Se a história do Concerto para Violoncelo de Schumann é bastante original com vários maestros e interpretes a acharem que podiam melhorar a obra do compositor a história que rodeia o concerto para violino então é absolutamente esoterica.
O concerto foi composto em 1853 apenas meses (Outubro) antes do compositor ter tentado o suicídio atirando-se ao rio (Fevereiro de 1854). Este período coincidiu com o aparecimento de Brahms na vida do compositor. Este facto viria a estar ligado à história do concerto. Este foi escrito para o grande violinista Joseph Joachim de que já falamos muitas vezes neste blog. Na realidade nesta altura todos os grandes compositores românticos ao escreverem um concerto para violino não poderiam deixar de pensar neste instrumentista. O facto é que Schumann entregou o manuscrito ao interprete e este depois de o ter ensaiado uma vez na corte de Hanover não mais lhe tocou (como aliás fez a muitas outras obras) tendo depositado o manuscrito do mesmo na Biblioteca do Estado da Prússia. Joseph Joachim considerava que a obra era mórbida e o produto já não do génio do compositor mas sim da sua loucura. A história na verdade e um pouco mais complicada dado que Clara Schumann que no inicio pensava que a obra merecia ser publicada acabou por concordar com Joachim atribuindo-lhe a guarda do manuscrito e dando-lhe instruções para que este não fosse publicado (apesar da opinião contrária de Brahms e note-se que Brahms tinha conhecido Schumann precisamente graças a Joachim). Joachim limitou-se assim a cumprir escrupulosamente os desejos da viúva de Schumann.
O facto é que o manuscrito ficou assim arrumado e não fosse uma brilhante violinista Jelly d'Aranyi (1895-1966) - por acaso amiga de Elgar (o grande compositor britânico que considerava Schumann "o seu ideal") ser também espirita (pronto aqui vendo-vos a história como ela é contada :-)). Facto é que o manuscrito foi re-descoberto em 1933.
Até 1937 nada mais aconteceu altura em que o editor enviou a Menuhin a partitura para obter uma opinião. Menuhin interpretou o concerto e respondeu dizendo que era o "elo" que faltava na história dos concertos para violino e preparando-se para a sua estreia. Porém foi interrompido no processo precisamente por Jelly d'Aranyi que reclamava o direito de estrear o concerto.
Se acham que esta história é curiosa esperem porque não acaba aqui. Lembremos que estávamos nessa altura em pleno Nazismo na Alemanha e que o concerto para violino de Mendelssohn ( que era judeu) tinha acabado de entrar na lista das obras proibidas. Logo este concerto de Schumann era ideal para a necessária substituição e respectiva proclamação da superioridade ariana. Sendo assim obviamente não poderia nunca ser estreado por um outro judeu (Menuhin - seria uma desgraça). Tinha de ser estreado na Alemanha por um solista alemão uma orquestra alemã e um maestro alemão: tudo na mais pura tradição ariana.
Foi assim que a obra finalmente viu a luz do dia a 26 de Novembro de 1937 sendo solista Georg Kulenkampff com a Filarmónica de Berlim dirigida por Karl Böhm. Claro que este começo como obra de propaganda, de que obviamente não tinha culpa absolutamente nenhuma, também não ajudou ao seu reconhecimento uma vez a guerra terminada.
Felizmente Menuhin acabou por conseguir ultrapassar o boicote tendo estreado a obra duas semanas após a estreia na Alemanha o que contribuiu certamente para evitar que a obra ficasse tristemente associada a um estupidificante regime com o qual obviamente não tinha nada a ver.
O concerto em si segue a estrutura clássica em três andamentos. Fiquem aqui com a interpretação e gravação de 1937 de Menuhin, precisamente a segunda como acabei de vos contar.