). Para este concerto propomos uma interpretação de Evgeny Kissin com a Orquestra Filarmónica de Israel dirigida por Zubin Mehta.
O 2º andamento (Romance - Larghetto) mais uma vez não segue as regras usuais começando na mesma tonalidade que o primeiro andamento (não maximizando o contraste como era prática comum). No entanto contrariamente ao que alguns musicólogos afirmam esta continuidade pode ter sido perfeitamente voluntária. Chopin escreve a um amigo dizendo que este andamento deve ser entendido como uma contemplação imóvel de uma bela noite de verão. E sim por isso também têm razão se vos soar semelhante a alguns nocturnos na sua forma. Escolhi para este andamento uma orquestra mais pequena e um pianista muito menos conhecido mas não deixa de ser uma bela interpretação. A propósito se quiserem comparar podem perfeitamente continuar com a anterior (como verão é bem diferente).
O 3º andamento (Rondo - Vivace) é baseado numa dança popular polaca da região de Cracóvia, um Rondo cheio de vitalidade . Para este terceiro andamento escolhi uma gravação histórica de 1950 de Dinu Lipatti com Otto Ackermann a dirigir a Orquestra de Zurique.
Como este post está já bastante longo falaremos do segundo concerto num post separado (quando o tiver publicado colocarei aqui o link para que o possam seguir caso desejem). Para terminar convém dizer que este concerto foi extraordinariamente bem recebido na sua estreia tendo mesmo desencadeado um movimento para que fossem dadas todas as condições a Chopin para que ele não desejasse sair da Polónia.
Sempre achei que os críticos da escrita orquestral de Chopin se referiam ao fato de que a orquestra parece ser um mero espectador do pianista, fazendo a maior parte do tempo, uma cama harmônica para o piano. Ao meu ver, poderia muito bem ser cortada a orquestra e não faria tanta falta. Essa gravação do Dinu Lipatti realmente é um achado! Muito interessante! Camila
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Ah Camila aí discordamos. Mesmo que seja apenas uma cama harmónica é fundamental ... E para mim essa aparente simplicidade é voluntária. Sim pode ser sido para realçar a parte do solista mas na verdade isso não está longe de outras composições do período romântico em que o solista era fundamental. O que eu acho é que não fossem estes concertos de Chopin possivelmente o enquadramento da aparente simplicidade orquestral seria diferente.
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