segunda-feira, 10 de junho de 2013

10 Motins provocados por música clássica

Continuando este post (podem ler aqui os primeiros três casos)  estamos agora na segunda década do século XX em Viena mais precisamente uns meses antes do famoso caso da Sagração da Primavera (já lá chegaremos, já lá chegaremos). Neste concerto Schoenberg dirige a Orquestra da Filarmónica de Viena no Musickverein. Estamos a 31 de Março de 1913. O programa era constituído por obras do seu aluno Alban Berg mais precisamente um conjunto de canções conhecidas como "Altenberg Lieder" por serem baseadas em frases de postais ilustrados com frases desse autor e que pretendiam ilustrar estados de alma, conceito que a música de Alban Berg procurava representar. Porém as mudanças constantes entre música tonal e atonal e a utilização frequente e repetitiva de padrões foram demais para o público de Viena que simplesmente não deixou o concerto terminar com os protestos.

A policia teve de intervir e mais tarde, parte engraçada da história houve mesmo processos contra o compositor por alegadas perturbações nervosas derivadas da audição da obra. Muito sensíveis os públicos na altura, muito sensíveis ...

Curiosamente este evento acabou por levar Schoenberg a extremar a sua posição relativamente ao público deixando de aceitar fazer interpretações públicas das suas obras. Os concertos de Schoenberg passaram a ser acessíveis apenas por assinatura (paga) e após convite ou aprovação do compositor. Concertos interditos à critica bem entendido. É dessa altura e nesse contexto que Schoenberg proferiu a famosa frase "Se é arte não é para todos. Se é para todos não é arte"




No mesmo ano e apenas uns meses depois em Paris dá-se o escândalo da Sagração da Primavera. Este caso foi mais mediático talvez porque na altura Paris era a capital da Ópera e do Ballet e ditava as tendências certamente porque a obra em si é um dos pontos charneira na evolução da música clássica.

Os protestos na audiência foram tão fortes que os membros do ballet não conseguiam ouvir a música e por isso o coreografo tinha de lhes gritar os números das cenas. O próprio Stravinsky disse numa entrevista que os tumultos tinham chegado mesmo a envolver cenas de pugilato entre a audiência. Na direcção da Orquestra estava nada menos que Pierre Monteux que olhou repetidamente para Diaghilev para perceber o que fazer mas o empresário apenas lhe deu instruções para prosseguir.

Os tumultos começaram logo a partir dos primeiros compassos tornando-se generalizados ao fim de alguns minutos apenas. No intervalo os bailarinos muitos a chorar ou devastados psicologicamente perguntavam-se se valeria a pena continuar. E continuaram naquela que terá sido uma das mais corajosas atitudes na história da arte. Há muitas anedotas sobre o que aconteceu naquela noite, desde a condessa que acreditou que estavam a gozar com ela até ao homem que se teve de bater em duelo no dia seguinte. Porém o mais relevante é que as posteriores audições da Sagração da Primavera decorreram sem problemas.




Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas

Não sei se a designação do nome deste feriado continua a ser esta, sinceramente perdi-me nas mudanças mas como gosto especialmente dela mantenho-a. Dia de Portugal combina muito bem com Camões como também poderia combinar com outros grandes poetas portugueses, pelo menos Pessoa com a sua Mensagem mereceria igual destaque. Tome-se portanto Camões como representante não só dos poetas mas também daqueles que sonham e nos cantam dias melhores. Necessários, tão necessários como os especialistas de Excel ... Tomem-se ainda as comunidades portuguesas espalhadas por esse mundo como os representantes daqueles que tomam o futuro nas suas mãos e simplesmente fazem. Pena que algures tenham sentido que para isso precisavam de saír de Portugal mas terão com toda a certeza tido razão. Terão tido aqueles que partiram à várias gerações terão aqueles que decidem partir hoje. Tal como também têm razão os que decidem ficar e lutar por aqui  mesmo. Tudo isto é Portugal.

Não podíamos terminar este post sem música e num dia de Portugal só poderia falar-vos de compositores portugueses claro. Não quero escolher apenas um e por isso, com o devido respeito a Alfredo Keil hoje vou relembrar dois compositores que poderiam para mim ser os autores do Hino de Portugal, são aliás autênticos hinos à "portugalidade" muitas das obras que compuseram. Sem mais delongas proponho que oiçamos neste dia um pouco de Joly Braga Santos e de Luís de Freitas Branco .

Do ultimo neste dia especial poderíamos propor-vos Solemnia Verba baseada num poema de Antero de Quental que vos deixo aqui (por ser tão especialmente adequado ... )

Disse ao meu coração olha por quantos 
caminhos vãos andamos! Considera
agora, desta altura fria e austera, 
Os ermos que regaram os nossos prantos

Mas hoje não poderia deixar de vos relembrar os Madrigais Camonianos



De Joly Braga Santos escolhemos uma das suas sinfonias, neste dia poderia ter sido a Quinta "Virtus Lusitanae" mas prefiro a terceira precisamente dedicada a Luís de Freitas Branco.


Neste dia não se esqueçam de ouvir muita boa música portuguesa, a melhor forma de celebrar o dia de Portugal, obviamente !

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