Dizia Lavoisier que na natureza nada se perde tudo se transforma. Neste blog acreditamos que pelo menos nada se deve perder e como tal vamos abrir aqui uma das nossas excepções para falar de música que não é "clássica".
Fomos ontem à noite ouvir na Fábrica da Pólvora (a propósito um local que se recomenda em absoluto) um grupo composto por dois jovens músicos precisamente chamados Lavoisier e precisamente pela razão que apresentamos, o que desde logo nos encantou. Gostamos ainda mais de os ouvir falar da recolha de música popular de Fernando Lopes Graça e a partir daí o nosso coração estava conquistado.
Na verdade a recuperação que estes jovens fazem de temas populares portugueses (de cantos de trabalho e outros) é verdadeiramente notável. Notável não só pela originalidade, pela qualidade vocal e instrumental mas sobretudo (e é o mais importante) pela emoção que conseguem transmitir à audiência. Mesmo a "vulgar" Machadinha (sim é mesmo o que estão a pensar e sim tiveram a "coragem" de a interpretar) ganha uma dimensão diferente que não consigo qualificar: Que nos leva directamente para uma Portugalidade profunda mas sem ser pela porta do passado ou da saudade; é para o futuro que se dirigem.
E é para futuro porque como também nos confessaram bebem (ou comem como referiram) em outras culturas. E fazem-no bem porque ouvi uma versão de uma canção do Milton Nascimento que já ouvi centenas de vezes cantada pela Elis Regina e digo-vos que o que ouvi não ficou nada a dever a essa interpretação.
Como sempre neste blog (ou quase sempre) tem que existir música para ilustrar o que vos digo e por isso neste caso vos proponho uma das minhas preferida da noite: Senhora do Almurtão (da outra infelizmente não encontro gravação mas a versão que ouvi de Vala, Vala, Vala é simplesmente transcendental).
Apontem assim o vosso browser para aqui e oiçam logo a primeira faixa ...
Ainda a propósito destes jovens deixem-me só repetir-vos o que vem escrito no booklet do disco (ainda artesanal infelizmente - infelizmente note-se não pela produção mas porque mereciam ser editados ... ). O que vos vou repetir é o texto de Fernando Lopes Graça
"Porque amamos nós a nossa canção popular e porque entendemos que a devem amar os portugueses? Em primeiro lugar porque é bela. No entanto forçoso reconhecê-lo, a sua beleza, a sua indiscutível qualidade estética está ainda a bem dizer por descobrir, e não é nos espécimes correntemente tidos e apreciados na cidade como típicos e representativos do nosso folclore que podemos descobrir essa beleza essa qualidade estética".
Pois bem sabe bem dizer que está agora Lopes Graça "enganado", pois agora é possível descobri-lo mesmo na cidade ...