A primeira porque vai estar em Lisboa para dois concertos um já na segunda-feira com a Orquestra Gulbenkian e um segundo no Grande Auditório da fundação onde vai actuar a solo na Quarta-feira sempre com programas em que vai interpretar Chopin.
A segunda razão prende-se com a apresentação do livro de Daniel Barenboim "Está tudo ligado - O poder da música" editado em Portugal pela Editorial Bizâncio que será apresentado também na Fundação Calouste Gulbenkian na Terça-Feira às 18:30.
Neste livro que Barenboim diz não ser nem para músicos nem para não-músicos mas antes para quem "com uma mente curiosa pretenda descobrir os paralelos entre a música e vida e a sabedoria que se torna então audível para o ouvido pensante". Barenboim não hesita em endereçar questões incomodas como a interpretação de Wagner em Israel falando também do seu projecto de Orquestra West-Eastern Divan Orchestra explicando como a convivência musical entre israelitas, árabes e palestianos os ajuda a compreenderem-se melhor (este texto foi retirado e adaptado da nota de imprensa inglesa a propósito do livro).
No que me diz respeito a minha admiração pelas posições de Barenboim é absoluta. E por isso para todos os que não leram e não tiveram a curiosidade de ler o post que vos recomendei no inicio deste post volto a citar-vos o fantástico discurso de Daniel Barenboim em pleno Knesset na aceitação do prémio da Wolf Foundation.
Queria exprimir a minha profunda gratidão à Fundação Wolf pela grande honra que me concedeu hoje. Este reconhecimento não é para mim apenas uma honra, mas também uma fonte de inspiração para aumentar a minha actividade criativa.
Foi em 1952, quatro anos após a declaração de indepência de Israel que eu, então com 10 anos vim para Israel com os meus pais vindo da Argentina.
A Declaração de Independencia foi uma fonte de inspiração para acreditar em ideais que nos transformaram a nós Judeus em Israelistas. Este documento notável exprimia o compromisso e passo a citar a constituição de Israel : " O Estado de Israel consagrará o desenvolvimento deste país para o benefício de todo o seu povo; será fundado nos princípios da liberdade, justiça e paz, guiado pelas visões dos profetas de Israel; Garantirá direitos iguais, sociais e políticos a todos os cidadãos sem prejuízo das diferenças de fé, raça ou sexo; Garantirá liberdade de religião, consciência, linguagem educação e cultura". Fim de citação
Os fundadores do estado de Israel que assinaram a declaração também se comprometeram (e a nós também) e volto a citar "Prosseguir a paz e boas relações com todos os estados vizinhos e povos", fim de citação.
Pergunto-vos hoje, profundamente triste: Podemos nós, não obstante tudo o que de bom realizamos, ignorar o fosso existente entre o que esta declaração de independência prometia e o que foi realizado, o fosso entre a ideia e a realidade do estado de Israel ?
Será que a condição de ocupação e domínio sobre um outro povo está de acordo com a declaração de independência ? Existe algum sentido para a independência de um à custa dos direitos fundamentais do outro?
Pode o povo Judeu cuja história é um registo continuo de sofrimento e permanente perseguição permitir-se ser indiferente aos direitos e sofrimento de um povo vizinho?
Pode o Estado de Israel permitir-se um sonho irrealista de um fim ideológico para o conflito em vez de perseguir um fim pragmático baseado na humanidade e justiça social?
Acredito que, apesar de todas as dificuldades objectivas e subjectivas, o futuro de Israel e a sua posição na família de nações desenvolvidas dependerá na nossa capacidade de realizar a promessa dos nossos pais fundadores tal como estão canonizadas na Declaração de Independência.
Sempre acreditei que não existe solução militar para o conflito israelo-arabe, nem do ponto de vista moral nem do ponto de vista estratégico e como uma solução é inevitável pergunto-me: Porquê esperar? É por essa razão que fundei com o meu falecido amigo Edward Said um workshop para jovens músicos de todos os países do Médio-Oriente - Judeus e Árabes.
Apesar do facto de, enquanto arte, a música não possa comprometer os seus princípios e a politica por outro lado ser a arte do compromisso, é também verdade que noutro ponto de vista quando a politica transcende os limites da existência presente e ascende à mais alta esfera do possível, pode aí ter a companhia da música. A música é a arte do imaginário por excelência, uma arte liberta dos limites impostos por palavras, uma arte que toca a profundidade da existência humana, uma arte que atravessa todas as fronteiras. Como tal a música pode levar os sentimentos dos Israelitas e Palestinianos a novas e inimagináveis esferas.
Decidi assim doar o montante deste prémio para a realização de projectos de educação musical em Israel e em Ramallah.
É este homem fantástico que vai estar na Gulbenkian para falar-nos do seu livro. Se estiver minimamente perto deste discurso será provavelmente um momento que não vou esquecer.