Embora Leonard Bernstein tenha sido sempre um homem de causas entre 1973 e 1990 a sua actividade é retrospectivamente avassaladora pela pertinência. Não crendo deificar Leonard Bernstein a verdade é que é dificil não deixarmos de ficar sensibilizados e espantados com as causas e as posições que tomou e com os concertos verdadeiramente históricos em que foi figura de primeiro plano.
Tudo começou em 1973 com o concerto de que já falámos aqui a favor da paz e em protesto contra a reeleição de Nixon. É fácil hoje dizer retrospectivamente que é natural mas na altura era bem menos óbvio.
Em 1977 contrastando com a posição contra Nixon apoia deliberadamente Jimmy Carter ao tocar na cerimónia de posse numa espécie de ante-estreia da sua obra "Songfest".
Em 1980 dirigindo "Lincoln Portrait" com o compositor Aaron Copland como narrador, Copland que fazia então 80 anos. Não nos esqueçamos que Copland é "apenas" um dos grandes compositores americanos do século XX.
Em 1983 Missa pelo desarmamento nuclear.
Em 1985 dirige a Orquestra de Jovens da Europa (não esqueçamos que isto num maestro americano é absolutamente notável quer pelo facto de ser uma Orquestra Europeia, quer sobretudo pela conjugação de ser Europeia e de Jovens) numa tournée pela Paz e ainda aceitando (desejando) partilhar a regência com Eiji Oue (seu aluno).
Em 1989 recusa a condecoração americana "National Medal of Arts" atribuída por George Bush em protesto pela supressão do financiamento federal de uma instituição por ter supostamente exposto arte relacionada com a luta contra a SIDA.
Finalmente em Dezembro desse mesmo ano no dia 25 de Dezembro Leonard Bernstein dirige um concerto que ficará sem dúvida alguma na história da civilização. Tocou em Berlim uma orquestra constituída por membros da Orquestra da Baviera, da Staatskapelle Dresden, da Orquestra de Kirov, da Sinfónica de Londres, da Orquestra de Paris e claro da Filarmónica de Nova Iorque. Foram solistas June Anderson, Sarah Walker, Klaus Konig e Jan-Hendrik Rootering. Este concerto onde Bernstein muito apropriadamente substitui a palavra Freude (alegria) por Freheit (liberdade) celebrando desta forma metafórica, como a linguagem musical a queda do muro de Berlim. Oiçam aqui um extracto do ultimo andamento deste concerto fantástico.
Depois deste concerto e antes de falecer a 14 de Outubro de 1990 Bernstein apenas dirigiria mais cinco vezes, duas na Europa - A missa em Dó Menor de Mozart e de novo a Nona Sinfonia e três nos Estados Unidos entre os quais um ultimo concerto em Nova Iorque e um em Tanglewood, o ultimo acabando com a Sétima de Beethoven.