Como o prometido é devido vou falar-vos hoje do recital destes dois extraordinários interpretes que ouvi ontem à tarde no salão Nobre do Colégio Moderno, uma iniciativa que se saúda da escola de música do referido colégio.
Para quem estiver interessado (não sei se ainda existem vagas enquanto ouvinte) recomendo que se inscrevam nas Master Classes que Gwendolyn Masin está a dar em Lisboa até Sábado (?). Não tenho mais informações mas certamente se ligarem para o Conservatório Nacional vos saberão informar.
Quanto ao recital de ontem relembrou-me a razão pela qual digo sempre que música é para ser ouvida e vista ao vivo. Isto relembra-me também uma promessa que fiz sobre um post relativo à influência das gravações nesta forma de arte, vou tentar aproveitar o Carnaval para o fazer.
Mas voltando ao tema do recital depois destes parênteses todos. Um programa quase todo de música francesa (ou franco-belga se preferirmos) com Bartok e as suas danças romenas no fim. Estranha escolha sobretudo para terminar. Não teria sido a minha escolha embora do ponto de vista de lógica não deixe de ser bem visto numa perspectiva de ilustração de duas escolas nacionais do início do século XX.
O programa começou com a Sonata de Claude Debussy curiosamente a ultima obra do compositor composta em 1917 um ano portanto antes de falecer (era suposto vir a fazer paarte de uma série de seis sonatas mas apenas a primeira foi composta). Como devem entender não vos posso mostrar o que ouvi ontem mas aqui fica numa gravação de um outro interprete. Notem porém que esta mesma composição quando interpretada por Gwendolyn Masin é diferente. Aliás se houve uma coisa que gostei particularmente no recital de ontem é que nenhum dos artistas em palco se furtou à sua interpretação individual das peças em questão. E é por isso que ao vivo é mesmo outra coisa. A paixão, os sentimentos expressos estão no som produzido obviamente mas também na presença à nossa frente. A recriação de uma obra é um momento único. escolhi uma interpretação de Christian Ferras que não poderia ser mais diversa que a excelente interpretação que ouvi ontem. Ambas excelentes, totalmente diferentes.
Seguiu-se a Sonata Op. 13 de Fauré de que também gostei especialmente. Esta sonata é belíssima (gosto mais do que a anterior de Debussy), neste caso escolhi um jovem violinista, Joshua Bell para a ilustração.
A segunda parte do recital começou com um clássico da escola de violino franco-belga, a Sonata nº3 para violino solo de Ysaÿe, uma obra fantástica e com uma interpretação musical extraordinária, verdadeiramente original. Neste caso mostro-vos Vengerov e garanto-vos que o que ouvi ontem não fica atrás.
Ia quase dizer por fim porque na verdade para mim o programa deveria ter terminado aqui (não porque a ultima peça não fosse interessante - adoro as Danças Romenas) mas porque a Tzigane de Maurice Ravel foi uma tal epopeia de emoções que depois disso aquelas danças souberam a pouco. Foi sem dúvida de todas as peças interpretadas aquela de que mais gostei (também é a que conheço melhor admito). Grande, grande interpretação. E volto a salientar interpretação. Aquele momento não mais será repetido. Posso mostra-vos outras gravações que serão sem dúvida excelentes que poderão até também fazer-vos sentir o mesmo tumulto emocional mas aquele momento não será mais repetido. Que final! Mas como não quero que fiquem prejudicados por não terem estado naquela sala as gravações têm esta vantagem :-) Posso mostrar-vos uma outra interpretação de fazer rir e chorar as pedras da calçada, Henryk Szeryng.
Por fim as Danças Romenas (eu teria colocado-as a separar Ysaye da Tzigane em termos de programa mas enfim percebo a intenção) aqui numa interpretação de Szigeti.
Como encore tivemos ainda direito a uma memória de Heifetz ... a Hora Staccato. E agora já lamentam não ter estado connosco? Eu que fui um pouco numa decisão de ultima hora posso dizer-vos que este recital me libertou de todo o stress do dia ... Absolutamente fantástico.
Sem comentários:
Enviar um comentário