domingo, 6 de janeiro de 2013

Afinal a ignorância também não conhece fronteiras

No seu blog The Rest is Noise que citamos frequentemente Alex Ross escandaliza-se pelo facto de numa review anual de músicos que faleceram no presente ano feita pelo New York Times Magazine, edição que consiste numa colagem das músicas que  estes protagonizaram, não constar nenhum músico de música clássica sobretudo diz ele num ano em que perdemos vultos como Fischer-Dieskau só para dar um exemplo.

Porque Alex Ross é um critico influente os editores responderam-lhe mas as emendas e as justificações foram piores que o soneto. Vale a pena ler para constatar que afinal a ignorância e a vil cedência às aparências da relevância mediática como se não houvesse lugar para mais nada não se passa só por aqui.

Por isso é que a crise que vivemos não é apenas nossa é global. É uma crise que resulta da falta de outro critério que não seja o do sucesso imediato e de pacotilha. E falo da música mas não só porque como no filme, além de chapéus também há muitas embalagens bonitas e plásticos que escondem a falta de substância em muitas outras áreas.

Como no subtítulo deste blog, a única música que precisa de embalagem é a de plástico, diria filosoficamente que a única politica que precisa do mesmo é também ela a de plástico. O problema meus amigos é que distinguir a embalagem do resto dá trabalho e valha a verdade infelizmente na música como na politica nos deixamos iludir demasiadas vezes com o bonito laço colorido.


A pesquisa da Semana (#01 de 2013) -. Qual a melhor Sinfonia de Mozart?

Bom de todas as pesquisas que foram feitas no site no total de 192 eleger uma não é fácil. Muitas houve que tiveram a sua resposta imediata porque foram sobre listas de músicos ou de maestros ou de obras, tudo coisas que já estão publicadas e que por isso esperamos que tenham sido apreciadas.

Das que não obtiveram resposta porque simplesmente nunca abordei esse assunto a que chamou a minha atenção foi: Qual a melhor sinfonia de Mozart ? 

Em primeiro lugar convirá referir que Mozart compôs um número indeterminado de sinfonias. Este número é indeterminado por duas razões: Em primeiro lugar algumas sinfonias que lhe são ainda atribuídas são de origem discutível. Em segundo lugar existem alguma sinfonias que se crê terem sido efectivamente compostas mas cujas partituras estão perdidas. Em terceiro lugar e por fim existem alguma obras incompletas.

Feitas as contas Mozart não chega a Haydn e as suas 106 Sinfonias mas ultrapassa largamente Beethoven e as suas nove. Diremos prudentemente que Mozart terá composto entre 40 a 50 Sinfonias. Mozart compôs a sua primeira Sinfonia K. 16 com apenas 8 anos. Não é um erro tipográfico eu escrevi mesmo OITO anos. Em três andamentos apenas (portanto ainda sem a forma que viria a caracterizar definitivamente o género) mas já uma obra notável. São apenas cerca de 12 minutos de música, portanto longe ainda da duração "normal" deste tipo de obra mas ainda assim, ainda assim ...

A ultima que Mozart compôs data de 1788 mas desta obra iremos falar daqui a pouco porque faz parte da nossa lista de 4 recomendações sinfónicas de Mozart.

Estabelecidos os limites com a primeira e da ultima obra concebidas  voltemos então à questão que nos atormenta, qual a melhor? Na verdade não conseguimos responder com uma única obra mas antes com um conjunto de 4 que são todas dignas de figurar num top de Sinfonias. Notem ainda que iremos nesta lista considerar uma obra que tecnicamente não é uma Sinfonia mas também não é propriamente um concerto e logo ...

Na nossa lista de Sinfonias de Mozart a não perder a primeira a merecer esse epíteto seria a Sinfonia nº 38 (K. 504) denominada normalmente como a Sinfonia de Praga dado ter sido composta em 1786 e estreada em 1787 em Praga umas semanas após a estreia da ópera bufa  Le Nozze de Figaro. É uma sinfonia em três andamentos num esquema semelhante á forma de "concerto" com um primeiro andamento rápido (embora com uma introdução lenta) seguido de um andamento lento para terminar com um presto. Tal como acontecia na época a obra não possui grande consistência em termos de conjunto sendo claro que algumas ideias foram importadas de outras obras.

A segunda sinfonia que proporíamos para as melhores Sinfonias de Mozart seria a Sinfonia Nº 40 ou a Grande Sinfonia em Sol Menor (K. 550) assim chamada para a distinguir da única outra sinfonia também numa tonalidade menor (Sinfonia nº 25 - K. 183). O inicio desta sinfonia é tão conhecido que dificilmente não o terão ouvido pelo menos uma vez ainda que não sabendo tratar-se desta obra. Por isso antes de continuarem a ler oiçam a melodia que estabelece desde logo o seu carácter; nas palavras do recém falecido Charles Rosen : "Uma obra de paixão, violência e dor". A obra foi composta em 1788 e embora exista o mito que poderia nunca ter sido ouvida pelo compositor na verdade o facto de existirem revisões à mesma demonstra quase que inequivocamente que o compositor teve na verdade oportunidade de ouvir a sua obra interpretada. É uma sinfonia em quatro andamentos no formato canónico para uma sonata do período clássico. Um primeiro andamento rápido em forma de Sonata, um segundo andamento lento, o terceiro andamento um minueto com trio para terminar quarto andamento rápido neste caso marcado Allegro Assai. Sem prejuízo do resto da Sinfonia mesmo eu que não sou propriamente um fã de Mozart devo dizer-vos que o primeiro andamento desta Sinfonia está entre os meus preferidos. A intensidade dramática conseguida pela repetição do tema com pequenas variações cada uma delas mais triste que a anterior é simplesmente genial. Gozem agora a Sinfonia completa, são cerca de 30 minutos de perfeição.



A terceira Sinfonia que vos diria que colocaria na lista das melhores de Mozart é a Sinfonia imediatamente seguinte Sinfonia nº 41 (Júpiter) nome que não é de Mozart mas do editor o famoso Johann Salomon de que falamos a propósito de Haydn. Embora o inicio não seja tão facilmente identificável como no caso anterior estou seguro que se trata de uma obra que também conhecem porque continua a ser tal como a anterior muito frequentemente interpretada. A K. 551 é composta também por 4 andamentos na mesma disposição clássica. Um dos temas do primeiro andamento é daquelas melodias que não nos sai da cabeça uma vez que os ouvimos. Estreada também em 1788 esta obra é a ultima Sinfonia escrita por Mozart antecendendo em menos de 2 anos a sua morte. Vale a pena ouvi-la na sua totalidade.

A quarta obra que coloco nesta lista é uma pequena liberdade poética dado que se trata de um género misto entre o concerto para um instrumento solista e a sinfonia em que não existe instrumento solista. Trata-se da Sinfonia Concertante para Violino, Viola e Orquestra (K. 364) composta em 1779 em três andamentos no formato canónico de um concerto do período clássico. Embora existam dois instrumentos solistas a verdade é que a sua predominância não é tão grande como nos Concertos normais daí esta ser considerada uma forma híbrida entre a Sinfonia e o Concerto. Deixo-vos com uma versão completa desta Sinfonia.


E agora qual destas quatro será a melhor? Pois não sei ... Se tivesse de escolher apenas uma se fosse pelo conjunto escolheria a Sinfonia Concertante. Se pudesse escolher um andamento apenas escolheria o primeiro da Nº 40. Estando à espera que termine a preparação da próxima grande votação vamos colocar este tópico à vossa consideração. Destas quatro Sinfonias de Mozart qual consideram a melhor? Ou a vossa escolha seria outra? A votação vai ser colocada de imediato ...

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