Continuando este post (podem ler aqui os primeiros três casos) estamos agora na segunda década do século XX em Viena mais precisamente uns meses antes do famoso caso da Sagração da Primavera (já lá chegaremos, já lá chegaremos). Neste concerto Schoenberg dirige a Orquestra da Filarmónica de Viena no Musickverein. Estamos a 31 de Março de 1913. O programa era constituído por obras do seu aluno Alban Berg mais precisamente um conjunto de canções conhecidas como "Altenberg Lieder" por serem baseadas em frases de postais ilustrados com frases desse autor e que pretendiam ilustrar estados de alma, conceito que a música de Alban Berg procurava representar. Porém as mudanças constantes entre música tonal e atonal e a utilização frequente e repetitiva de padrões foram demais para o público de Viena que simplesmente não deixou o concerto terminar com os protestos.
A policia teve de intervir e mais tarde, parte engraçada da história houve mesmo processos contra o compositor por alegadas perturbações nervosas derivadas da audição da obra. Muito sensíveis os públicos na altura, muito sensíveis ...
Curiosamente este evento acabou por levar Schoenberg a extremar a sua posição relativamente ao público deixando de aceitar fazer interpretações públicas das suas obras. Os concertos de Schoenberg passaram a ser acessíveis apenas por assinatura (paga) e após convite ou aprovação do compositor. Concertos interditos à critica bem entendido. É dessa altura e nesse contexto que Schoenberg proferiu a famosa frase "Se é arte não é para todos. Se é para todos não é arte"
No mesmo ano e apenas uns meses depois em Paris dá-se o escândalo da Sagração da Primavera. Este caso foi mais mediático talvez porque na altura Paris era a capital da Ópera e do Ballet e ditava as tendências certamente porque a obra em si é um dos pontos charneira na evolução da música clássica.
Os protestos na audiência foram tão fortes que os membros do ballet não conseguiam ouvir a música e por isso o coreografo tinha de lhes gritar os números das cenas. O próprio Stravinsky disse numa entrevista que os tumultos tinham chegado mesmo a envolver cenas de pugilato entre a audiência. Na direcção da Orquestra estava nada menos que Pierre Monteux que olhou repetidamente para Diaghilev para perceber o que fazer mas o empresário apenas lhe deu instruções para prosseguir.
Os tumultos começaram logo a partir dos primeiros compassos tornando-se generalizados ao fim de alguns minutos apenas. No intervalo os bailarinos muitos a chorar ou devastados psicologicamente perguntavam-se se valeria a pena continuar. E continuaram naquela que terá sido uma das mais corajosas atitudes na história da arte. Há muitas anedotas sobre o que aconteceu naquela noite, desde a condessa que acreditou que estavam a gozar com ela até ao homem que se teve de bater em duelo no dia seguinte. Porém o mais relevante é que as posteriores audições da Sagração da Primavera decorreram sem problemas.
Sem comentários:
Enviar um comentário