quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O Discurso de Martin Luther King

Faz hoje 50 anos que Martin Luther King fez o discurso que estou certo todos teremos estudado nas nossas aulas de inglês. Um discurso sobre a justiça e igualdade para todos, um discurso excepcionalmente bem construído e com a coragem de recusar a violência e ódio. Uma lição para os dias de hoje.



Que música nos poderia ajudar a completar este post? Nenhuma creio. As palavras de Martin Luther King são suficientes. Oiçam o discurso todo e relembrem que vale a pena.

Os prémios da Gramophone - Primeira parte

Foram hoje anunciados os prémios da Gramophone para 2013. Porque é sempre uma ocasião para relembrar excelente música e uma forma de nos reconciliarmos com a gravação (Mário este post quase que lhe é dedicado :-)) aqui fica a Lista de prémios com links para interpretações dos interpretes premiados nas obras premiadas embora eventualmente em outras gravações.

Dividimos este post em três partes que vamos publicar entre hoje e amanhã porque um único post seria demasiado longo.

Vocal Barroco

Motets de Bach pelo Coro Montverdi dirigido por John Eliot Gardiner



Instrumental Barroco

Conjunto de peças para Cravo de vários compositores interpretadas por Andreas Staier. O video que vos proponho neste caso inclui o CD completo premiado chamado " ... pour passer la Mélancolie" . Se gostarem recomendo obviamente que comprem o disco que merece as cerca de 12 Libras que custa por exemplo na Amazon.



Música de Câmara

Sonatas para violino e piano de Bela Bartok por Barnabás Kelemen  no Violino e Zoltán Kocsis no piano .  Infelizmente neste caso não consigo encontrar estas obras interpretadas por estes músicos por isso terei que vos mostrar os músicos numa outra interpretação de Bartok (Danças Romenas) e depois as Sonatas por outro interprete. Primeiro os dois músicos.



E agora uma das Sonatas numa interpretação de Oistrakh no Violino e Bauer no Piano.



Coral

Os Apóstolos de Elgar numa interpretação do Coro e Orquestra de Hallé dirigido por Sir Mark Elder . Também neste caso tenho de vos propor a obra e os interpretes em situações diferentes. Desta vez começo com a obra.



E agora os interpretes numa outra obra de Elgar - O sonho de Gerontius.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Ravel - Bolero

Se dissessem a Ravel que a sua obra mais conhecida e mais vezes interpretada, adaptada ou abusada seria o seu Bolero com toda a certeza Ravel riria com vontade. Talvez depois lhe assaltasse a dúvida e talvez como Saint Saens proibisse a edição ou interpretação dessa obra numa tentativa de dar espaço às demais.

A verdade é que o Bolero pela sua característica repetitiva dois temas repetidos alternadamente do principio ao fim num longo crescendo de 15 minutos é fantasticamente actual e penso que o será sempre.

Como muitas obras nasceu de forma fortuita resultante de uma encomenda da bailarina Russa Ida Rubinstein. Na origem esta obra é efectivamente um ballet. Curiosamente antes de conceber esta obra de arte Ravel tinha considerado fazer uma adaptação de outras obras mas por razões diversas acabou felizmente por optar por esta maravilha.

A obra foi estreada a 22 de Novembro de 1928 em Paris tendo sido logo na estreia um sucesso notável. Esta foi também uma das ultimas obras que Ravel escreveu antes de ser forçado a reformar-se por doença. Existem um sem número de anedotas sobre a obra entre as quais a celebre afirmação de uma ouvinte na estreia que teria afirmado: "Ele é louco" ao que Ravel teria respondido ao saber dessa opinião : "Foi a unica que compreendeu a obra".

Na verdade Ravel afirmou por várias vezes que a obra não continha nenhuma invenção ou desenvolvimento e que a Orquestração era do mais simples que poderia ter feito. Ravel chegou mesmo a afirmar que a obra "não continha nenhuma música" e acreditava que muitas orquestras se recusariam a interpreta-la. Ravel escreveu mesmo ao critico Calvocoressi o seguinte texto:

"I am particularly desirous that there should be no misunderstanding about this work. It constitutes an experiment in a very special and limited direction, and should not be suspected of aiming at achieving anything different from or anything more than it actually does achieve. Before its first performance, I issued a warning to the effect that what I had written was a piece lasting about seventeen minutes and consisting wholly of ‘orchestral tissue without music' - of one long, very gradual crescendo. There are no contrasts, there is practically no invention except the plan and the manner of execution. The themes are altogether impersonal ... folktunes of the usual Spanish-Arabian kind, and (whatever may have been said to the contrary) the orchestral writing is simple and straightforward throughout, without the slightest attempt at virtuosity.... I have carried out exactly what I intended, and it is for listeners to take it or leave it."

"Tenho especial interesse em que não exista qualquer malentendido acerca desta obra. É uma experiência numa direcção muito especifica e limitada e não deve ser entendida como pretendendo alcançar algo diferente de ou algo mais do que efectivamente consegue. Antes da sua primeira interpretação pública avisei que tinha escrito uma peça de 17 minutos consistindo somente de "tecido orquestral" sem música - um longo muito gradual crescendo. Não existem contrastes não existe praticamente nenhum desenvolvimento excepto no plano e forma de execução. Os temas são totalmente impessoais ... temas populares do tipo Hispano-Árabe e (apesar do que possa ter sido dito em contrário) a escrita orquestral é simples e directa sem qualquer tentativa de virtuosismo. Fiz exactamente o que tencionava e cabe aos ouvintes decidir se a devem amar ou odiar."

Repare-se além de tudo o que já dissemos na ênfase no tempo - 17 min. (outra das anedotas é a conhecida polémica com Toscanini) que o  compositor coloca e que não é muito usual. De resto como já referimos um mesmo ritmo dois temas cada um com 18 compassos tocados alternadamente 18 vezes num longo crescendo.


Os vícios e as virtudes da gravação de uma forma de arte e de uma industria

Num artigo que neste momento circula na net um solista queixa-se de ter sido gravado quando em Londres interpretava o concerto para Violino de Brahms. O artigo completo em que o músico expõe por acaso de forma bastante equilibrada e interessante a sua opinião foi publicado no Huffington Post.

Vejamos então o que o músico nos diz e se me permitem irei contrapor alguns pontos que me parecem particularmente relevantes.

Primeiro diz que normalmente nas salas de concerto isto é proibido o que é absolutamente verdade. Raramente é permitida a gravação sem autorização. Existem alguma excepções mas por norma quem fez esta gravação cometeu uma ilegalidade mesmo que seja apenas para consumo próprio.

Diz-nos depois que até se sentia lisonjeado que alguém queira gravar e partilhar e reconhece que existe um valor nessa partilha em termos de notoriedade e de relações públicas. Até aqui concordamos totalmente. Admite ainda que essa gravação o dará a conhecer a pessoas que nunca teriam a oportunidade de o ver ao vivo. Perfeito estamos em sintonia.

Depois fala-nos dos pontos que considera negativos e aí é que começam as nossas divergências. Primeiro fala-nos da questão económica que quando alguém compra um bilhete é para ouvir essa perfomance uma vez e apenas uma e que a gravação dessa performance prejudica o seu rendimento enquanto artista que também tem CD´s e que espera uma remuneração pela sua venda. A razão da minha discordância com o músico tem simplesmente a ver com dois pontos muito importantes. A gravação de uma performance não deixa de ser uma gravação. Nunca a poderá substituir. Nunca uma gravação pode dar a mesma emoção do que a partilha ao vivo logo por mais que se deseje "gravar" esse momento existe uma vez e não é reprodutível. Pode obviamente o documento histórico, a gravação dar a partilhar essa experiência com outros mas será sempre diferente da presença no local. Depois obviamente uma gravação em smartphone nunca poderá ter qualidade sequer aproximada para se comparar a uma gravação comercial.

O músico fala-nos em seguida da partilha dos CDs e diz que alguma partilha dos mesmos é inevitável. Caro amigo obviamente é inevitável. Eu também partilho livros e outras obras de arte. Não as copio ilegalmente mas empresto-as e por vezes gravo-as para poder partilhar com mais pessoas. Esta partilha faz parte do direito de propriedade e querer privar um individuo desse direito no pressuposto que retira um beneficio ao artista é ridículo.

O problema é quando o valor do que estão a oferecer nessa embalagem é de tal forma desproporcionado do seu verdadeiro valor que cria o incentivo económico para a pirataria industrial. Não está nunca no "fair use" e partilha que sempre foi feita e é inerente à  própria forma de arte. convidar um amigo para ouvir em minha casa uma obra num CD que comprei o fazer o mesmo através da net é exactamente a mesma coisa. Não é essa partilha o problema porque essa tipicamente conduz a uma venda futura (uma ou mais). O problema que a industria tem de resolver isso sim é o valor do que está a oferecer e se o que está a dar corresponde efectivamente à necessidade de quem compra.

Fala por fim o músico do problema da gravação das falhas e de como isso pode prejudicar a memória que essa sim pode ser perfeita (ao invés da gravação ao vivo que nunca o será). Pois não nunca é. E é por essa mesma razão que hoje em dia tantas vezes não conseguimos apreciar os concertos ao vivo porque estamos obcecados com a perfeição de uma qualquer gravação. Ao vivo nunca será perfeito. Precisamente por isso é que não pode ser nunca "o mesmo" caro James Ehnes. As imperfeições não retiram valor acrescentam valor. Porque são humanas e porque a música é isso mesmo.

Mas não te levo a mal James Ehnes porque precisamente nesse ponto tocaste na verdadeira questão. É que as gravações, o hábito das gravações elevaram a nossa expectativa à perfeição. E por isso a cruel comparação do gravado ao vivo vos parece tão perigoso. Ou não ... porque será porventura a redenção da música: A percepção de que a gravação sendo perfeita não é a verdadeira obra. É uma cópia. A verdadeira é apenas e tão somente a que existiu ao vivo. Simplesmente naquele momento.

sábado, 24 de agosto de 2013

Saint Saens - Concerto para Piano e Orquestra nº 5

Este concerto Op. 103 foi composto em 1896 para uma ocasião especifica e festiva na vida de Saint Saens. na verdade o compositor escreveu este concerto para ser interpretado por ele próprio na Sala Pleyel por ocasião da celebração do quinquagésimo aniversário da sua estreia em 1846.

O concerto é popularmente conhecido pelo "Concerto Egipcio" não só por Saint Saens o ter composto no templo egípcio de Luxor mas também pelo forte colorido exótico transmitido pela música com influências não só egípcias mas também espanholas e de Java. Note-se que embora o compositor tenha explicitamente referido as influências de uma canção popular egípcia num dos temas do segundo andamento este cognome não foi proposto por Saint Saens.

Saint Saens foi efectivamente o solista na estreia tendo o concerto recebido criticas muito favoráveis sendo que nos dias de hoje após o Concerto Nº 2 de que já falamos é uma das obras mais populares do compositor. A obra publicada em 1896 foi dedicada ao pianista Louis Diémer que o interpretou por várias vezes.

Não obstante a sua cor exótica ao bom estilo de saint Saens a obra não deixa de ser clássica na forma embora com uma composição que muitas vezes se torna livre das limitações formais do período clássico.

É por exemplo o caso do primeiro andamento (Alegro Animato) em que a forma de Sonata aparentemente clara no inicio acaba por se dissolver numa forma muito mais livre.

O segundo andamento (andante) é o mais exótico dos três e aquele que contém o tema inspirado da melodia egípcia, uma canção de amor Núbia a que já fizemos referência.

No terceiro andamento (Molto allegro) que Saint Saens descreveu como a alegria de atravessar o mar o compositor utiliza vários elementos de composição que fazem desta obra uma das mais "programáticas" ou descritivas se preferirmos do conjunto da sua obra. A tensão criada pela justaposição de temas e a formidável parte de piano fazem deste andamento uns minutos de música que não podem mesmo deixar de ouvir com atenção.


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Google e Debussy

Nao da para escrever muito de Heathrow à espera do avião.  Não deixem de ver o Google hoje. Que linda (e merecida) homenagem a Debussy. Juntarei mais detalhes quando chegar a casa. Até lá sugiro muito Clair de Lune :-)

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

As seis harpas para quem duvidar

Ao intervalo

O melhor de tudo é o ambiente.  Sibelius excelente solista.  A orquestra e a direcção não me encheram as medidas. Agora elgar e as variações enigma e um compositor escocês que elgar admirava muito de acordo com o programa de sala. Uma sinfonia celta que exige 6 harpas .... imaginem o esforço de afinação :-)

Acabaram de o fazer agora (afinar claro).

Depois conto o resto.

Vou assistir a uma prom ...

Surgindo a oportunidade não podia hesitar ! Ainda por cima com un concerto para violino de que gosto ! Sibelius ... De resto Elgar, uma estreia e um compositor que nao conheço.  Depois conto ...

domingo, 11 de agosto de 2013

Uma orquestra que não tem nada a esconder

A orquestra de jovens que vos mostro neste video tocam completamente nuas. Na verdade podemos dizer que não têm por onde se esconder mas deviam ...

Não entendo também a mudança de protocolo de se colocarem em fila no inicio e não directamente nas estantes respectivas nem tão pouco percebo porque é que a maestro entra vestida e se despe ... como alguns comentários sugeriram já que assim é pelo menos que fosse ao som de uma música de cabaret por exemplo.

Enfim eu diria que estas meninas se podiam dedicar à pesca já que relativamente à música estamos falados mas creio que encontraram uma alternativa mais rentável abstendo-me de mais comentários envolvendo o tipo de instrumento que tocam ...

É uma brincadeira ou um happening dirão ... talvez. Nesse caso considerem este post como um também.

sábado, 10 de agosto de 2013

Saint Saens - Concerto para Piano nº 2

Continuando a nossa revisão das 100 Obras que recomendamos para começar a gostar de música clássica hoje vamos falar-vos do segundo concerto para piano e Orquestra de Saint Saens.

Saint Saens foi um dos compositores franceses mais prolíficos e certamente um dos que conseguiu ter obras de referencia em praticamente todos os géneros musicais. No que diz respeito a concertos para piano e orquestra compôs cinco (falaremos do quinto concerto num próximo post) mas este segundo é o mais popular dos cinco.

Foi composto na Primavera de 1868 em apenas três semanas após o seu amigo maestro Anton Rubinstein lhe ter pedido para arranjar um concerto. Com a sala marcada e sem programa definido Saint Saens propõe escrever um concerto especificamente para a ocasião. Não admira assim que a estreia não tenha corrido especialmente bem. Pouco tempo de ensaio e uma estrutura particularmente difícil e original terão sido as causas.

Na realidade o concerto começa com um Andamento Lento (Andante sostenuto) com uma deliciosa introdução em solo muito ao estilo de Bach onde é apresentado também o primeiro tema. A Orquestra entra então de forma contrastante após o que volta o primeiro tema (a propósito um tema de Fauré) seguido de um breve segundo tema que numa sequência de crescendos (num estilo bastante semelhante a Chopin) nos leva à coda onde volta a ser recapitulado o tema inicial.  Uma das principais criticas feitas a Saint Saens é a falta de unidade da obra que dizia um dos seus colegas "começa em Bach e acaba em Offenbach". É uma injustiça pensamos porque estes contrastes são totalmente propositados e fazem parte do encanto da obra. Para a ilustração desta obra escolhemos uma interpretação do pianista francês Marc André Hamelin.



O segundo andamento (Allegro scherzando) não é o tipico andamento lento como seria de esperar mas antes é mais parecido com um Scherzo com temas leves e bem-dispostos para contrastar com a densidade emocional do primeiro andamento.



No terceiro andamento (Presto) voltamos à "normalidade" na estrutura clássica de um concerto com um andamento rápido em que numa rapidíssima Tarantella tanto o solista como a Orquestra vão ganhando volume e ritmo para terminarem numa verdadeira tempestade de arpégios. Um andamento de cortar a respiração e aproximadamente 20 minutos de música que gostávamos que recomeçassem.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Um violino a menos neste mundo ...

Um artigo da Business Insider dá-nos a conhecer a trágica sorte de um violino. A história fosse ela escrita em tom de história infantil seria mais ou menos assim ...

Era uma vez um violino com uma assinatura que levantava algumas dúvidas. A dona por necessidade precisou de o vender e nestes tempos modernos e cibernéticos fez o equivalente de ir à feira. Levou-o a um Luthier que o avaliou e depois colocou-o à venda no Ebay.

Rapidamente surge um comprador e tudo parecia que iria acabar com um viveram felizes para todo o sempre. Mas não ... O comprador - não sabemos porquê, se por avaliação de terceiros se por sua própria avaliação - resolve contestar a assinatura (a etiqueta com o nome do fabricante) e reclama ao Pay Pal.

O Pay Pal resolve tratar o caso pela bitola normal e declara o violino uma contrafacção . De acordo com as regras uma contrafacção não pode ser devolvida pelo que se aplica a regra - destrua o objecto para poder solicitar a devolução do dinheiro. O comprador (um canadiano) segue a instrução e destrói o violino enviando a imagem de prova.

Claro que um pouco de bom senso tanto do Pay Pal como do próprio comprador e também um pouco de conhecimento do mundo dos violinos teria levado a uma decisão mais sensata mas assim reza esta história. Era uma vez um violino que já não é ... e uma dona que perdeu cerca de 2.500 dólares e o violino.

domingo, 4 de agosto de 2013

Brahms - Ein Deutsches Requiem

Como já referi estou ao pouco a completar o meu índice das 100 obras que recomendo para começarem a gostar e conhecer a música clássica. Nesse processo estive a ler o que escrevi sobre Brahms e cheguei à conclusão que os posts sobre a obra Ein Deutsches Requiem - nada menos do que 6 posts quase um por andamento - estavam dispersos e quase tinham passado desapercebidos (a avaliar pelo número de leituras).

São posts de 2008 - uma eternidade nos separa deles logo adequado a um Requiem - aqui fica o link para a sua leitura se desejarem. Os posts contêm uma tradução integral do texto do Requiem.

Parte 1 - 1º e 2º Andamentos
Parte 2 - 3º Andamento
Parte 3 - 4º Andamento
Parte 4 - 5º Andamento
Parte 5 - 6º Andamento
Parte 6 - 7º Andamento

Para quem queira saber um pouco mais desta obra sem ler (para já pelo menos) estes seis posts resolvi incluir um pequeno resumo. Trata-se de uma obra verdadeiramente original já que Brahms removeu propositadamente referências ao dogma católico utilizando livremente partes da Bíblia Luterana. Para quem considera Brahms "um conservador" existe aqui mais um elemento para análise. Note-se que até este ponto (e mesmo posteriormente) todos os Requiems são baseados aproximadamente no mesmo texto, texto que nos chega praticamente sem alterações da Idade Média. O que Brahms fez foi essencialmente pouco menos que revolucionário transformando este texto litúrgico num texto que mantendo o seu carácter sagrado deixou de ser litúrgico para adquirir uma forte dimensão humanística.

Em vez de uma missa "para os mortos" este Requiem é um texto para a humanidade um caminho para a mesma. Numa carta Brahms disse que substituiria o termo "alemão" pelo palavra "Humano" o que teria sido provavelmente demasiado para época.

A obra foi estreada aos poucos - Brahms trabalhou nela durante mais de uma década - tendo o ultimo andamento (o 5º na ordem) sido completado em Maio de 1868. A obra foi estreada pela primeira vez completa (como a conhecemos hoje) em Leipzig a 18 de Fevereiro de 1869.

Fiquem agora com uma magnifica interpretação deste Requiem pela Filarmónica de Viena e o Wiener Singverein dirigidos por Herbert von Karajan.



sábado, 3 de agosto de 2013

Lalo - Sinfonia Espanhola

Édouard Lalo (1823-1892) está longe de ser um dos mais conhecidos compositores franceses. No entanto esta sua obra continua a ser uma das mais interpretadas do reportório clássico tendo tido uma grande influência na evolução da música pelo seu carácter inovador que aliás seduziu Tchaikovsky ao ponto de lhe ter inspirado o seu concerto para Violino.

É curioso - passados tantos anos - ler o que Tchaikovsky escreve à sua mecenas Nadejda von Meck:
"Esta obra foi recentemente estreada por aquele violinista muito moderno Sarasate. É para violino solo e Orquestra e consiste em cinco andamentos independentes baseados em temas da música popular espanhola. A obra deu-me muito prazer. É tão fresca e leve e contem ritmos picantes, ritmos e melodias que são harmonizadas belissimamente. Lalo é muito cuidadoso ao evitar tudo o que é rotineiro e procura sempre novas formas sem tentar ser profundo mais preocupado com a beleza musical que com o que é tradicional"

Não me parece que exista muito mais que se possa acrescentar ao comentário de Tchaikovsky em termos de elogio. A obra efectivamente foi escrita para o violinista espanhol Pablo Sarrasate composta em 1874 e estreada no ano seguinte em Paris a 7 de Fevereiro. Apesar do nome "Sinfonia" é na verdade mais um concerto do que uma sinfonia. Relativamente a esta questão da forma o mais simples é ouvirmos o próprio Lalo que nos diz : "O nome reflecte o meu conceito - Um violino cantando por cima da rígida forma de uma sinfonia".

O primeiro andamento "Allegro non troppo" é desenvolvido na forma sonata e abre com um tema claramente espanhol cantado pela orquestra apoós o que o Violino expõe o tema principal em tercinas. O segundo tema é também introduzido pelo violino solo. Propomos este andamento numa interpretação de Leonid Kogan.



O segundo andamento "Scherzando: Allegro molto2 é uma valsa espanhola, rápida e cheia de "salero". Propomos para este andamento uma interpretação de David Oistrakh.



O terceiro andamento "Intermezzo: Allegro non troppo" foi infelzimente durante muitos anos suprimido por alguns maestros e violinistas. Na verdade esta foi a forma que Lalo encontrou para sair da forma normal de uma sinfonia, introduzindo um andamento - também rápido - antes do verdadeiro andamento lento. E é uma pena porque o tema lirico é uma das pérolas desta sinfonia. Escolhemos uma interpretação de Henryk Szeryng.



O quarto andamento "Andante" caracteriza-se por uma introdução sombria - aliás o tom do andamento de uma forma geral é bastante soturno criando um ambiente melancólico e introspectivo de uma profundidade notável. Escolhemos uma interpretação de Itzahk Perlman para a sua ilustração.



Por fim o o quinto andamento "Rondo: Allegro" voltamos aos temas leves e alegres; um rondo em ritmo de Saltarello. Escolhemos Joshua Bell para nos mostrar esta ultima parte da obra.

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