A obra nunca foi estreada durante a vida de Schumann e muito embora não tendo sessões espíritas pelo meio não deixa de ter uma história musical muito pouco ortodoxa após o falecimento do compositor. Uma grande parte do que vos vou contar de seguida é inspirado pela excelente análise do violoncelista filandês Anssi Karttunen. Este violoncelista escreveu este texto curiosamente motivado pelo convite para vir interpretar na Casa da Música do Porto uma versão deste concerto re-orquestrada por Schostakovich a pedido do grande violoncelista Rostropovich. Podem ler este texto em Inglês aqui (se tiver tempo talvez o traduza e nessa altura o link para a tradução ficará aqui :-) ).
Este facto leva-nos desde logo ao primeiro comentário que aliás já encontramos nos textos que escrevemos sobre as obras Orquestrais de Schumann. Segundo Anssi Karttunen (e eu tendo a concordar) existe um pré-concebido muito forte quanto às capacidades orquestrais de Schumann sendo que este pré-concebido nos leva muitas vezes a simplesmente ignorar a orquestração original sem lhe dar a devida atenção. O violoncelista finlandês aponta três razões para este pré-concebidos: Primeiro a maior dimensão das orquestras que poderá levar a um som menos claro que segundo este violoncelista contribui para esconder as subtilezas da orquestração de Schumann. Em segundo lugar o desrespeito pelos tempos indicados que tornam as variações baseadas na velocidade de execução imperceptíveis (fazendo assim por vezes parecer que existem repetições dispensáveis). Finalmente em terceiro lugar a utilização de rubatto (especialmente nos concertos) reforça o anterior problema.
Por outras palavras a música de Schumann apresenta características que são bastante pouco ortodoxas e que não se coadunando bem com os arquétipos correntes da música clássica levam muitas vezes os interpretes a procurar soluções convencionais que modificam sem verdadeira necessidade o que Schumann pretendia.
O Concerto apresenta-se numa forma aparentemente "clássica" em três andamentos . Dizemos numa forma aparentemente clássica dado que é óbvio pelas notas de Schumann que ele pretendia também nos concertos reformular a sua concepção dando-lhes uma maior unidade. Essa é uma das razões porque que tal como na quarta sinfonia de que vos falamos ontem os três andamentos são tocados sem interrupção entre eles.
O concerto foi estreado no dia 23 de Abril de 1860 ou seja quase quatro anos após o falecimento do compositor. O solista foi Ludwig Ebert que interpretou a obra com a Großherzolighen Hofkapelle Oldenburg dirigida por Karl Franze.
Os três andamentos são:
- Não muito rápido (Lá Menor)
- Lentamente (Fá Maior)
- Muito Vivo (Lá Menor – Lá Maior)
Para vos ilustrar este concerto encontrei três grandes mestres do violoncelo em intepretações completas no You Tube. Em primeiro lugar Pablo Casals Pau Casals, com a Orquestra do Festival de Prades dirigida por Eugene Ormandy (uma gravação de 1953). Primeira Parte, Segunda Parte, Terceira Parte.
Depois Jacqueline Dupré (uma das professora do violoncelista finlandês de quem temos vindo a utilizar a análise), orquestra dirigida por Barenboim : Primeira Parte, Segunda Parte, Terceira Parte
E finalmente uma interpretação de Rostropovich com a Orquestra Nacional de França dirigida por Leonard Bernstein. Primeira Parte, Segunda Parte, Terceira Parte, Quarta Parte.
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