segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Shinichi Suzuki - Verdade ou mentira ? A única certeza é o mau jornalismo

Em Janeiro de 2009 contava-vos a história do homem que democratizou o ensino de um instrumento e provavelmente inspirou dezenas de outros a fazerem o mesmo, neste artigo sobre Shinichi Suzuki (1898-1998).

Esta semana leio no dia 25 de Outubro este artigo do teoricamente insuspeito Telegraph. O meu primeiro comentário relativamente a esta noticia é que fica provado que o problema do mau jornalismo não se encontra limitado a Portugal. E explico a razão deste meu comentário que me perdoem os meus amigos jornalistas (e são alguns).

O problema com este artigo é que se coloca ao serviço dos que sempre atacaram o método desta vez colocando em causa o passado do Suzuki como se isso justificasse de alguma forma o mérito ou demérito do método quando nada no que é ensinado hoje em dia depende efectivamente desse passado. Ou seja nem sequer quero por em causa a veracidade ou falsidade da fonte citada, o facto é que se se utiliza esse argumento para colocar em causa a validade do método então diria eu que já que o infeliz japonês já não se pode defender caberia ao jornalista tentar perceber se realmente o facto relatado influi ou não no que é ensinado. Não o fazendo está a prestar um péssimo serviço.

Deixem-me assim resolver o problema por ele (Telegraph desde já fica concedida a autorização para utilizarem este texto se assim desejarem).

Como dizia em 2009 a polémica relativamente ao método sempre existiu. Sempre os puristas acusaram o mesmo de produzir autómatos sem sensibilidade musical nenhuma e sempre existiram várias teorias sobre os danos futuros do mesmo - ou seja quem por ele aprendesse seria incapaz de mais tarde interpretar correctamente e seguir profissionalmente uma qualquer carreira enquanto violinista.

O método baseia-se na repetição mas não é verdade que seja necessário começar aos 5 anos ou menos. Pode-se começar mais tarde e até pode ser utilizado em adultos. É um método que se foi aperfeiçoando e que nas suas versões mais recentes incorpora muitas das técnicas clássicas sobretudo a partir de um nível em que efectivamente isso faz sentido. É um método que essencialmente elimina as dificuldades dos primeiros passos tornando a aprendizagem menos solitária (através de aulas de grupo regulares) e menos competitiva (incentivando a colaboração entre alunos). É um método que procura resolver no caso do Violino a relação com o instrumento numa posição pouco natural. Não é a única forma de começar? Não, não é. Será a melhor? Não sei. Mas sei que, por ter experimentado a forma clássica, pelo menos pior não será.

Sei também que todas as afirmações quanto aos vícios introduzidos são falsas. E sei-o por vários exemplos que conheço. E note-se que o método não tem por pretensão criar profissionais e que muitas vezes as crianças ou adolescentes que o querem fazer após a fase de iniciação passam a utilizar métodos mais clássicos - sem qualquer problema.

Em resumo a história de vida de Shinichi Suzuki pode até ter sido diferente da que ele contou. Não é por isso que não deixou de verdadeiramente ter inventado uma forma diferente e eficaz de democratizar o ensino do violino. Colocar num titulo de um artigo "Violin teacher Suzuki is the biggest fraud in music history, says expert" é simplesmente péssimo jornalismo.

2 comentários:

  1. Gosto muito do "says expert". É como aquelas noticias que começam "Um estudo sobre... concluiu que..." sem nunca informar dos critérios e da credibilidade.

    'Expert' deve querer dizer "esperto", e não 'especialista'. Espertos há muitos.

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  2. É isso Mário é isso ... além de não relacionar de forma nenhuma o contexto com o método ... e de voluntariamente ignorar que em muitas biografias não se menciona o conservatório (poderá ter tido aulas particulares).

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