Enquanto esperamos pelos resultados da nossa votação hoje para variar teremos uma obra sinfónica do período romântico, uma excelente sugestão do nosso leitor Fernando Manuel Ribeiro Couto. Coincidência interessante este leitor partilha comigo não só o gosto de Cesar Franck mas também os dois primeiros nomes, ou seja é mais um Fernando Manuel que gosta de música clássica :-)
Trata-se de uma obra (a ultima por acaso) do compositor belga, uma sinfonia, uma adição algo estranha na sua obra muito embora esta mantenha as características principais da obra de Franck.
Dizemos que é estranho porque em França onde César Franck residia e trabalhava a forma sinfónica era quase considerada uma traição por ser uma forma "germânica". Mais ainda era vista como uma forma ultrapassada e antiga. Temos de enquadrar esta polémica (porque a obra de Franck na altura foi mesmo polémica) numa intensa querela nacionalista em que a música era arma fundamental. Se a querela em si não me diz nada já o facto de esta ser feita musicalmente não deixa de ser mais interessante do que o arremesso doutro tipo de projécteis: Pelo menos neste caso o público na pior das hipóteses é massacrado com má música; desculpem a má piada. A sério se as nações se têm mesmo de confrontar para determinar algum tipo de superioridade pelo menos que o façam de forma pacifica. Na música e no desporto porque não ...
Esta obra no entanto não foi polémica apenas por isso. Não nos podemos esquecer que em 1886/1888 data em que esta sinfonia foi composta já Debussy havia iniciado uma verdadeira revolução musical e por isso esta sinfonia com o seu apelo às formas clássicas é também antagónica desse progresso. Ou seja César Franck pela escolha que faz da forma sinfónica (uma clara homenagem a Liszt e Beethoven, compositores que adorava) não só contraria a forma "francesa" como ainda por cima contraria o modernismo proposto por Debussy ou Ravel em menor grau.
A bem da verdade a obra de Cesar Franck está no entanto longe de ser apenas uma espécie de revivalismo germânico (aliás é totalmente injusta essa classificação). Na verdade esta sinfonia é totalmente característica das formas predilectas do compositor que são na verdade uma subtil fusão entre elementos de Liszt e de Beethoven e outros típicos da escola francesa. Fusão seria assim a palavra que escolheria para classificar esta obra o que obviamente deita por terra qualquer pretensão de reclamação nacional.
A obra é invulgar na forma por não utilizar os quatro andamentos normais na forma sinfónica (tem apenas 3) utilizando a forma cíclica tão do gosto de Franck e de que falamos na sua Sonata para Violino. Esta forma cíclica neste caso não deixa de recordar a outra sinfonia do período de que me lembro (a Sinfonia Fantástica de Berlioz) e a sua "idée fixe" embora neste caso sem a componente programática: esta é uma obra totalmente abstracta. Irei completar mais tarde hoje este post com uma descrição dos três andamentos mas por agora fiquem com o inicio do primeiro andamento.