Na semana passada um dos nossos leitores perguntou-nos o que era o Cravo Bem Temperado. Foi uma feliz coincidência dado que uma das peças que tornou famoso Glenn Gould foi precisamente esta.
O Cravo bem Temperado é um conjunto de 24 pares de prelúdios e fugas cada um dos quais numa tonalidade, ou seja um par para cada uma das tonalidades de uma escala cromática. O primeiro par é em Dó Maior o segundo em Dó Menor o terceiro em Dó Sustenido Maior o quarto em Dó Sustenido acabando numa fuga em Si Menor.
Bach deu este nome em 1722 a um conjunto de 24 peças . Mais tarde em 1742 editou um segundo conjunto com as mesmas regras (um par em cada tonalidade) mas chamou-lhe apenas 24 Preludios e Fugas. Hoje estes dois conjuntos são designados sobre o título Cravo Bem Temperado - Primeiro e Segundo Caderno.
Apesar de não ter sido a primeira obra deste tipo na música ocidental esta teve uma influência notável na música ocidental.
Como começamos por dizer este conjunto de obras foi muito importante na consolidação de Gould como uma referência em Bach. As Variações de Goldberg foram a primeira gravação de Gould mas a integral do Cravo bem Temperado é um marco pela originalidade da interpretação. Oiçam aqui o nº 22 em si bemol menor. As gravações de Gould do nº1 e nº2 são uma das obras incluídas na nave Voyager como representantes da música da espécie humana.
Uma opinião pessoal: sou dos que são a favor das interpretações do Wohl Temperiert Klavier ao cravo, ao invés de ao piano. Embora a indicação "teclado" (Klavier) no título original da obra seja genérica, é mais razoável supor que o Mestre as tenha composto para o cravo, instrumento que dominava perfeitamente, ao invés do ainda incipiente pianoforte. O Mestre teria decerto em mente a sonoridade do cravo ao escrever os 48 prelúdios e fugas.
ResponderEliminarOlá sou Tna... gosto muito de música.
ResponderEliminarsou compositora de vários estilos...
o que mais gosto é o reggae...
gosto de produção e todos estes afins... seu blog é interessantíssimo... estou começando o meu onde colocarei algumas letras minhas e de amigos.
se puder dar-nos uma força, comapareça por lá... será um prazer.
Além de Antal Dorati (este grande húngaro que gravou com a Royal Philharmonic as mais espetaculares Danças Eslavas de Dvořák que já ouvi), do grande operista italiano Ino Savini e do germânico Hans Swarowsky, faltaram também na lista de grande maestros Thomas Schippers (que transformou a Sinfônica de Cincinatti numa das melhores orquestras estadunidenses da sua época), o tcheco Vávlav Neumann (muito respeitado) e, quem sabe, o inglês Sir Christopher Hogwood, da Academy of Ancient Music.
ResponderEliminar[não resisto ao trocadilho fácil.... desculpe-me que este blog é de sério serviço público!
ResponderEliminarSe há cravos bem temperados também há cravos que temperam muito bem!]
:))))
Procurando blogs de Clássica por aí, cheguei ao seu, e que pareceu-me de muito bom nível. Isso foi ontem, 3/12. Hoje, 4/12, resolvi eu mesmo criar um blog sobre o mesmo assunto, assunto inesgotável em essência e que eu amo sem reservas.
ResponderEliminarSe quiser dar uma vista no meu primeiro e introdutório post, será muito bem-vindo.
http://melomaniamusicaclassica.blogspot.com/
Abraço.
Caro João Luís: gostaria de acrescentar ainda algo ao seu raciocínio: Não nos podemos limitar ao Cravo para a interpretação desta obra (WTK). No tempo de Bach havia outros "teclados" muito em voga, como era o caso do Clavicórdio (importantíssimo) e do Órgão. Bach também chegou a conhecer o ainda recém-nascido pianoforte (de Silbermann) e, ao que parece, gostou, embora tenha feito alguns reparos.
ResponderEliminarNão é por isso de descartar a hipótese de o WTK ter sido composto para qualquer um destes instrumentos (obviamente o pianoforte só poderia ter sido levado em conta para o 2º caderno).
Há uma gravação muito interessante de Daniel Chorzempa em que ele interpreta o WTK 1 e 2 nestes 4 instrumentos: Cravo, Clavicórdio, Órgão e Pianoforte. Para mim faz todo o sentido, pois quem conhece a obra, pode verificar que há Prelúdios e Fugas com texturas mais aproximadas de um instrumento ou de outro.
Muito grato pela força, colega Fernando! Será um enorme prazer trocar ideias e informações consigo a respeito disso que tanto amamos. Parabéns pelo óptimo e muito informativo blogue.
ResponderEliminarCaro Pianoman: de fato o cravo não era o único instrumento de teclado na primeira metade do XVIII, mas o Mestre compunha essencialmente para órgão e para cravo. As obras para órgão são em geral indicadas como tal. Havia também o clavicórdio, e é conhecido o encontro do Mestre com o pianoforte, mas a mim me parece pouco provável que ele tenha se inspirado naquela sonoridade para o WTK, mesmo para o 2º livro. Entendo o amor dos pianistas pelo pianoforte, quem sou eu para recriminá-los por assim interpretar o Mestre? Apenas adoto a opinião que quando ele usava o termo Klavier, queria dizer cravo. Não conheço ainda a gravação quádrupla por si mencionada, mas, particularmente, percebo mais sonoridade clavecenística do que pianística nas obras para "Klavier" do Mestre. Vou ver se acho a gravação. Abraço.
ResponderEliminarCaro João Luís: permita-me, cordialmente, discordar em relação ao significado do termo "Klavier" (no tempo de Bach, escrito "Clavier").
ResponderEliminarÉ do meu conhecimento que esse termo era utilizado quando se referia a todos os instrumentos de tecla, ou seja, cravo e clavicórdio (estes mais frequentemente), mas também o órgão, como aliás o meu caro amigo refere no seu 1º comentário, nomeadamente com a utilização da palavra "genérica". Quero referir também que Bach foi um dos maiores organistas do seu tempo.
Não pude deixar de reparar; o cravo bem-temperado não é mais do que o cravo com a afinação dentro dos parâmetros previstos. chamava-se temperamento ao timbre que uma certa afinação conferia ao cravo. Quando diz Cravo bem temperado não se pode subentender a obra mas sim o instrumento... Já o Livro do Cravo Bem Temperado, o antigo testamento da música para teclado, como lhe chamou Von Bülow, são as míticas obras de prelúdio e fuga sobre os 12 tons e semitons.
ResponderEliminarBach concebeu esta obra como didáctica, e durante vários anos foi com esse teor que foi classificada. Bach pretendia também provar que certas tonalidades que eram mais insólitas podiam servir para fazer boa música também!
Parabéns pelo blog, sou assíduo e gosto muito das recomendações de 5ª, já segui várias
Senhor Anónimo: venho apenas comentar algumas imprecisões que fez.
ResponderEliminarO temperamento não é o timbre, mas sim uma categoria de afinação.
A tradução usada ainda hoje em dia em Portugal de Das Wohltemperirte Clavier é O Cravo Bem-Temperado. Bem ou mal traduzido (quanto a mim, mal), refere-se à obra, ou como diz, ao Livro, pelo menos no contexto que eu e o João Luís o utilizámos (até pela sigla WTK). Nunca se subentenderia o instrumento Cravo.
Os Prelúdios e Fugas, podem ser realmente míticos, mas não são 12, e muito menos sobre tons e semitons, pois tons e semitons são intervalos. São sim 24 em cada Caderno (Livro, Volume), ou seja, um prelúdio e fuga por volume em cada tonalidade existente, perfazendo assim um total de 48.
O que Bach pretendia provar é que com esta afinação relativamente recente na altura, era possível tocar em todas as tonalidades sem ter que mudar a afinação do instrumento entre cada peça, o que não se passava com as afinações antigas (não-temperadas).
Cumprimentos
Pianoman
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